Card. Schoenborn: "Programa de Francisco está no discurso de Bento XVI em Friburgo"
Cidade do Vaticano (RV) – “No discurso de Bento XVI em Friburgo, em setembro
de 2011, está o programa do Papa Francisco, com o apelo a uma Igreja desprendida das
coisas do mundo”. Foi o que afirmou o Cardeal de Viena, Christopher Schoenborn, durante
a apresentação, na tarde desta quarta-feira, do livro “A última palavra”, da vaticanista
Giovanna Chirri, sobre Bento XVI.
“Tudo aquilo que Bento XVI disse em Friburgo
lê-se como programa do Papa Francisco. Poucos pensadores como Bento XVI deram indicações
de como comportar-se em um mundo secularizado, vivendo em uma diáspora similar àquela
dos judeus, que não deve nos dar medo”, observou o purpurado dominicano no Salão da
Obra Romana de Peregrinações.
Schoenborn aproveitou a ocasião para realizar
um teste entre os presentes, aos quais perguntou de quem seriam as palavras “sobre
a tendência contrária ao Evangelho de uma Igreja satisfeita de si mesma, que se acomodou
na sua institucionalização, ignorando o chamado a ser aberta a Deus e ao próximo?”.
“São palavras de Bento XVI, tão criticado, mas todos agora a atribuem a Francisco”,
salientou Schoenborn, para quem “entre Bento e Francisco existe uma simplicidade verdadeiramente
cristã. Se pode dizer, uma amizade”.
“Após a demissão – contou o Cardeal vienense
– encontrei Bento XVI somente uma vez, em primeiro de setembro passado, na missa que
celebrou para seus ex-alunos, de cujo encontro não participou, pela primeira vez,
em 33 anos”. “Mas permanece um caso único – acrescentou – isto de um professor que
faz a cada ano um encontro com os estudantes”. “Naquele dia – confidenciou Schoenborn
aos jornalistas – vivi a experiência singular de encontrar um após outro, dois Papas.
Bento o encontrei sereno e fez de improviso uma homilia ‘pronta a ser impressa’”.
O
Cardeal recordou ainda alguns momentos difíceis do pontificado de Ratzinger, perguntando
“por que tanta incompreensão na Alemanha? Haviam escrito ‘nós somos Papa’, mas pouco
depois se envergonharam dele”. A este propósito, Schoenborn revelou que ”no Conclave
que o elegeu em 2005, nunca teve influência o fato de Ratzinger ser alemão. Este fato
– afirmou – não entrou de nenhum modo na discussão de que eu tenha conhecimento”.
“No
seminário em Frisinga, onde estudou, na biblioteca não existe nenhum livro de Ratzinger.
Na biblioteca do Domo onde foi ordenado, tão pouco. É doloroso. Isto é fruto de ignorância:
existe a soberba de não ver a grandeza de Ratzinger, mas faz parte do seu caminho
e da sua grandeza, que nunca se amargurou por causa disto”.
“Mas – observou
o Cardeal de Viena recordando o título do livro de Giovanna Chirri – não foi dita
ainda a ‘última palavra’”. É o testemunho de um homem de tamanha inteligência, um
gigante, que não por acaso conquistou Grã-Bretanha, os Estados Unidos, a África e
o Líbano, com esta humildade aliada a uma inteligência grandíssima, que não pode permanecer
ignorada”.
No século XX, mesmo que Balthasar seja autor de uma obra gigantesca,
somente ele tem a qualidade de um mestre que dura para sempre. Somente Ratzinger tem
a estatura de um clássico que poderá permanecer como Agostinho e Anselmo”. (JE)