Papa aos universitários: "Não sejam espectadores, mas protagonistas dos desafios contemporâneos"
Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco presidiu a oração das Primeiras
Vésperas do I Domingo de Advento, na tarde deste sábado, na Basílica de São Pedro,
no Vaticano, com os estudantes das Universidades de Roma.
Segue, na íntegra,
a homilia do Santo Padre
Renova-se hoje o tradicional encontro de Advento com
os estudantes das Universidades de Roma, aos quais se unem os reitores e professores
das Universidades romanas e italianas. Saúdo cordialmente a todos: o Cardeal Vigário,
os Bispos, as autoridades acadêmicas e institucionais, os assistentes das Capelanias
e grupos universitários. Saúdo particularmente vocês, queridos universitários e universitárias.
O
augúrio que São Paulo dirige aos cristãos de Tessalônica, para que Deus possa santificá-los
até a perfeição, por um lado mostra a sua preocupação com sua santidade de vida colocada
em perigo, e de outro uma grande confiança na intervenção do Senhor. Esta preocupação
do Apóstolo é válida também para nós cristãos de hoje. A plenitude da vida cristã
que Deus realiza nos homens, na verdade, está sempre ameaçada pela tentação de ceder
ao espírito mundano. Por isso, Deus nos doa a sua ajuda mediante a qual podemos preservar
os dons do Espírito Santo, a nova vida no Espírito que Ele nos deu. Conservando esta
"linfa" saudável em nossa vida, todo o nosso ser, espírito, alma e corpo, se conserva
irrepreensível, na posição vertical. Mas por que Deus, depois de ter concedido seus
tesouros espirituais, ainda tem de intervir para mantê-los íntegros? Porque somos
fracos, a nossa natureza humana é frágil e os dons de Deus são preservados em nós
como em "vasos de argila".
A intervenção de Deus em favor de nossa perseverança
até o fim, até o encontro definitivo com Jesus, é expressão de sua fidelidade. Ele
é fiel primeiramente a si mesmo. Portanto, a obra que começou em cada um de nós, com
seu chamado, Ele a levará até o fim. Isso nos dá segurança e grande confiança: uma
confiança que se apoia em Deus e exige nossa colaboração ativa e corajosa para enfrentar
os desafios do momento presente. Queridos jovens universitários, a sua vontade e suas
capacidades, unidas ao poder do Espírito Santo que habita dentro de cada um de vocês
desde o dia de seu Batismo, permitem que vocês sejam não espectadores, mas protagonistas
dos acontecimentos contemporâneos.
São vários os desafios que vocês jovens
estudantes universitários são chamados a enfrentar com coragem interior e audácia
evangélica. O contexto sociocultural em que vocês estão inseridos às vezes sofre o
peso da mediocridade e do tédio. Não é necessário se resignar à monotonia da vida
cotidiana, mas cultivar grandes projetos, ir além do comum: não lhes deixem roubar
o entusiasmo juvenil! Seria um erro também deixar-se aprisionar pelo pensamento fraco
e pelo pensamento uniforme, bem como pela globalização entendida como homologação.
Para superar estes riscos, o modelo a seguir não é da esfera na qual está nivelada
toda saliência e desaparece toda diferença; o modelo é do poliedro que inclui uma
multiplicidade de elementos e respeita a unidade na variedade.
O pensamento,
de fato, é fecundo quando é expressão de uma mente aberta, que discerne sempre iluminada
pela verdade, pelo bem e pela beleza. Se vocês não se deixarem condicionar pela opinião
dominante, mas permanecerem fiéis aos princípios éticos e religiosos cristãos, vocês
encontrarão a coragem para caminhar até mesmo contracorrente. Num mundo globalizado,
vocês poderão contribuir para salvar peculiaridade e características próprias, buscando,
porém não baixar o nível ético. De fato, a pluralidade de pensamento e de individualidade
reflete a multiforme sabedoria de Deus, quando se aproxima da verdade com honestidade
e rigor intelectual, de modo que cada um pode ser um dom para o benefício de todos.
O
compromisso de caminhar na fé e se comportar de maneira coerente com o Evangelho acompanhe
vocês neste tempo de Advento, para viver de maneira autêntica a festa do Natal do
Senhor. Pode ajudá-los o belo testemunho do Beato Pier Giorgio Frassati, que dizia:
"Viver sem uma fé, sem um patrimônio para defender, sem apoiar numa luta contínua
a verdade, não é viver, mas com viver com dificuldade. Nós não deveríamos viver com
dificuldade, mas viver".