Metropolita Hilarion: "estamos prontos para preparar e trabalhar pelo encontro" entre
o Papa e o Patriarca Ortodoxo
Roma (RV) – “Nós não estamos ainda prontos para dizer quando e onde ocorrerá
este encontro, mas estamos prontos para preparar e trabalhar para este encontro”.
Foi o que precisou o Metropolita de Volokolamsk, Hilarion Alfeyev, à margem de uma
Conferência organizada pelo Pontifício Conselho para a família. O encontro, se acontecesse,
seria em um país neutro.
“Este trabalho de preparação – acrescentou o Metropolita
que é responsável pelas Relações Eclesiais Externas do Patriarcado de Moscou – deve
ser feito não somente do ponto de vista protocolar, mas sobretudo, devemos antes elaborar
o seu conteúdo”.
O Representante do Patriarcado de Moscou reiterou que as relações
entre católicos e ortodoxos estão “no caminho certo”, referindo que durante a sua
Audiência realizada nesta terça-feira com o Papa Francisco, e que durou mais de uma
hora, foi discutido, entre outros temas, as perseguições contra os cristãos, família
e Oriente Médio.
Por ocasião da apresentação nesta terça-feira do livro póstumo
de Sergei Averintsev ‘Verbo de Deus e palavra do homem’, na recém criada Academia
Sapientia et Scientia, o Metropolita Hilarion falou sobre as possibilidades
de uma maior sintonia no diálogo ecumênico entre católicos e ortodoxos nos próximos
anos.
“O grande intelectual cristão Averintsev – explicou – havia intuído já
nos anos pós-soviéticos a fatal exaustão de uma idéia de unidade entre os cristãos,
que ele mesmo definia como ‘política’ ou ‘ideológica’, isto é, “a unidade em um cristianismo
de tantos objetivos – conservadores, liberais e assim por diante -, a unidade segundo
as regras do mundo, que tende a ser uma unidade contra alguém ou alguma coisa, a unidade
de uma ‘religião sem fé, sem crença’”. Os únicos caminhos sobre os quais se pode trilhar
juntos – sugeriu Hilarion, citando Averintsev -, são, ao invés disto, aqueles que
movem-se na unidade no ‘cristianismo cristão’. A unidade de quem, mesmo com todas
as diferenças existentes, permaneceu fiel aos Sacramentos e às dinâmicas próprias
da fé cristã. A unidade de quem lê em cada palavra do Creio uma expressão da própria
fé”.
“Também hoje – prosseguiu Hilarion – a autêntica unidade entre cristãos
não pode ser reduzida a ‘união-contra’ ou reconduzida a qualquer ‘motivação ideológica,
ou pragmática ou propagandística’. Às Igrejas do Oriente e do Ocidente ‘radicadas
no cristianismo apostólico’ – observou o Metropolita - cabe a especialíssima missão
de testemunhar juntas o ‘cristianismo cristão’, de ‘professar juntas a verdade da
Cruz’. Mas esta confissão conjunta será eficaz ‘somente quando nós aprendermos a ver
uns aos outros não como adversários, como foi na época das cruzadas, nem como concorrentes,
como seguidamente acontece nos dias de hoje, mas como operários que trabalham juntos
na vinha do Senhor’. Quando aprendermos a valorizar as diferenças que caracterizam
as nossas diferentes tradições e cessarmos de buscar uniformidades exteriores”.
O
Metropolita Ortodoxo concluiu sua participação com duas citações do Papa Francisco.
Na primeira, repropôs as palavras pronunciadas pelo Papa Bergoglio no avião que o
trazia de volta do Rio de Janeiro, após a JMJ, quando afirmou que prestava uma homenagem
à alma russa, a Dostoevskij e às Igrejas Ortodoxas que “conservaram aquela Liturgia
primitiva, tão bela’. Nós - acrescentava o Papa naquela ocasião - perdemos um pouco
o sentido da adoração. Eles a conservam, eles louvam a Deus, eles adoram a Deus, cantam,
o tempo não conta”.
Na segunda citação de Francisco, Hilarion evidenciou a
passagem da entrevista de Papa à Civiltà Cattolica, onde o Bispo de Roma falava em
“querer aprender” dos Ortodoxos “sobre o sentido da colegialidade episcopal e sobre
a tradição da sinodalidade”. A reflexão sobre como se governava a Igreja nos primeiros
séculos – continuava Papa Francisco no colóquio citado por Hilarion – “dará frutos
a seu tempo”. (JE)
Trecho da entrevista do Papa Francisco aos jornalistas em
28.07.2013 – Vôo Rio de Janeiro-Roma “Nas Igrejas Ortodoxas, foi conservada
aquela primitiva Liturgia, tão bela. Nós perdemos um pouco o sentido da adoração;
elas conservam-no, elas louvam a Deus, elas adoram a Deus, cantam, o tempo não conta.
O centro é Deus, e esta é uma riqueza que gostava de sublinhar nesta ocasião em que
você me faz essa pergunta. Certa vez, falando da Igreja do Ocidente, da Europa Ocidental,
sobretudo a Igreja mais crescida, me foi dita esta frase: «Lux ex oriente, ex ocidente
luxus». O consumismo, o bem-estar fizeram-nos muito mal. Vocês, pelo contrário, mantiveram
no centro essa beleza de Deus, como referência. Quando se lê Dostoiévski – eu acho
que é, para todos nós, um autor que devemos ler e reler, porque tem uma sabedoria
– percebe-se qual é a alma russa, a alma oriental. É algo que nos fará muito bem.
Precisamos dessa renovação, desse ar fresco do Oriente, dessa luz do Oriente. João
Paulo II escreveu isso em sua Carta. Mas, muitas vezes, o luxus do Ocidente nos faz
perder o horizonte. Não sei, mas o que me ocorre dizer é isto: Obrigado!”.