Genocídio armeno poderá ser reconhecido pelo Egito
Cairo (RV) – O Egito pós-Morsi poderá tornar-se o primeiro país muçulmano no
mundo a reconhecer como “genocídio” o extermínio dos armênios, realizado pelo governo
turco a partir de 24 de abril de 1915, nas terras do então Império Otomano. Isto acontecerá
caso for julgada procedente a ação movida pelo advogado egípcio Muhammad Saad Khairallah,
Diretor do Instituto da Frente Popular no Egito. A primeira audiência do processo
será realizada em 5 de novembro do corrente, no Tribunal do Cairo. O anúncio foi feito
durante um debate televisivo, assistido por milhares de egípcios.
O tema do
Genocídio Armeno foi abordado no popular Talk Show “As-Sura al Kamiila”, conduzido
por Lilian Daoud e que teve a participação, entre outros, do advogado Khairallah e
o Professor de Direito Internacional na Universidade do Cairo Dr. Ayman Salama.
O
professor Ayman observou que o Tribunal Militar turco, em 1919, acusou alguns dos
responsáveis pelo genocídio. Dezessete pessoas foram consideradas culpadas e três
foram enforcadas. Em 1915, continuou ele, a Rússia, a Grã-Bretanha e a França publicaram
uma declaração conjunta, onde afirmavam que consideravam os governantes turcos como
responsáveis pelos massacres e pelos “crimes cometidos contra a humanidade e a civilização”.
O
advogado Khairallah, por sua vez, defendeu que a questão do genocídio armeno foi levantada
há muito tempo no Egito e que não tem nenhuma conotação política. Ele espera que a
sua ação legal junto à Corte do Cairo leve o Egito , “o maior país sunita do Oriente
Médio’, a servir de exemplo a outros países árabes, para que reconheçam a existência
do genocídio armeno. Até hoje somente o Líbano deu este passo”.
Após a destituição
do Presidente Morsi, líder da Irmandade Muçulmana, o Primeiro Ministro Turco, Recep
Tayyip Erdogan, criticou com veemência o novo governo interino, apoiado pelos militares,
e defendeu o retorno do seu amigo Morsi ao poder. A intervenção do governo turco não
foi bem recebida no Egito, onde os jornais pediram ao novo governo que reconheça o
genocídio armeno. Muitos apelos, também, foram feitos em favor da construção de um
monumento em homenagem às mais de 1,5 milhões de vítimas do extermínio perpetrado
pelos turcos e para que o governo egípcio pressione a Turquia para indenizar os descendentes
das vítimas. (JE)