Argentina: incidentes marcam ato interreligioso na Catedral de Buenos Aires
Buenos Aires (RV) - Um grupo ultraconservador católico tentou impedir nesta
terça-feira, a realização de um ato judeu-católico na Catedral da Cidade de Buenos
Aires. Rezando o Terço em alta voz, o grupo protestava contra o ato que recordava
a “Noite dos Cristais”, considerado o inicio do Holocausto judaico perpetrado pelo
nazismo.
Um sacerdote presente pediu, em nome do Arcebispo de Buenos Aires,
Dom Mario Poli, que o grupo lefebvrista – composto em sua maioría por jovens - se
retirasse do local e “não entrasse neste ato de provocação”.
O incidente foi
repudiado por autoridades diplomáticas, funcionários e representantes da comunidade
judaica, além de membros de direitos humanos e de diferentes credos religiosos.
Após
os ânimos acalmados, Dom Poli, iniciou formalmente a cerimônia, dizendo em meio a
aplausos: “Queridos irmãos judeus, sintam-se em casa porque os cristãos assim o querem,
apesar destes atos de intolerância”. “Sua presença aqui não dessacraliza um templo
de Deus. Realizemos em paz este encontro desejado pelo Papa Francisco”.
A Liturgia,
organizada pela Comissão de Ecumenismo e Diálogo Interreligioso e pela B'nai B'rith
Argentina, contou com reflexões alusivas de Dom Poli e do Rabino Abraham Skorka, Reitor
do Seminario Rabínico Latinoamericano.
O ato baseou-se no texto "Da morte
à esperanza", escrito pelo Rabino León Klenicki e peloo teólogo católico Eugene Fischer,
e foi animado pelo Coro polifônico da Sociedade Hebraica Argentina.
Do ato
interreligioso participaram também o Sacerdote Alejandro Llorente, o Rabino Jonás
Shalom (Bet Am Marc Chagall) e os Pastores David Calvo (Igreja Luterana Unida), Ester
Iglesias (Igreja dos Discípulos de Cristo), Sergio López (Igreja Dinamarquesa) e Mariel
Pons (Igreja Evangélica Metodista).
Após a leitura dos textos dos Papas Bento
XVI e Francisco, que condenam o genocídio e se solidarizam com o povo judeu, foi feito
um silêncio para recordar “outros silêncios anteriores, daquelas conciencias emudecidas
que aceitaram perseguições e foram indiferentes à degradação e aos crimes”. A seguir
foram acesas 6 velas em memória dos 6 milhões de judeus mortos pelo nazismo e recitadas
orações cristãs e hebraicas.
Na noite de 9 de novembro de 1938, grupos da juventude
hitlerista percorreram locais judeus da Alemanha, Áustria e Tchecoslováquia, quebrando
janelas de lojas, saqueando e queimando sinagogas. Calcula-se que foram destruídas
101 sinagogas e cerca de 7.500 negócios judeus, além de 91 judeus mortos e mais de
26 mil presos. (JE)