Pe. Spadaro sobre a canonização de Pedro Fabro: sua abertura mental e espiritual é
a mesma do Papa Francisco
Cidade do Vaticano (RV) - Diálogo, discernimento, fronteira. As três palavras-chaves
de São Pedro Fabro evocam imediatamente a ação pastoral do Papa Francisco. Uma sintonia
que é ressaltada pelo diretor da revista jesuíta La Civiltà Cattolica, Pe.
Antonio Spadaro, que em vista dessa canonização publicou o volume "Pedro Fabro. Servidor
da consolação". A Rádio Vaticano perguntou ao sacerdote da Companhia de Jesus qual
significado tem para os jesuítas a canonização do primeiro companheiro de Santo Inácio
de Loyola:
Pe. Antonio Spadaro:- "Tem um grande significado, porque
todos conhecem São Francisco Xavier, o segundo companheiro de Santo Inácio de Loyola;
mas Pedro Fabro foi o primeiro, tendo sido o companheiro de quarto de Santo Inácio
na Universidade de Paris, onde estudavam; foi o primeiro a aproximar-se dele, o primeiro
a fazer os Exercícios espirituais... Diria que sem Pedro Fabro a Companhia de Jesus
não existiria. Portanto, é um momento muito particular e verdadeiramente importante
para nós."
RV: Pedro Fabro foi o primeiro companheiro de Inácio de Loyola e,
no entanto – isso é um fato –, ficou na penumbra por tanto tampo. Por quais motivos?
Pe.
Antonio Spadaro:- "Talvez ao longo do tempo, especialmente durante a segunda metade
do Séc. XVI, sua fama tenha sido de certo modo vítima de uma espécie de desconfiança
em relação à dimensão mística, que mesmo na Companhia de Jesus fez brecha em favor
de uma atitude mais ascética do que mística. Ao invés, Pedro Fabro é uma figura mística,
podemos dizer até mesmo difícil de compreender plenamente: é um pouco complexa. Todavia,
a devoção jamais se perdeu ao longo do tempo. Na realidade, o próprio Santo Inácio,
mais do que celebrar sufrágios por ele, celebrou missas de alegria, de triunfo, e
até mesmo São Francisco Xavier, assim que Pedro Fabro morreu, acrescentou o nome dele
na Ladainha de todos os Santos..."
RV: O primeiro companheiro de Santo Inácio
é assim canonizado pelo primeiro Papa jesuíta: por que a figura de Fabro é tão amada
por Jorge Mario Bergoglio?
Pe. Antonio Spadaro:- "Por que o Papa gosta
tanto de Fabro? Ele mesmo respondeu-me substancialmente com uma lista de razões: o
diálogo com todos, inclusive os com os que se encontram mais distantes, os adversários;
a sua piedade simples, diria popular; uma certa ingenuidade – o próprio Papa definiu-se
um pouco ingênuo, um pouco sagaz –; a sua disponibilidade imediata; mas sobretudo
duas coisas que considero realmente fundamentais: a sua atitude de discernimento interior
e o fato de ser um homem de grandes e fortes decisões, mesmo sendo uma pessoa muito,
muito afável."
RV: O que encontramos na ação pastoral do Papa Francisco que,
podemos dizer, é característico de Pedro Fabro?
Pe. Antonio Spadaro:-
"Encontramos muita coisa: no trato humano, na espiritualidade... Fabro era um homem
muito aberto à experiência e à vida; sobretudo, era um homem sem barreiras mentais,
sem preclusões. Amante da reforma da Igreja, sabia que era necessário muito tempo
e fundava na amizade o seu desejo de reforma. Um dia, por exemplo, sentiu interiormente
que deveria rezar, ao mesmo tempo, pelo Papa, por Lutero, por Henrique VIII e por
Solimão II. No mais, Fabro viveu num clima fluido e agitado na primeira metade do
Séc. XVI parisiense, e é portador de uma sensibilidade moderna que hoje vibra em consonância
com a nossa. Portanto, encarnou uma abertura mental e espiritual em relação aos desafios
de sua época, que muito nos recorda o impulso missionário do Papa Francisco." (RL)