"Trabalho significa dignidade. Que o dinheiro não seja ídolo", afirma Francisco em
Cagliari
Cagliari (RV) – Desempregados, precários, trabalhadores que vivem com o seguro-desemprego:
a visita do Papa a Cagliari, na ilha da Sardenha, neste domingo, começou com o encontro
com uma das categorias que mais sofre com a crise europeia.
“É uma realidade
que conheço bem pela experiência que tive na Argentina”, disse o Papa, que narrou
a migração de seu pai, que foi para a Argentina com a ilusão de “fazer a América”
e sofreu a terrível crise dos anos 30. Conheço isso muito bem! Ma devo dizer-lhes:
“Coragem!”. Para que não seja uma palavra de circunstância, Francisco pediu solidariedade
e inteligência para enfrentar este “desafio histórico”.
O Santo Padre afirmou
que o sofrimento que encontrou na Sardenha foi o mesmo da primeira cidade que visitou
na Itália, também ela uma ilha, a de Lampedusa. “A falta de emprego é um sofrimento
que leva – desculpem-se se sou um pouco forte, mas é a verdade – a sentir-se sem dignidade!
Onde não há trabalho, não há dignidade! E este não é um problema só da Sardenha, só
da Itália ou de alguns países da Europa, é a consequência de uma escolha mundial,
de um sistema econômico que leva a esta tragédia; um sistema econômico que tem no
centro um ídolo, que se chama dinheiro.”
Deus, explicou o Pontífice, quis que
no centro no mundo não estivesse um ídolo, mas o homem e a mulher, que levam avante,
com o próprio trabalho, o mundo. “Trabalho significa dignidade, trabalho significa
levar o pão para casa, trabalho significa amar!”
Por isso, encorajou o Papa,
“não deixem roubar a esperança! Mas devemos ser astutos, porque o Senhor nos diz que
os ídolos são mais espertos do que nós. O Senhor nos convida a ter a astúcia da serpente
com a bondade da pomba. Tenhamos esta astúcia e digamos as coisas com o seu próprio
nome. Devemos lutar juntos para que no centro, pelo menos da nossa vida, estejam o
homem e a mulher, a família, todos nós, para que a esperança continue... Não deixem
roubar a esperança!”.
A Diocese de Cagliari, na ilha italiana da Sardenha,
é uma região eclesiástica com 622 paróquias e 1048 sacerdotes ao seu serviço entre
clero secular e regular.
O Santo Padre comunicou sua intenção de ir a Cagliari
na Audiência Geral do dia 15 de maio, em que explicou a relação de fraternidade entre
o Santuário de Nossa Senhora de Bonária e a sua cidade de Buenos Aires, que deste
tomou o nome ao momento da fundação da cidade.
Antes do Papa Francisco, outros
três Pontífices visitaram a Sardenha e o Santuário: Paulo VI em 1970, João Paulo II
em 1985 e Bento XVI em 2008.
A história da devoção a Nossa Senhora neste local
está relacionada com uma imagem de Maria com o Menino Jesus no seu colo que foi recolhida
por alguns frades na zona de Bonaria (que significa bom ar). Esta encontrava-se dentro
de uma caixa que fazia parte da mercadoria de um navio proveniente da Catalunha no
ano 1370 e que foi atirada ao mar devido a uma grande tempestade.
Segundo
o relato da época, quando esta caixa com a imagem de Nossa Senhora caiu no mar, a
tempestade amainou. A devoção por esta imagem rapidamente se difundiu por toda a Sardenha,
especialmente entre os marinheiros. O Santuário de Nossa Senhora de Bonária é constituído
por uma pequena igreja do século XIV, tendo sido erigida a seu lado uma Basílica datada
de 1704, que passou a ser Pontifícia em 1926 por decisão do Papa Pio XI.