Juiz de Fora (RV) - As leituras do terceiro domingo do Advento nos põem na
pista do que está por vir. Não significa dizer que recebemos uma lista dos futuros
acontecimentos ou uma representação da identidade do Messias para que reconheçamos
o enviado de Deus em qualquer lugar que o encontremos. Mas algumas informações nos
são ditas.
A leitura do profeta Isaias nos faz abrir os olhos para nos sentirmos
maravilhados. Aquele que está por vir e aquilo que irá acontecer quando ele chegar
não tem comparação na história da humanidade. Tudo o que o profeta conhece vai mudar
radicalmente. Até o deserto florescerá.
É necessário recontar que a Palestina
é uma terra cercada por desertos e, assim, isso seria praticamente impossível, mas
o profeta sabia muito bem do que estava falando.
E não apenas os desertos irão
florescer. Aquele que chega nos livrará do temor e do medo, devolverá a visão aos
cegos e os surdos voltarão a ouvir. Dito de outra maneira, aqueles que, pelo pecado,
tinham se tornado incapazes de se comunicar com o mundo, que tinham permanecido cegos
e surdos diante de Deus, que os ama e os chama para a salvação, recuperarão esses
sentidos e voltarão a ver e a ouvir o chamado de Deus. Os libertos de todas as formas
de escravidão darão pulos de alegria e gozarão de uma felicidade eterna refletida
em seus rostos. Isso é o que irá acontecer quando vier aquele que está a ponto de
chegar, segundo o profeta.
O Evangelho repete as mesmas ideias. Diante da pergunta
dos discípulos de João Batista a Jesus, este lhes responde: “Ide e contai a João o
que ouvistes e o que vistes” e, em seguida lhes diz praticamente palavra por palavra
aquilo que apresenta a leitura do profeta Isaias. Há, no entanto, uma diferença muito
importante. Onde o profeta Isaias emprega o futuro, Jesus fala no presente. Tudo o
que o profeta anuncia como algo a esperar, Jesus afirma que já está acontecendo. Não
apenas isso, Jesus louva João Batista. Ele foi, nas palavras de Jesus, o maior dos
profetas. Sem dúvida. Mas Jesus nos surpreende com a sua última frase: ”No entanto,
o menor no Reino dos Céus é maior do que ele.” Parece que Jesus fala do presente,
isto é, de algo que está acontecendo e é de tal forma novo que até mesmo a figura
do gigante João Batista tornou-se apagada frente a ele.
E é verdade. Jesus
tem razão. O Reino já está aqui. Deus já abriu os ouvidos dos surdos e os olhos dos
cegos. Hoje sabemos que o Advento é a recordação da espera, mas que, para nós, já
é presente. Celebramos o aniversário da chegada de Jesus. Não estamos esperando que
venha, porque já chegou. Devemos abrir os olhos para ver nossos vizinhos, amigos e
familiares: veremos um filho de Deus. O que mais pode ser o Reino?
É preciso
que tenhamos ouvidos e olhos para ver a presença do Senhor, que está próximo de nós,
que vive no nosso bairro e que mora na nossa família.
+ Eurico dos Santos
Veloso Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)