2013-09-12 18:22:59

Cristãos na Síria, vítimas de um conflito entre xiitas e sunitas


Cidade do Vaticano (RV) - Os cristãos no Oriente Médio e em outros países como o Egito, onde são uma minoria, são os primeiros a pagar o preço da guerra, a sofrer por causa dela e ter que abandonar as próprias casas, emigrando para fugir da perseguição. Esta foi a denúncia feita nos dias passados pelo Patriarca Latino de Jerusalém, Fouad Twal, no encontro realizado em Amã, Jordânia, que reuniu chefes das Igrejas no Oriente Médio. A preocupação aumenta nestes dias, em função do ocorrido no vilarejo de Maalula, na Síria. A Rádio vaticano conversou com sua colaboradora no Oriente Médio, Marina Calculli:

R: “Os cristãos na Síria são considerados geralmente como apoiadores do regime. Isto porque existe uma aliança histórica entre a comunidade dos alawitas e a comunidade dos cristãos. Obviamente, muitos têm um comportamento neutro, muitíssimos tiveram que engolir uma pílula amarga por razões de segurança. Infelizmente, a conotação confessional – que a um certo ponto da sua evolução assumiu o conflito sírio - levou os cristãos a alinharem-se, de qualquer maneira. O conflito tornou-se uma luta entre sunitas e xiitas, ou os alawitas - que são a comunidade que pertence à família xiita na Síria -, á qual pertence o Presidente Bashar al-Assad, ele mesmo um alawita. Os cristãos, simplesmente porque considerados aliados ou apoiadores do regime, tornam-se objeto de ataques e perseguições”.

RV: No dia 7 de setembro, o vilarejo de Maalula no norte de Damasco, que você visitou, foi atacado por grupos de rebeldes ligados à Al Qaeda. Este ataque faz os cristãos temerem pelo pior?

R: “Um ataque bastante simbólico, porque Maalula é verdadeiramente um símbolo para a cristandade mais antiga representada nesta região. Tanto é verdade que em Maalula não somente existem antigos mosteiros, mas os habitantes falam aramaico, a língua de Jesus. Justamente o isolamento geográfico de Maalula permitiu que se preservasse a tradição, também lingüística. Então, o ataque à Maalula é um ataque simbólico. De alguns testemunhos que pude recolher, o tratamento foi muito pesado. Procuraram até mesmo converter os resistentes. A maior parte conseguiu escapar, mas algumas centenas de pessoas permanecem dentro do vilarejo. Infelizmente, como eu dizia antes, é o reflexo de um conflito que assumiu - para servir interesses políticos, obviamente -, um caráter confessional. As razões porém, não estão nas religiões e na pertença a um credo. E isto é importante recordar”.

RV: O Secretário para a Relação com os Estados, Dom Dominique Mamberti, evidenciou que as Igrejas cristãs estão empenhadas em primeira linha no plano humanitário. Assim, se devêssemos emigrar todos os cristãos – sabemos que já emigraram 450 mil da Síria – existiriam custos humanos ulteriores para a população civil...

R: “Provavelmente sim. Existem muitas comunidades que dão assistência humanitária - e não somente a militantes pró-Assad e aos oficiais do exército, mas também aos rebeldes. Este é um testemunho que recolhi em diversas ocasiões e que é importante recordar justamente para não passar a imagem dos cristãos como um bloco único, associado ao regime de Assad. Por outro lado, o temor dos cristãos – e isto não somente na Síria, mas é uma preocupação que se percebe também no Líbano – é que a radicalização política do regime levará, cedo ou tarde, a uma impossiblidade de convivência entre as comunidades cristãs e muçulmanas. Esta seria uma tragédia para uma região que historicamente é o crisol de culturas diversas e religiões diversas, que deu origem às três grandes religiões monoteístas da história e que corre o risco de ser arruinada por interesses políticos”.(JE)









All the contents on this site are copyrighted ©.