Cidade do Vaticano (RV) – “Faço um apelo à comunidade
internacional, para que se mostre mais sensível a esta situação trágica e faça todo
o possível para ajudar a amada nação Síria a encontrar uma solução para a guerra que
semeia morte e destruição”. No último domingo o Papa Francisco, durante o Angelus
na Praça São Pedro lançou um novo e forte apelo pela paz na Síria, onde se respira
ventos de guerra. A dor e a preocupação expressas pelo Santo Padre se unem a de tantos
homens e mulheres de boa vontade em todas as partes do mundo, que vêem neste difícil
momento a “loucura de uma possível guerra”. Naturalmente, se olharmos para esses mais
de dois anos de combates fratricidas em território sírio, com mais de 100 mil mortos,
das quais 7 mil crianças e 4 milhões de refugiados e deslocados, podemos afirmar que
a guerra já se iniciou e quase na total indiferença da comunidade internacional. Os
gritos de dor e medo daquele povo ainda não tocaram a sensibilidade de quem pode ajudar
a construir um caminho de diálogo que leve à paz. A voz do Papa Francisco se ergue
como voz daqueles que não tem voz, de quem, perdido na noite, tentando fugir de bombas
e violências tem no coração o único desejo, salvar sua família e viver em paz. Nestes
últimos dias, após as terríveis imagens que giraram o mundo de mais de 1200 pessoas
mortas, intoxicadas, alguma coisa ocorreu: parece que os potentes da terra descobriram
que por debaixo da fumaça na Síria, há fogo. As 100 mil mortes até o momento não tocaram
o coração e não chamaram a atenção da comunidade internacional. Foram gritos que se
perderam nas noites da indiferença. Agora, a guerra na Síria está prestes a “ultrapassar
as fronteiras”, - já chegou ao Líbano – com a possível “atitude” de salvar o “salvável”
com ações militares precisas para deter novas mortes; ações que certamente vão provocar
novas mortes. Assim, evito novas mortes, causando novas mortes. Para sintetizar:
Estados Unidos, Grã Bretanha, França, de um lado, querem fazer com que o regime de
Assad pague – segundo eles – pelo uso de armas químicas. Do outro a Rússia e Irã dizem
não, e tentam com a diplomacia contornar a situação. O Irã já traçou a sua pessoal
“linha vermelha” e advertiu Washington: “se atacar a Síria, esperem consequências
muito pesadas”. Neste meio está a ONU e seus inspetores presentes na Síria, que não
encontram um ponto de convergência. A Rússia já disse que colocará seu veto em uma
possível ação de guerra. Dias atrás o Papa Francisco disse que “não podemos dormir
tranquilos enquanto houver crianças que morrem de fome e idosos que não têm assistência
médica”; podemos acrescentar que não podemos dormir tranquilos quando a vida de milhões
de pessoas está em jogo numa “aventura sem retorno”; quando a voz de canhões e bombas
toma o lugar do diálogo e do respeito pelo outro. A situação na Síria, que diz respeito
à toda comunidade internacional poderá fazer com que despenque em segundos, uma estabilidade
frágil que hoje se verifica no Oriente Médio. Os anseios de paz para aquela martirizada
paz estão traduzidos nas palavras do Papa Francisco que em nome dos católicos e homens
de boa vontade, pede, implora, dêem espaço ao diálogo e não às armas; dêem espaço
ao bom senso e construam estradas, pontes que levem à compreensão. O grito das
crianças sírias, vítimas inocentes dessa trágica guerra, deve tocar o nosso coração,
deve tocar o coração da comunidade internacional. Não podemos mais ficar indiferentes,
em silêncio diante desse grito. A comunidade internacional deve fazer todo o possível
para que novas imagens de tragédias como a da Síria não se repitam. É preciso encontrar
os meios mais adequados e mais oportunos, que não compliquem a situação. O som das
bombas não deve sufocar o grito de quem sofre. O povo sírio, já vive um inferno e
não precisa de mais fogo para tocar o fundo do abismo. Também o Patriarca greco-católico
de Antioquia, Gregorio III Laham, pediu que todos ouçam o apelo do Papa Francisco
pela paz na Síria. Se os países ocidentais desejam criar uma verdadeira democracia
devem construí-la com a reconciliação, com o diálogo entre cristãos e muçulmanos,
não com as armas. A palavra diálogo parece ter sido esquecida, chegou a hora de
recuperá-la, dela depende a vida de muitos inocentes. (Silvonei José)