2013-09-12 20:31:27

Arcebispo Bruno Forte: Francisco nos ensina o que é verdadeiramente diálogo


Cidade do Vaticano (RV) - Teve ampla repercussão e continua sendo estímulo para reflexão a carta que o Papa Francisco endereçou ao fundador do renomado diário italiano "La Repubblica", Eugenio Scalfari, publicada nesta quarta-feira pelo referido jornal. Sobre a importância desse gesto no horizonte do diálogo entre crentes e não-crentes, a Rádio Vaticano entrevistou o teólogo italiano e arcebispo de Chieti-Vasto, Dom Bruno Forte. Eis o que disse:

Dom Bruno Forte:- "Nesta carta, o Papa Francisco diz coisas muito bonitas, mas que pertencem totalmente à fé, à tradição da Igreja. A começar daquele ponto que impressionou, quando diz que não se deve falar de absoluto em relação à verdade cristã, porque a verdade não é absoluta, não é isolada, separada, mas é uma verdade que é relação, amor em si mesma – Trindade Santa – e na relação com os homens. Este é um ponto bonito e muito importante, mas que – na realidade – pertence à grande tradição cristã. O que é novo, em alguns aspectos surpreendente e a meu ver bonito, é que o Papa Francisco estabeleça esse diálogo com um pensador, um jornalista de grande inteligência, declaradamente não-crente, e que esse diálogo se dê, de fato, através de Scalfari, num jornal como 'La Repubblica', um jornal que se caracteriza também por uma marca – como se diz – fortemente laica. Mostra que o Papa não tem temor de amar a pessoa humana como é, onde ela se encontra, sem estabelecer condições preconcebidas para o encontro e o diálogo. Isso é verdadeiramente diálogo: uma abertura para o outro, na fidelidade à própria identidade, mas também no acolhimento profundo da pessoa do outro, assim como é."

RV: Também com um gesto como esse – inédito – de uma resposta via carta, o Papa parece quase dizer a todos, a todos os cristãos, que corram "o risco" da relação, sempre e com todos, justamente?

Dom Bruno Forte:- "Creio que nisso o Papa queira ser aquilo que desde o início mostrou ser: em primeiro lugar, quer ser uma pessoa humana, e como todas as pessoas humanas, que – com a ajuda de Deus – puderam realizar a própria vocação à plenitude de humanidade, que é o amor, é uma pessoa humana que quer relacionar-se com todos, sem esquemas, sem etiquetas. Creio que este é o estilo de Francisco: um estilo singularmente eficaz, como se vê pelo acolhimento e pelo interesse que suscita, mas um estilo não tático, ou seja, não é algo que Francisco faz por tática; o faz porque ele é assim, porque é a sua identidade profunda, o seu querer continuamente referir-se ao Deus vivo e justamente assim relacionar-se ao outro, quem quer que o outro seja, no respeito, no acolhimento, na verdade e no amor."

RV: Junto à verdade, outro tema fundamental tocado nesta carta é o da questão da consciência, tema – este – de grande interesse também para Bento XVI...

Dom Bruno Forte:- "Certamente. Creio que seja importante ressaltar o fio condutor que une esses dois Pontificados, que na realidade estão intimamente relacionados. Costumo dizer que não haveria Francisco se não tivesse havido o Pontificado corajoso, humilde, fiel de Bento XVI, a reforma espiritual da Igreja, o sentido do primado de Deus que ele tão fortemente imprimiu na vida eclesial. Francisco herdou tudo isso. Com essa herança, ele expressa livremente e com total espontaneidade a sua profunda identidade de homem de Deus, de homem espiritual, de jesuíta, de pessoa que busca viver continuamente na presença de Deus segundo a espiritualidade de Inácio de Loyola. Creio que também o chamado à consciência seja um aspecto profundo da espiritualidade inaciana: como disse o semiólogo francês Roland Barthes – e a afirmação é surpreendente justamente porque vem dessa fonte –, o livro dos Exercícios Espirituais de Inácio não é o livro da resposta, mas o livro da interrogação e da procura. Em outras palavras, os Exercícios Espirituais ajudam-nos a colocar-nos à escuta da voz da consciência, que é o reflexo interior daquilo que Deus escreveu para nós, dentro de nós, para que realizássemos a nossa vocação humana. E também nisso o Papa se insere na grande tradição católica e ao mesmo tempo consegue apresentá-la de maneira simples e profunda, de modo a não somente impressionar, mas, sobretudo, atrair e levar a pensar quem crê e quem não crê." (RL)







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