Diante da crise, solidariedade, astúcia e esperança. Os discursos do Santo Padre em
Cagliari
Cagliari (RV) - Depois do almoço com os bispos da Sardenha, a tarde do Pontífice
em Cagliari foi marcada por três encontros: com os pobres e os detentos, com o mundo
acadêmico e com os jovens.
Na Catedral de Cagliari, na presença de 120 pobres
e 37 presos, o Papa Francisco notou a fadiga e a esperança em seus rostos. “Todos
nós temos misérias e fragilidades. Ninguém é melhor do que outro. Todos somos iguais
diante de Deus. E olhando Jesus, vemos que ele escolheu o caminho da humildade e do
serviço.”
O Papa advertiu que hoje a palavra solidariedade corre o risco de
ser cancelada do dicionário. Mas este é o único caminho. “A caridade não é assistencialismo,
é uma escolha de vida, um modo de ser.” Francisco criticou a arrogância que, às vezes,
se usa no serviço aos pobres, para alimentar a própria vaidade. “Isso é pecado grave,
seria melhor se essas pessoas ficassem em casa.”
Por fim, Francisco encorajou
a percorrer o caminho indicado por Jesus com caridade, semeando esperança.
Acadêmicos
O
encontro com o mundo acadêmico foi feito na Aula Magna da Pontifícia Faculdade Teológica
Regional. A reflexão do Pontífice foi inspirada na experiência dos discípulos de Emaús
que, desiludidos diante da morte de Jesus, demonstram resignação e desejo de fugir
da realidade.
Essas mesmas atitudes, disse o Papa, podemos constatar neste
momento histórico, em que vemos a deterioração do meio ambiente, “a guerra da água”,
os desiquilíbrios sociais, a terrível potência das armas, o sistema econômico e financeiro,
o ‘deus dinheiro’.
“Diante da crise, pode haver a resignação. Esta concepção
pessimista da liberdade humana e dos processos históricos leva uma espécie de paralisação
da inteligência e da vontade. Algo como fez Pilatos, de ‘lavar-se as mãos’. Uma atitude
que aparece pragmática, mas que ignora o grito de justiça, de humanidade e de responsabilidade
social e leva ao individualismo, à hipocrisia, para não falar de uma espécie de cinismo.”
Diante deste cenário, o Papa propõe então que a Universidade se torne o local
do discernimento, em que se elabore a cultura da proximidade e de formação à solidariedade,
que impulsione a buscar e encontrar vias de esperança que abram novos horizontes à
nossa sociedade.
Jovens
A visita de Francisco a Cagliari se
encerrou com os jovens, na Praça Carlo Felici – o que fez com que se lembrasse da
Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro: “Talvez alguns de vocês estavam lá,
mas muitos certamente acompanharam na televisão e na internet. Foi uma experiência
muito bela, uma festa da fé e da fraternidade que enche de alegria. A mesma alegria
que hoje sentimos”.
Num clima de festa, bem humarado, o Papa falou uma palavra
em espanhol. Ao perceber, brincou: "Também eu falo dialeto aqui", em referência ao
dialeto sardo.
Da vocação dos quatro primeiros discípulos Francisco tirou a
mensagem dirigida aos jovens: não desencorajar diante da experiência da falência e
confiar em Jesus.
Hoje, afirmou, o sacramento da Crisma mudou de nome. "É o
sacramento do 'adeus'. Depois dele, muitos deixam a Igreja. Isso é uma falência."
Para
Francisco, os jovens não devem se desencorajar diante de algo que não deu certo. Muito
menos devem vender sua juventude "para os que vendem a morte". Não se pode parar no
‘trabalhamos sem nada apanhar’, mas ir além, ‘lançar as redes' novamente, sem se cansar.
"Jesus dará a força! Há a ameaça da lamentação e quando tudo parece estagnante quando
os problemas pessoais nos inquietam, as dificuldades sociais não encontram as respostas
devidas, não é bom desistir."
O caminho é Jesus: fazê-lo subir no nosso 'barco'
e tomar o largo com Ele, que transforma a perspectiva da vida. "Eu não venho aqui
para vender uma ilusão. Mas venho para dizer que existe uma pessoa que pode levá-lo
avante. Confie Nele. É Jesus e Jesus não é uma ilusão."
Abrir-nos a Deus, disse
ainda o Papa, nos abre aos outros. "Também os jovens são chamados a se tornarem ‘pescador
de homens’. “Tenham a coragem de ir contra a corrente, sem se deixar levar pelas correntes.
Encontrar Jesus Cristo, experimentar o seu amor e a sua misericórdia é a maior aventura,
e a mais bela, que pode acontecer a uma pessoa!”