Arcebispo Mamberti na ONU: é hora de eliminar as armas nucleares do planeta
"A eliminação completa das armas nucleares é essencial para remover o perigo de uma
guerra nuclear, objectivo ao qual devemos dar a máxima prioridade": foi o que afirmou
na sede da ONU, em Nova York, o secretário das Relações com os Estados, Dom Dominique
Mamberti, durante o Encontro de alto nível da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre
o desarmamento nuclear.
"A preocupação pela proliferação das armas nucleares
em outros Países – disse de modo muito claro o representante vaticano – se mostrará
vazia enquanto os outros Estados detentores de armas nucleares permanecerem apegados
às próprias armas". Cinco anos atrás, o secretário-geral tinha apresentado um plano
em cinco pontos para o desarmamento nuclear. "É chegada a hora de dar a esse plano
a séria atenção que merece", para que o mundo possa ir para além "das tétricas doutrinas
da destruição recíproca certa".
"Agora é imperativo – prosseguiu Dom Mamberti
– que enfrentemos de modo sistemático e coerente os requisitos legais, políticos e
técnicos para um mundo livre de armas nucleares" iniciando quanto antes o trabalho
preparatório para uma Convenção sobre a eliminação "gradual e verificável" das armas
nucleares. Mas "o obstáculo principal ao início destes trabalhos – afirmou – é a persistente
adesão à doutrina da dissuasão nuclear. Com o fim da guerra fria, os tempos em que
essa doutrina podia ser aceite estão praticamente superados". "A Santa Sé não admite
o prosseguimento da dissuasão nuclear, porque é evidente que está a favorecer o desenvolvimento
de armas sempre mais novas, impedindo assim um desarmamento nuclear autêntico". “É
a doutrina militar da dissuasão nuclear, apoiada politicamente pelos Estados detentores
de armas nucleares – afirmou D. Mamberti – que se deve enfrentar para quebrar a cadeia
da dependência da dissuasão”.
Em seguida, o secretário vaticano das Relações
com os Estados afirmou que não se pode justificar “a continuação de uma política de
dissuasão nuclear permanente, dada a perda de recursos humanos, financeiros e materiais
num tempo em que escasseiam os fundos para a saúde, a educação e os serviços sociais
no mundo inteiro, e diante das actuais ameaças à segurança humana, como a pobreza,
as mudanças climáticas, o terrorismo e os crimes transnacionais. Tudo isso deveria
fazer-nos reflectir sobre a dimensão ética e a legitimidade moral da produção das
armas nucleares, da sua elaboração, desenvolvimento, acúmulo e uso, bem como da ameaça
de usá-las. Devemos evidenciar novamente – ressaltou ainda – que as doutrinas militares
baseadas nas armas nucleares como instrumento de segurança e de defesa de um grupo
de elite, numa exibição de poder e supremacia, retardam e colocam em grave perigo
o processo de desarmamento nuclear e de não-proliferação."
"É hora de contrastar
a lógica do medo com a ética da responsabilidade – concluiu Dom Mamberti - alimentando
um clima de confiança e de diálogo sincero, capaz de promover uma cultura de paz,
fundada no primado do direito e do bem comum, através da cooperação coerente e responsável
de todos os membros da comunidade internacional".