Homilia do Papa na Missa de conclusão das Jornadas Marianas do Ano da Fé - 13 Outubro
«Cantai ao Senhor um cântico novo, porque Ele fez maravilhas» (Sl 97, 1).
Encontramo-nos
hoje diante duma das maravilhas do Senhor: Maria! Uma criatura humilde e frágil como
nós, escolhida para ser Mãe de Deus, Mãe do seu Criador.
Precisamente olhando
Maria à luz das Leituras que acabámos de escutar, queria reflectir convosco sobre
três realidades: Deus surpreende-nos, Deus pede-nos fidelidade, Deus é a nossa força.
A
primeira: Deus surpreende-nos. O caso de Naamã, comandante do exército do rei da Síria,
é notável: para se curar da lepra, vai ter com o profeta de Deus, Eliseu, que não
realiza ritos mágicos, nem lhe pede nada de extraordinário. Pede-lhe apenas para confiar
em Deus e mergulhar na água do rio; e não dos grandes rios de Damasco, mas de um rio
pequeno como o Jordão. É uma exigência que deixa Naamã perplexo, surpreendido: Que
Deus poderá ser este que pede uma coisa tão simples? A vontade primeira dele é retornar
ao País, mas depois decide-se a fazê-lo, mergulha no Jordão e imediatamente fica curado.
Vedes!? Deus surpreende-nos; é precisamente na pobreza, na fraqueza, na humildade
que Ele Se manifesta e nos dá o seu amor que nos salva, cura e dá força. Pede somente
que sigamos a sua palavra e tenhamos confiança n’Ele.
Esta é a experiência
da Virgem Maria: perante o anúncio do Anjo, não esconde a sua admiração. Fica admirada
ao ver que Deus, para Se fazer homem, escolheu precisamente a ela, jovem simples de
Nazaré, que não vive nos palácios do poder e da riqueza, que não realizou feitos extraordinários,
mas que está disponível a Deus, sabe confiar n’Ele, mesmo não entendendo tudo: «Eis
a serva do Senhor, faça-se em Mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38). Deus surpreende-nos
sempre, rompe os nossos esquemas, põe em crise os nossos projectos, e diz-nos: confia
em Mim, não tenhas medo, deixa-te surpreender, sai de ti mesmo e segue-Me!
Hoje
perguntemo-nos, todos, se temos medo daquilo que Deus me poderá pedir ou está pedindo.
Deixo-me surpreender por Deus, como fez Maria, ou fecho-me nas minhas seguranças,
nos meus projectos? Deixo verdadeiramente Deus entrar na minha vida? Como Lhe respondo?
2. Na
passagem lida de São Paulo, ouvimos o Apóstolo dizer ao seu discípulo Timóteo: Lembra-te
de Jesus Cristo; se perseverarmos com Ele, também com Ele reinaremos. Aqui está o
segundo ponto: lembrar-se sempre de Cristo, perseverar na fé. Deus surpreende-nos
com o seu amor, mas pede fidelidade em segui-Lo. Pensemos quantas vezes já nos entusiasmámos
por qualquer coisa, por uma iniciativa, por um compromisso, mas depois, ao surgirem
os primeiros problemas, abandonámos. E, infelizmente, isto acontece também com as
opções fundamentais, como a do matrimónio. É a dificuldade de ser constantes, de ser
fiéis às decisões tomadas, aos compromissos assumidos. Muitas vezes é fácil dizer
«sim», mas depois não se consegue repetir este «sim» todos os dias.
Maria
disse o seu «sim» a Deus, um «sim» que transtornou a sua vida humilde de Nazaré, mas
não foi o único; antes, foi apenas o primeiro de muitos «sins» pronunciados no seu
coração tanto nos momentos felizes, como nos dolorosos… muitos «sins» que culminaram
no «sim» ao pé da Cruz. Estão aqui hoje muitas mães; pensai até onde chegou a fidelidade
de Maria a Deus: ver o seu único Filho na Cruz.
Sou um cristão intermitente,
ou sou cristão sempre? Infelizmente, a cultura do provisório, do relativo penetra
também na vivência da fé. Deus pede-nos para Lhe sermos fiéis, todos os dias, nas
acções quotidianas; e acrescenta: mesmo se às vezes não Lhe somos fiéis, Ele é sempre
fiel e, com a sua misericórdia, não se cansa de nos estender a mão para nos erguer
e encorajar a retomar o caminho, a voltar para Ele e confessar-Lhe a nossa fraqueza
a fim de que nos dê a sua força.
3. O último ponto: Deus é a nossa força. Penso
nos dez leprosos do Evangelho curados por Jesus: vão ao seu encontro, param à distância
e gritam: «Jesus, Mestre, tem compaixão de nós» (Lc 17, 13). Estão doentes, necessitados
de serem amados, de terem força e procuram alguém que os cure. E Jesus responde, libertando-os
a todos da sua doença. Causa estranheza, porém, o facto de ver que só regressa um
para Lhe agradecer, louvando a Deus em alta voz. O próprio Jesus o sublinha: eram
dez que gritaram para obter a cura, mas só um voltou para gritar em voz alta o seu
obrigado a Deus e reconhecer que Ele é a nossa força. É preciso saber agradecer, louvar
o Senhor pelo que faz por nós.
Vejamos Maria: depois da Anunciação, o primeiro
gesto que ela realiza é um acto de caridade para com a sua parente idosa Isabel; e
as primeiras palavras que profere são: «A minha alma enaltece o Senhor», o Magnificat,
um cântico de louvor e agradecimento a Deus, não só pelo que fez n’Ela, mas também
pela sua acção em toda a história da salvação. Tudo é dom d’Ele; Ele é a nossa força!
Dizer obrigado parece tão fácil, e todavia é tão difícil! Nós quantas vezes dizemos
obrigado em família? Quantas vezes dizemos obrigado a quem nos ajuda, vive perto de
nós e nos acompanha na vida? Muitas vezes damos tudo isso como suposto! E o mesmo
acontece com Deus.
Continuando a Eucaristia, invocamos a intercessão de Maria,
para que nos ajude a deixarmo-nos surpreender por Deus sem resistências, a sermos-Lhe
fiéis todos os diaa, a louvá-Lo e agradecer-Lhe porque Ele é a nossa força. Amen