2013-10-24 13:45:53

"A dolorosa morte dum migrante africano" - SECAM lança apelo a favor dos migrantes


“A crise de Lampedusa, um sinal de alarme para a África” – é assim que o SECAM, Simpósio das Conferências Episcopais da África, interpreta o terrível naufrágio ocorrido no passado dia 3 deste mês na costa da ilha italiana de Lampedusa e que provocou a morte de cerca de 400 migrantes africanos. De entre eles, algumas mulheres grávidas e crianças. Provinham quase todos da Eritreia e da Somália, passando pela Líbia.

Declarando-se chocado e triste com essa “dolorosa morte” de migrantes africanos, o SECAM considera surpreendente o facto de não obstante esse dobrar dos sinos pelos mortos de Lampedusa, muitos refugiados da África Oriental continuarem a arriscar a própria vida em viagens para a Europa à procura de “liberdade” devido a condições políticas e de pobreza nos seus países de origem.

No caso da Somália - frisa o SECAM - a milícia al-Shabab tem vindo a aterrorizar as pessoas desde 1994, resultando isso em problemas sociais e económicos. Também na Eritreia o clima político tem levado muitos a abandonar o país. Praticamente não há nenhuma forma de liberdade, nem de imprensa, nem religiosa, nem de reunião. Diz-se que essas pessoas estão à procura do sentido da vida – escreve o SECAM numa nota assinada por D. Gabriel Anokye, Bispo de Kumasi, no Gana, vice-presidente dessa organização católica de toda a África e responsável pela Comissão Justiça, Paz e Desenvolvimento da mesma organização.

No documento, os bispos católicos africanos retomam as palavras do Papa Francisco que critica aquilo a que define de “globalização da indiferença”, em relação aos requerentes asilo.

O SECAM cita ainda a Exortação pós-Sinodal “Africae Munus” (O Empenho da África) em que o Papa emérito, Bento XVI põe em realce o drama de milhares de emigrantes, refugiados e deslocados à procura duma pátria e duma terra de paz em África ou fora dela, e que deparam muitas vezes com violências, indiferença e mesmo leis repressivas nos países de destino.

Retomando a sua Carta Pastoral intitulada “Governação, Bem Comum e Transição Democrática em África”, o SECAM recorda que a falta de democracia e de respeito pelos direitos humanos tem-se traduzido num terreno fértil para protestos políticos e para crises como essas tais migrações. Por isso – na visão dos bispos - nem a Igreja, nem os Governos, nem as Organizações da Sociedade Civil podem ficar indiferentes e isolados perante os desafios sócio-económicos e políticos da África, nomeadamente no que toca à questão dos migrantes que continuam a morrer no mar.

O drama dos migrantes, com o crescente número de jovens que arriscam a própria vida para abandonarem a África, é reflexo do profundo mal-estar dum continente que continua à procura de vias para criar condições favoráveis de vida para os seus cidadãos.

Depois de 50 anos de independência – refere o SECAM - a África continua ainda sufocada por violências intermináveis que, pontualmente, causam crises sociais e deslocação de pessoas que acabam morrendo, como no caso do afundamento do barco em Lampedusa.

O SECAM termina lançando um premente apelo ao IGAD-RCP, a Autoridade Intergovernamental de Desenvolvimento e de Consulta Regional, para que implemente plenamente a sua missão de melhorar a cooperação entre os Estados e entre as regiões africanas por forma a gerir convenientemente a questão das migrações entre países de origem, de transição e de destino. Isto de modo particular no que toca à Eritreia e à Somália.
Também a UA deveria – segundo os bispos – desafiar a liderança administrativa e politica dos países africanos a trabalharem a favor da democracia e da boa governação, e sobretudo a proteger a vida e os interesses dos seus cidadãos.

O SECAM apela igualmente a Europa a reverem as suas leis sobre as migrações e a tratarem os migrantes com maior compaixão. Por conseguinte, a Europa deveria abrir as suas portas aos migrantes por forma a lhes permitir viver legalmente.

A questão da emigração – concluem os bispos – deveria tocar os corações de todas as pessoas de boa vontade levando-as a manifestar gestos de solidariedade.








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