Roma (RV) – No Paquistão, de 1986 a 2011 foram 1081 casos de condenação por
blasfêmia, que atingiram cristãos, hindus e outras minorias. Das 38 pessoas mortas
por blasfêmia, 14 eram cristãs. Sobre as discriminações contra os cristãos por causa
de lei da blasfêmia, pela qual todo aquele que faltar com respeito ao profeta Maomé
e ao Alcorão deve ser condenado à morte, falou na tarde desta quinta-feira, 10, em
Roma Dom Joseph Coutts, Arcebispo de Karachi e Presidente da Conferência Episcopal
paquistanesa, durante um encontro na Pontifícia Universidade de Santa Cruz.
“A
lei pode ser utilizada de maneira imprópria – disse Dom Coutts -como instrumento de
vingança por motivos pessoais. É muito eficaz especialmente se a pessoa que é acusada
é um cristão”. “Quando as emoções dominam as pessoas – disse o arcebispo – a caça
ao blasfemo desencadeia verdadeiros massacres, como em Gojra em agosto de 2009. Duas
crianças cristãs tinham preparado confetes com páginas de um jornal onde por caso
estavam impressos alguns versículos do Alcorão. A multidão enfurecida matou oito pessoas
como retaliação. Houve outros casos como esse, antes que as pessoas pudessem comprovar
sua inocência”.
Entre as vítimas da lei sobre a blasfêmia, o Arcebispo de
Karachi citou o Ministro para as minorias religiosas Shabaz Bhatti, morto em 2011
porque pedia ao Parlamento a modificação da lei. Asia Bibi, a cristã, mãe de cinco
filhos presa desde 2009 porque condenada à morte acusada de blasfêmia; o governador
do Punjab Salman Taseer, assassinado por fanáticos porque acusado de ser “um péssimo
muçulmano” depois de ter ido visitar Asia Bibi no cárcere.
“Existem sempre
discriminações contra não os muçulmanos – contou ainda o prelado -, especialmente
quando se trata de encontrar um trabalho ou conseguir uma promoção. Nos programas
escolares, os não muçulmanos são apresentados sempre de maneira negativa e discriminados.
Acontece, muitas vezes, que aos estudantes se dá como tema de redação: convida um
teu amigo a se converter ao islã”.
“Apesar de sermos uma minoria, não somos
uma igreja escondida e silenciosa – destacou Dom Coutts -. Os muçulmanos de boa vontade,
que são a maioria, junto com muitas ONGs, nos apoiam nas dificuldades. Podemos sair
à rua e protestar contra as injustiças e a violência: nós trabalhamos ao lado de todas
as outras igrejas cristãs. A nossa força é a esperança que está em nós”.
O
presidente dos Bispos paquistaneses concluiu agradecendo ao Papa Francisco pelo Dia
de Oração e Jejum pela paz na Síria: “Suas palavras foram de grande incentivo. Precisamos
trabalhar juntos para sermos homens de paz. Espero que os cristãos possam ser testemunhas
de esperança, paz e reconciliação num mundo cada vez mais intolerante e violento”,
concluiu Dom Coutts. (SP)