Quando a Amazônia se torna reduto dos "porões da sociedade". Ouça!
Manaus (RV)
– O primeiro dia de trabalhos do Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal começou
bem cedo, às 6h30, com a celebração eucarística com Laudes, presidida por Dom Leonardo
Ulrich Steiner, Secretário-Geral da CNBB. No auditório, as palestras da manhã verteram
sobre temas do mundo urbano e os grandes projetos do Governo Federal para Amazônia
Legal. A Professora Brenda Carranza, Doutora em Sociologia da Religião, pesquisadora
da Universidade da Califórnia e professora da PUC de Campinas, defendeu que a experiência
religiosa deve ser mais criativa nas comunidades, a fim de aglutinar e formar o tecido
social. “É preciso abrir espaços plurais de participação”, afirmou.
Em seguida,
foi a vez do Prof. Pedro Contijo, Secretário Executivo da Comissão Justiça e Paz da
CNBB e pesquisador de filosofia política e ética. Segundo ele, o governo desrespeita
a sociedade amazônica. Basta pensar que de 2008 a 2012, 17 dos 20 projetos pensados
para a região sofreram algum tipo de interdição ou processo. “A população não recebe
benefícios e o lucro vai direto pagar as commodities da dívida”, apontou.
Na
parte da tarde, o painel amazônico propôs um mapa das religiões na região, com o Pe.
Thierry de Guertechin sj, demógrafo e diretor do Ibrades, Instituto Brasileiro de
Desenvolvimento. O sacerdote belga apresentou slides com dados que comprovam a expansão
de seitas evangélicas na área amazônica.
A palestra da Irmã Henriqueta Cavalcante,
coordenadora da Comissão Justiça e Paz (CJP) do Regional Norte 2 da CNBB (Pará e Amapá),
silenciou o público na sala. Ela falou de sua atuação junto aos “porões da sociedade”,
apresentando os números do tráfico de pessoas na Amazônia: um novo e velho drama que
assola a região. Crianças e adolescentes vendidos como trabalhadores domésticos, “mulas”
para o tráfico de drogas, usados na mendicância e até explorados em clubes de futebol
menores que depois os vendem a grandes times.
Em relação às mulheres, a prostituição
é a chaga mais comum. Meninas e jovens são aliciadas e vendidas para boates além-fronteiras,
em Suriname e na Guiana Francesa. As que ficam no Brasil vendem seus corpos nas balsas,
frequentemente ficando grávidas ou contraindo doenças sexualmente transmissíveis,
quando não desaparecem completamente.
Representando a população quilombola,
Catarino dos Santos, da comunidade de Cruzeiro, no Maranhão, afirmou que o lema deste
povo de descendentes de escravos africanos é “trabalho e liberdade”. Terminando a
sessão, tomou a palavra Jacir José de Souza, líder dos índios Makuxi da Terra Indígena
Raposa Serra do Sol e vencedor do Prêmio ambiental Chico Mendes em 2009. O tema de
sua palestra foi a superação e a substituição de modelos predatórios e danosos ao
meio ambiente por outros racionais e sustentáveis, para minimizar os impactos sobre
a Amazônia Legal.
Nos 25 anos da Constituição Federal, promulgada em 1988,
as populações tradicionais indígenas “estão sendo vítimas de mais um ultraje”. Quem
nos explica o porquê é o bispo de São Gabriel da Cachoeira. No município, a 850 km
de Manaus, nove entre dez habitantes são indígenas. Dom Edson Damian alerta: “Os parlamentares
querem impedir novas demarcações e homologações de terras indígenas”. Para ouvir,
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