Arcebispo Mamberti: não há solução militar para conflito na Síria, com a violência
nenhum vencedor, mas só derrotados
Cidade do Vaticano (RV) - A diplomacia vaticana encontra-se a todo o vapor
para cessar a guerra na Síria e evitar uma intervenção armada externa, o que alargaria
o conflito e agravaria os sofrimentos da população envolvida.
Nesse sentido,
todos os embaixadores junto à Santa Sé foram convocados a um encontro nesta quinta-feira
no Vaticano para um colóquio com o Secretário das Relações com os Estados, Dom Dominique
Mamberti.
Na vigília do Dia de oração e jejum pela paz convocado pelo Papa,
a Rádio Vaticano entrevistou o arcebispo sobre o encontro com os referidos diplomatas:
Dom
Dominique Mamberti:- "Este encontro foi outra expressão da solicitude do Santo
Padre e da Santa Sé pela paz no mundo e, em particular, naturalmente, acerca da situação
na Síria, na esteira do comovente pronunciamento do Papa no Angelus de domingo passado.
O longo conflito sírio já provocou por demais vítimas e sofrimentos e a situação humanitária
adquiriu dimensões verdadeiramente intoleráveis. E é por isso que se tornou mais do
que nunca necessário o Dia de jejum e oração convocado por Francisco, inclusive para
recordar a todos que a paz, em primeiro lugar, é um dom de Deus, e que esse dom deve
ser pedido e acolhido com coração humilde e aberto. Para além da oração, junto à oração,
se faz necessário um renovado esforço diplomático, conforme o lugar que a Santa Sé
ocupa na comunidade internacional. E nesse encontro com os embaixadores reiterei o
que o Santo Padre exortou, ou seja, o apelo às partes a não se fechar em seus interesses,
mas a deixar de lado a violência e tomar com coragem o caminho do encontro e da negociação.
Pedimos à comunidade internacional que fizesse todo esforço para promover, sem mais
tardar, iniciativas claras em favor da paz, sempre baseadas no diálogo e na negociação.
É óbvio que não há uma solução militar para o conflito: se a violência continua, não
se terá vencedores, mas somente derrotados, como dizia o Papa Bento XVI no discurso
ao Corpo diplomático."
RV: Há muita apreensão pela população civil envolvida
no conflito: neste âmbito, qual é a situação dos cristãos na Síria?
Dom
Dominique Mamberti:- "Obviamente, a situação é muito difícil para todas as
comunidades na Síria, no sentido que a violência não poupa ninguém. Todavia, sendo
a comunidade cristã uma minoria no país, é particularmente vulnerável e são muitos
os cristãos que tiveram que abandonar as suas casas. Muitos deles deixaram o país.
Os cristãos são vítimas da violência cega: gostaria de recordar o assassinato de Pe.
François Mourad e o seqüestro de numerosos cristãos, entre eles dois bispos ortodoxos
e alguns sacerdotes católicos, dos quais não se têm notícias. Ademais, muitas igrejas
e instituições cristãs sofreram destruições e grandes danos. Porém, os cristãos não
podem e não devem perder a esperança: eles estão presentes na Síria desde o início
da difusão do cristianismo e querem continuar fazendo parte do conjunto social, político
e cultural do país e contribuir para o bem comum das comunidades das quais fazem parte
plenamente, sendo artífices de paz e reconciliação e carregando com eles aqueles valores
que podem fazer a sociedade evoluir rumo a um maior respeito pelos direitos e dignidade
das pessoas. Além disso, gostaria de ressaltar, a Igreja Católica, bem como as outras
Igrejas e comunidades cristãs, está engajada na linha de frente com todos os meios
de que dispõe na assistência humanitária à população cristã e não-cristã." (RL)