Papa Francisco à Cúria Romana: "Profissionalismo, serviço e santidade"
Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco recebeu em audiência neste sábado,
na Sala Clementina, no Vaticano, os membros da Cúria Romana, por ocasião das felicitações
natalinas.
Eis o texto do Santo Padre, na íntegra.
Senhores Cardeais, Amados
irmãos no episcopado e no sacerdócio, Amados irmãos e irmãs!
O Senhor concedeu-nos
a graça de fazermos uma vez mais o caminho do Advento, tendo rapidamente chegado aos
últimos dias que precedem o Natal, dias permeados dum clima espiritual único, feito
de sentimentos, recordações, sinais litúrgicos e não litúrgicos, como o presépio.
Neste clima, situa-se também o tradicional encontro convosco, Superiores e Oficiais
da Cúria Romana que prestais diariamente a vossa colaboração para o serviço da Igreja.
A todos vos saúdo cordialmente; seja-me permitido que saúde de modo particular o Arcebispo
Pietro Parolin, que há pouco começou o seu serviço como Secretário de Estado e precisa
das nossas orações!
Ao mesmo tempo que temos os nossos corações repletos de
gratidão a Deus, que nos amou até ao ponto de entregar o Filho Unigénito por nós,
é bom dar espaço à gratidão também entre nós. E, neste meu primeiro Natal como Bispo
de Roma, sinto necessidade de vos dizer um grande «obrigado» a todos, como comunidade
de trabalho, e a cada um pessoalmente. Agradeço-vos pelo vosso serviço de cada dia:
pelo cuidado, a diligência, a criatividade; pelo empenho, nem sempre fácil, em colaborardes
no departamento ouvindo-vos, confrontando-vos, valorizando as diferentes personalidades
e qualidades no respeito recíproco.
De forma particular, desejo exprimir a
minha gratidão àqueles que, neste período, terminam o seu serviço e passam à reforma.
Bem sabemos que, como presbíteros e bispos, nunca se vai para a reforma; mas do serviço,
sim. E é justo; até para se dedicar mais à oração e ao cuidado das almas, a começar
pela própria! Assim, um «obrigado» especial, que me vem do coração, para vós, amados
irmãos que deixais a Cúria, sobretudo para vós que aqui trabalhastes durante tantos
anos e com grande dedicação, sem dar nas vistas. Isto é verdadeiramente digno de admiração.
Muito admiro estes Monsenhores que seguem o modelo dos antigos curiais, pessoas exemplares…
Mas hoje também os temos! Pessoas que trabalham com competência, precisão, abnegação,
realizando cuidadosamente o seu dever quotidiano. A minha vontade era nomear aqui
algum destes nossos irmãos para lhes exprimir a minha admiração e gratidão, mas sabemos
que, numa lista, os primeiros que se notam são aqueles que faltam e, ao fazê-lo, corro
o risco de esquecer alguém e cometer assim uma injustiça e uma falta de caridade.
Contudo quero dizer a estes irmãos que constituem um testemunho muito importante no
caminho da Igreja.
A partir deste modelo e deste testemunho deduzo as características
do Oficial de Cúria, e mais ainda do Superior, que gostaria de sublinhar: o profissionalismo
e o serviço.
O profissionalismo, que significa competência, estudo, actualização…
Isto é um requisito fundamental para trabalhar na Cúria. Naturalmente, o profissionalismo
vai-se formando e, pelo menos em parte, adquire-se; mas, precisamente para que se
forme e seja adquirido, penso que é preciso haver, desde o início, uma boa base.
E
a segunda característica é o serviço, serviço ao Papa e aos bispos, à Igreja universal
e às Igrejas particulares. Na Cúria Romana, de um modo especial aprende-se, «respira-se»
precisamente esta dupla dimensão da Igreja, esta interpenetração entre universal e
particular; e penso que esta seja uma das mais belas experiências de quem vive e trabalha
em Roma: «sentir» assim a Igreja. Quando não há profissionalismo, lentamente vai-se
escorregando para o nível da mediocridade. A resolução dos casos reduz-se a informações
estereotipadas e comunicações sem fermento de vida, incapazes de gerar horizontes
grandes. Por outro lado, quando o procedimento não é de serviço às Igrejas particulares
e seus bispos, então cresce a estrutura da Cúria como uma alfândega pesadamente burocrática,
inspectora e inquisidora, que não permite a acção do Espírito Santo e o crescimento
do povo de Deus.
A estas duas qualidades, profissionalismo e serviço, gostaria
de acrescentar uma terceira, que é a santidade de vida. Bem sabemos que esta é a mais
importante na hierarquia dos valores. Efectivamente, está na base também da qualidade
do trabalho, do serviço. Santidade significa vida imersa no Espírito, abertura do
coração a Deus, oração constante, humildade profunda, amor fraterno nas relações com
os colegas. Significa também apostolado, serviço pastoral discreto, fiel, realizado
com zelo no contacto directo com o povo de Deus. Isto é indispensável para um sacerdote.
Santidade, na Cúria, significa também objecção de consciência às murmurações!
Nós, justamente, insistimos muito sobre o valor da objecção de consciência, mas talvez
devamos exercitá-la também para nos defendermos de uma lei não escrita que, infelizmente,
existe nos nossos ambientes: a das murmurações. Então, façamos todos objecção de consciência!
E olhai que não pretendo, com isto, fazer apenas um discurso moral; as murmurações
lesam a qualidade das pessoas, do trabalho e do ambiente.
Queridos irmãos,
sintamo-nos todos unidos neste último pedaço de estrada para Belém. Nisto pode fazer-nos
bem meditar sobre o papel de São José, tão silencioso e tão necessário junto de Nossa
Senhora. Pensemos n’Ele, na sua solicitude pela Esposa e o Menino. Isto é de grande
inspiração para o nosso serviço à Igreja! Por isso, vivamos este Natal espiritualmente
unidos a São José.
Muito obrigado pelo vosso trabalho e, sobretudo, pelas vossas
orações. Sinto-me deveras «levado» pelas orações, e peço-vos que continueis a sustentar-me
desse modo. Também eu vos recordo ao Senhor e abençoo, desejando um Natal de luz e
de paz para cada um de vós e vossos entes queridos. Feliz Natal!