"A dolorosa morte dum migrante africano" - SECAM lança apelo a favor dos migrantes
“A crise de Lampedusa, um sinal de alarme para a África” – é assim que o SECAM, Simpósio
das Conferências Episcopais da África, interpreta o terrível naufrágio ocorrido no
passado dia 3 deste mês na costa da ilha italiana de Lampedusa e que provocou a morte
de cerca de 400 migrantes africanos. De entre eles, algumas mulheres grávidas e crianças.
Provinham quase todos da Eritreia e da Somália, passando pela Líbia.
Declarando-se
chocado e triste com essa “dolorosa morte” de migrantes africanos, o SECAM considera
surpreendente o facto de não obstante esse dobrar dos sinos pelos mortos de Lampedusa,
muitos refugiados da África Oriental continuarem a arriscar a própria vida em viagens
para a Europa à procura de “liberdade” devido a condições políticas e de pobreza nos
seus países de origem.
No caso da Somália - frisa o SECAM - a milícia al-Shabab
tem vindo a aterrorizar as pessoas desde 1994, resultando isso em problemas sociais
e económicos. Também na Eritreia o clima político tem levado muitos a abandonar o
país. Praticamente não há nenhuma forma de liberdade, nem de imprensa, nem religiosa,
nem de reunião. Diz-se que essas pessoas estão à procura do sentido da vida – escreve
o SECAM numa nota assinada por D. Gabriel Anokye, Bispo de Kumasi, no Gana, vice-presidente
dessa organização católica de toda a África e responsável pela Comissão Justiça, Paz
e Desenvolvimento da mesma organização.
No documento, os bispos católicos
africanos retomam as palavras do Papa Francisco que critica aquilo a que define de
“globalização da indiferença”, em relação aos requerentes asilo.
O SECAM cita
ainda a Exortação pós-Sinodal “Africae Munus” (O Empenho da África) em que o Papa
emérito, Bento XVI põe em realce o drama de milhares de emigrantes, refugiados e
deslocados à procura duma pátria e duma terra de paz em África ou fora dela, e que
deparam muitas vezes com violências, indiferença e mesmo leis repressivas nos países
de destino.
Retomando a sua Carta Pastoral intitulada “Governação, Bem Comum
e Transição Democrática em África”, o SECAM recorda que a falta de democracia e de
respeito pelos direitos humanos tem-se traduzido num terreno fértil para protestos
políticos e para crises como essas tais migrações. Por isso – na visão dos bispos
- nem a Igreja, nem os Governos, nem as Organizações da Sociedade Civil podem ficar
indiferentes e isolados perante os desafios sócio-económicos e políticos da África,
nomeadamente no que toca à questão dos migrantes que continuam a morrer no mar.
O
drama dos migrantes, com o crescente número de jovens que arriscam a própria vida
para abandonarem a África, é reflexo do profundo mal-estar dum continente que continua
à procura de vias para criar condições favoráveis de vida para os seus cidadãos.
Depois
de 50 anos de independência – refere o SECAM - a África continua ainda sufocada por
violências intermináveis que, pontualmente, causam crises sociais e deslocação de
pessoas que acabam morrendo, como no caso do afundamento do barco em Lampedusa.
O
SECAM termina lançando um premente apelo ao IGAD-RCP, a Autoridade Intergovernamental
de Desenvolvimento e de Consulta Regional, para que implemente plenamente a sua missão
de melhorar a cooperação entre os Estados e entre as regiões africanas por forma a
gerir convenientemente a questão das migrações entre países de origem, de transição
e de destino. Isto de modo particular no que toca à Eritreia e à Somália. Também
a UA deveria – segundo os bispos – desafiar a liderança administrativa e politica
dos países africanos a trabalharem a favor da democracia e da boa governação, e sobretudo
a proteger a vida e os interesses dos seus cidadãos.
O SECAM apela igualmente
a Europa a reverem as suas leis sobre as migrações e a tratarem os migrantes com maior
compaixão. Por conseguinte, a Europa deveria abrir as suas portas aos migrantes por
forma a lhes permitir viver legalmente.
A questão da emigração – concluem
os bispos – deveria tocar os corações de todas as pessoas de boa vontade levando-as
a manifestar gestos de solidariedade.