2013-09-11 14:17:40

Carta do Papa, sobre fé e laicidade, em resposta a jornalista do jornal "La Reppublica"


Ir ao encontro dos outros, dialogar com os que não partilham a mesma fé e as mesmas crenças – esta uma proposta insistente do Papa Francisco, desde o início do seu pontificado. Uma atitude uma vez mais expressa na “carta aos que não crêem” que acaba de dirigir ao jornalista fundador do quotidiano italiano “La Reppublica”. Em dois artigos formulados em jeito de carta aberta ao papa Francisco, e publicados em 7 de julho e 7 de agosto, Eugenio Scalfaro lançara uma série de questões sobre a fé e a vida cristã, citando nomeadamente a Encíclica “Lumen fidei”.
Com a sua carta, publicada nas três primeiras páginas da edição de hoje de La Reppublica, o Papa põe em acto um dos objectivos daquela Encíclica: um diálogo sério e rigoroso com um não crente que em todo o caso permanece interessado e fascinado pelas questões ligadas à Fé. Um diálogo que assume todo o seu sentido nas nossas sociedades tão pouco sensíveis à transcendência e à questão de Deus.
Nomeadamente o paradoxo de entender que a Fé, que deveria iluminar a vida dos Homens, ser considerada, desde a época moderna, como um amontoado de superstições oposto à luz da Razão. Daqui a necessidade de empreender um diálogo aberto, sem preconceitos, para um encontro fecundo. Um diálogo que não é mundanidade, mas um imperativo, para o crente, que tem a obrigação de testemunhar a sua fé e de testemunhar Cristo.
Assim, o Papa recorda que a sua Fé nasceu do encontro com Jesus, um encontro pessoal que tocou o seu coração e deu um sentido à sua existência. Um encontro que se tornou possível graças à comunidade dos crentes, a Igreja, que torna acessíveis as Escrituras, que dispensa os Sacramentos, que assenta na fraternidade e na atenção aos irmãos e irmãs mais pobres.
É a partir deste ponto central na sua vida, a sua Fé, que o Papa começa o seu diálogo com o jornalista de La Reppublica. Francisco parte de Cristo, da sua vida, da sua mensagem – o coração da Fé cristã, o exemplo a seguir. A sua incarnação, a sua partilha das nossas vitórias ou falências, das nossas alegrias e tristezas, numa palavra, da nossa condição – testemunha o amor de Deus pelos Homens, que são todos filhos de Deus, à imagem de Cristo. Um amor mais forte do que o pecado, do que a morte.
“Pergunta-me se o Deus dos cristãos perdoa àqueles que não crêem e não procuraram a fé” – escreve o Papa, que coloca como premissa o facto de que “a misericórdia de Deus não tem limites, se uma pessoa se Lhe dirige com coração sincero e contrito”. E logo acrescenta: “Para quem não crê em Deus, a questão é obedecer à sua consciência. Escutá-la e obedecer-lhe significa tomar decisões perante o que é advertido como bem ou mal. E é sobre esta decisão que se joga a bondade ou maldade de uma nossa acção.
Relativamente à Verdade absoluta, o Papa Francisco observa que, mesmo para os cristãos, a verdade é sempre uma relação, relação com Jesus, e portanto caminho permanente, o que ainda assim não a torna num elemento “variável e subjectivo”.
Para a Fé cristã, a Verdade é o Amor de Deus por nós, em Jesus Cristo. O “caminho” para a encontrar é feito de humildade e de abertura para a acolher e exprimir. “Apesar de todas as suas lentidões, infidelidades, erros e pecados que possa ter cometido e que pode ainda cometer através dos que a compõem, a Igreja – creia-me - não tem outro sentido nem outro fim que não seja testemunhar Jesus” – conclui o Papa. (PG)
Foto: Papa Francisco (10 setembro, à saída do Centro Astalli, do Serviço dos Jesuítas para os Refugiados, em Roma).











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