Arcebispo Mamberti: Não há solução militar para o conflito na Síria. Com violência
só haverá derrotados
A diplomacia vaticana
encontra-se a todo o vapor para cessar a guerra na Síria e evitar uma intervenção
armada externa, o que alargaria o conflito e agravaria os sofrimentos da população
envolvida. Nesse sentido, todos os embaixadores junto da Santa Sé foram convocados
para a encontro nesta quinta-feira no Vaticano com o Secretário das Relações com os
Estados, D. Dominique Mamberti. A Rádio Vaticano entrevistou o arcebispo sobre o encontro
com os referidos diplomatas: "Este encontro foi outra expressão da solicitude do
Santo Padre e da Santa Sé pela paz no mundo e, em particular, naturalmente, acerca
da situação na Síria, na esteira do comovente pronunciamento do Papa no Angelus de
domingo passado. O longo conflito sírio já provocou demasiadas vítimas e sofrimentos
e a situação humanitária adquiriu dimensões verdadeiramente intoleráveis. E é por
isso que se tornou mais do que nunca necessário o Dia de jejum e oração convocado
pelo Santo Padre, inclusive para recordar a todos que a paz, em primeiro lugar, é
um dom de Deus, e que esse dom deve ser pedido e acolhido com coração humilde e aberto.
Para além da oração, é necessário um renovado esforço diplomático, conforme ao lugar
que a Santa Sé ocupa na comunidade internacional. E nesse encontro com os embaixadores
reiterei o que o Santo Padre exortou, ou seja, o apelo às partes a não se fecharem
nos seus interesses, mas a deixar de lado a violência e tomar com coragem o caminho
do encontro e da negociação. “Pedimos à comunidade internacional que fizesse todo
o esforço para promover, sem mais tardar, iniciativas claras em favor da paz, sempre
baseadas no diálogo e na negociação. É óbvio que não há uma solução militar para o
conflito: se a violência continua, não se terá vencedores, mas somente derrotados,
como dizia o Papa Bento XVI no discurso do mês de Janeiro ao Corpo diplomático." O
arcebispo Mamberti referiu-se também à situação dos cristãos na Síria: "Obviamente,
a situação é muito difícil para todas as comunidades na Síria, no sentido que a violência
não poupa ninguém. Todavia, sendo a comunidade cristã uma minoria no país, é particularmente
vulnerável e são muitos os cristãos que tiveram que abandonar as suas casas. Muitos
deles deixaram o país. Os cristãos são vítimas da violência cega: gostaria de recordar
o assassinato de Pe. François Mourad e o sequestro de numerosos cristãos, entre eles
dois bispos ortodoxos e alguns sacerdotes católicos, dos quais não se têm notícias.
Além do mais, muitas igrejas e instituições cristãs sofreram destruições e grandes
danos. Porém, os cristãos não podem e não devem perder a esperança: eles estão presentes
na Síria desde o início da difusão do cristianismo e querem continuar fazendo parte
do conjunto social, político e cultural do país e contribuir para o bem comum das
comunidades das quais fazem plenamente parte, sendo artífices de paz e reconciliação
e carregando com eles aqueles valores que podem fazer a sociedade evoluir rumo a um
maior respeito pelos direitos e dignidade das pessoas. Além disso, gostaria de ressaltar,
a Igreja Católica, bem como as outras Igrejas e comunidades cristã, que está empenhada
na linha de frente com todos os meios de que dispõe na assistência humanitária à população
cristã e não-cristã."