“A crise exige que se eliminem as barreiras da injustiça”: Papa Francisco no prefácio
ao livro do Cardeal Bertone
O verdadeiro desafio para o futuro da humanidade é a construção de uma paz e um desenvolvimento
que não excluam ninguém - assim afirma o Papa Francisco no seu prefácio ao livro
do Cardeal Bertone intitulado "A diplomacia pontifícia num mundo globalizado" (publicado
pela Livraria Editora do Vaticano), que será apresentado na terça-feira às 17h , na
Nova Sala do Sínodo, no Vaticano. A crise global que estamos a viver – escreve
o Papa Francisco – obriga-nos a "eliminar as muitas barreiras que substituíram as
fronteiras: desigualdades, corrida aos armamentos, subdesenvolvimento, violação dos
direitos fundamentais, discriminações, impedimentos à vida social, cultural, religiosa".
O nosso futuro, de facto, não deverá falar apenas "a linguagem da paz e do desenvolvimento",
mas deverá ser capaz de "incluir todos, na prática, evitando que alguém fique na margem". Neste
contexto - diz o Papa - a diplomacia é "um serviço, não uma actividade refém de interesses
particulares cuja lógica mas amarga consequência são as guerras, os conflitos internos
e as diferentes formas de violência; nem instrumento das exigências de poucos que
excluem as maiorias, geram a pobreza e a marginalização, toleram qualquer tipo de
corrupção, produzem privilégios e injustiças". "A profunda crise de convicções,
de valores, de ideias – observa ainda o Pontífice – oferece à actividade diplomática
uma nova oportunidade, que é ao mesmo tempo um desafio. O desafio de concorrer para
realizar entre os diferentes povos novas relações verdadeiramente justas e solidárias
em que todas as nações e todas as pessoas são respeitadas na sua identidade e dignidade,
e promovidas na sua liberdade". "Diante desta globalização negativa e paralisante
– sublinha o Papa - a diplomacia é chamada a realizar uma tarefa de reconstrução redescobrindo
a sua dimensão profética, determinando aquela que podemos chamar a utopia do bem,
e reivindicando-a, se necessário". "A verdadeira utopia do bem, que não é uma ideologia
nem apenas filantropia, através da acção diplomática pode exprimir e consolidar aquela
fraternidade presente nas raízes da família humana, e de lá chamada a crescer e expandir-se
para dar os seus frutos". E’ necessário quebrar "a lógica do individualismo".
Neste sentido - continua o Papa - "a perspectiva cristã sabe avaliar aquilo que é
autenticamente humano e o que nasce da liberdade da pessoa, da sua abertura ao novo,
em última análise, do seu espírito que une a dimensão humana à dimensão transcendente.
Esta é uma das contribuições que a diplomacia pontifícia oferece a toda a humanidade,
trabalhando para fazer renascer a dimensão moral nas relações internacionais, e que
permite à família humana de viver e desenvolver-se em conjunto, sem tornar-se inimigos
uns dos outros". "É a rejeição da indiferença ou de uma cooperação internacional fruto
do egoísmo utilitário, para fazer pelo contrário alguma coisa para os outros através
de órgãos comuns".
Na verdade – escreve o Papa Francisco - "não será fazendo
prevalecer a razão de Estado ou o individualismo que vamos eliminar os conflitos ou
dar aos direitos da pessoa a justa colocação. O direito mais importante de um povo
e de uma pessoa não está no facto de não ser impedido de realizar as suas próprias
aspirações, mas de realizá-las efectiva e integralmente. Não basta evitar a injustiça,
se não se promove a justiça".
O Papa recorda o serviço do Cardeal Bertone como
Secretário de Estado "em apoio generoso e fiel" do pontificado de Bento XVI: "a sua
pacata e madura experiência de servidor da Igreja - escreve - também ajudou a mim,
chamado para a Sé de Pedro de um país distante, para o lançamento de um conjunto de
relações institucionais necessárias para um Pontífice". E depois conclui: "a história,
cuja medida é a verdade da cruz, tornará evidente a intensa acção do Cardeal Bertone,
que também demonstrou de ter um carácter piemontês do grande trabalhador que não economiza
fadigas na promoção do bem da Igreja, preparado cultural e intelectualmente por uma
serena força interior que recorda as palavras do Apóstolo dos gentios : "de nada
mais nos gloriaremos a não ser na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo,: Ele é a nossa
salvação, vida e ressurreição; por meio d’Ele todos fomos salvos e resgatados" (Gálatas
6, 14).