Rio de Janeiro (RV) - A celebração do Natal nos contagia a todos. Festas, presentes,
visitas, cânticos, enfeites, solenidades, gestos de carinho e de caridade se espalham
pelo mundo. Mesmo para os não cristãos é uma data que chama a uma experiência de vida
partilhada e a ideais de vida que todos trazemos em nossos corações.
O contágio
com o bem que ocorre no Natal nestes últimos tempos é campo de uma questão de comercialização
e de lucros. Creio que é tempo de retomar a primeira razão, a primordial, pela qual
celebramos o Natal, que é o nascimento de Jesus, o Verbo Eterno do Pai que se fez
homem no seio da Virgem Maria em Belém de Judá, uma pequena cidade perdida no Oriente
Médio, mas que era o foco das profecias do local do nascimento do Messias.
Vejo
com esperança que os presépios pelas praças, ruas e avenidas, apesar das dificuldades
logísticas e de autorizações, continuam a ocorrer em nossa cidade. Alguns centros
de compras começam também a colocar em seus salões de entrada não só os enfeites de
um natal “genérico”, mas estão tendo a coragem de recordar o que realmente se comemora
nessa época.
As igrejas, que em geral já “montam” seus presépios no interior
das mesmas, já há alguns anos começaram a mostrá-los em suas escadarias, fachadas,
pátios de tal forma que as pessoas que passam pelas ruas e avenidas possam refletir
sobre o mistério do Natal que celebramos.
Porém, esses sinais que ajudam a
pensar no Natal de Cristo e com Cristo supõem outro passo importante que neste ano
somos chamados a dar: a proximidade de Deus! Jesus é a imagem do Deus invisível. Ele
é a boa notícia que alegra o coração de todas as pessoas: “eu vos anuncio uma grande
alegria”! É a Ele que se refere também o Papa Francisco em sua exortação apostólica:
“A alegria do Evangelho”, e o Evangelho, a Boa Notícia, é o próprio Jesus, o Verbo
encarnado, feito homem para a nossa salvação.
Essa proximidade de Deus, o totalmente
outro, celebrada no Natal é ainda mais bela: uma criança em uma manjedoura simples
em uma pequena cidade. Ninguém tem medo de se aproximar, pelo contrário, sente-se
chamado a estar próximo! É essa proximidade d’Aquele que tudo criou e que sempre existiu
e existirá que nos faz confiantes e orantes. Podemos nos aproximar, falar, ouvir,
estar próximo desse Deus que se revelou a nós!
Em tempo de incredulidade e
distanciamentos, em tempos que muitas vezes falamos de um Deus como princípio de todas
as coisas ou a razão última de tudo que nossos conceitos filosóficos nos conduzem,
celebrar o Na tal é ter diante da vida o grande mistério da encarnação: “o Verbo se
fez carne e habitou entre nós”!
Essa proximidade de Deus nos faz encontrá-Lo
também nos irmãos e irmãs: “o que fizerdes ao menor dos meus irmãos é a mim que fareis”
nos coloca ainda mais diante da proximidade d’Ele. Eis que O encontramos, além da
Palavra, Eucaristia, também nos irmãos e irmãs que estão ao nosso lado e a quem somos
chamados a amar.
Contemplar os presépios espalhados pelas igrejas e pela cidade
já é um passo para retomarmos o verdadeiro sentido do Natal, mas essa contemplação
deve nos conduzir a viver a proximidade do “Deus Conosco” e “Salvador” que nos conduz
a compartilhar esperança e vida com os nossos irmãos e irmãs, em especial aqueles
que mais sofrem e são excluídos.
Nesse sentido, o Ano da Caridade que a nossa
Arquidiocese inaugura com a solenidade de São Sebastião, “discípulo do amor e da caridade”
deverá ser a nossa resposta concreta à celebração natalina que vivemos nestes dias,
pois, “se não tiver caridade de nada adianta”.
Depois de uma bela preparação
no Advento, com liturgia própria, em especial nesta última semana, a celebração penitencial
nos dando a reconciliação e renovando nossa vida cristã, a oração e reflexão da novena
de Natal e os atos concretos (tivemos a partilha generosa de muitos com relação aos
que sofreram com as enchentes) devem ter nos preparado para celebrar cristãmente o
Natal.
Não será apenas uma festa externa, sem a razão principal, apenas feita
de momentos vazios que se perdem no dia seguinte, mas sim de uma presença próxima
que nos acalenta o coração e nos torna novos para acolhermos o outro que passa ao
nosso lado.
Um Santo e Feliz Natal para todos os nossos queridos diocesanos!
†
Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio
de Janeiro, RJ