Cardeal Bertone: sete anos de dedicação e sacrifício ao lado de Bento XVI
Cidade do Vaticano (RV) - Na ausência, como explicou o Pontífice, do novo encarregado
a conduzir a Secretaria de Estado, Dom Pietro Parolin, o pronunciamento do Papa foi
acompanhado de um só discurso, o do Secretário em fim de mandato, Cardeal Tarcisio
Bertone.
Tendo o Santo Padre agradecido ao purpurado por sua solicitude e qualificada
colaboração em pleno espírito salesiano, o Cardeal Bertone repercorreu com emoção
as etapas salientes de seu encargo, confiando o futuro da Igreja a Maria "que desfaz
os nós".
"Obrigado também em nome de Bento XVI". O Papa Francisco despediu-se
do Cardeal Secretário de Estado, Tarcisio Bertone, também com uma mensagem escrita
em que, como na audiência, evidencia a qualificada colaboração do purpurado quer nas
relações internacionais, quer na difusão do magistério pontifício.
E o cardeal,
tomando a palavra, reiterou que foram sete anos e sete meses de dedicação e, por vezes,
de sacrifício, primeiro, ao lado de Bento XVI, depois, do Papa Francisco.
Seu
balanço não é um balanço por demais difícil, ressaltou, mas um reviver, a partir daquilo
que o entusiasmou, os aspectos importantes do encargo que se conclui nesta data:
"Aquilo
que me entusiasmou com o Papa Bento foi ver a Igreja compreender a si mesma profundamente
como comunhão e, ao mesmo tempo, capaz de falar ao mundo e ao coração e à inteligência
de cada um com clareza de doutrina e com alteza de pensamento."
Basta pensar,
explicou, nas grandes questões da relação fé-razão, do direito ou da lei natural,
ou ainda, no renovado diálogo com judeus e muçulmanos, ou nas encíclicas – uma entre
todas, a Caritas in veritate – com o seu consenso universal. Para o secretário
em fim de mandato, Bento XVI foi "um reformador das consciências e do clero", que
entregou o ministério petrino quando o Senhor a isso o inspirou "após uma meditação
e uma oração intensas" e, sobretudo, após um percurso pontilhado quer por fortes projetos
pastorais, quer por sofrimentos:
"Sofreu profundamente por causa dos males
que deturpam o rosto da Igreja e para isso deu-lhe uma nova legislação, que atinja
com decisão o vergonhoso fenômeno da pedofilia entre o clero, sem esquecer a adoção
da nova normativa em matéria econômica e administrativa."
Hoje, a realidade
experimentada com o Papa Francisco, ressaltou o Cardeal Bertone, é a "da escuta, da
ternura da misericórdia e da proximidade", mas a nível pastoral o Pontífice vindo
de longe não revoluciona o passado, disse o purpurado:
"Vejo hoje no Papa
Francisco não tanto uma revolução, mas uma continuidade com o Papa Bento, embora na
diversidade dos acentos e dos segmentos de vida pastoral. Nossas origens, nossos percursos
– como disse o senhor, Santo Padre –, são diferentes."
Em seguida, fez
referência às Jornadas mundiais da juventude, bem como a duas expressões em particular
que, segundo o purpurado salesiano, reforçam essa continuidade:
"O dom do
conselho espontâneo e inspirado, voltado para o futuro, mas rico de memória, e, depois,
a comum devoção mariana. Não há ícone mais bonito dos dois Papas do que o que os retrata
cada um recolhido em oração diante da imagem de Nossa Senhora de Fátima: em Fátima,
no ano sacerdotal de 2010, o Papa Bento; e em Roma, diante da mesma imagem, no Ano
da Fé, o Papa Francisco, para colocar a Igreja inteira em estado de penitência e de
purificação. Parece-nos que justamente de Fátima se deve partir novamente."
As
últimas palavras do Cardeal Bertone foram dirigidas justamente a Maria, para que ajude
o Papa Francisco e o novo Secretário de Estado, Dom Parolin, a desfazer os nós que
ainda impedem à Igreja ser em Cristo o coração do mundo, "horizonte auspiciado e incessantemente
invocado". (RL)