Rio de Janeiro (RV) - Neste final de semana estamos participando com grande
entusiasmo de nossa romaria anual ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida, para agradecermos
os muitos benefícios que a Divina Providência tem concedido à nossa Arquidiocese.
No ano passado fomos à “casa da mãe” pedir a intercessão pela Jornada Mundial da Juventude.
Neste ano estamos agradecendo pela realização, e pedindo pelos frutos que virão com
o desabrochar das sementes plantadas no “campo da fé” dos corações e que a “chuva
criadeira” está fazendo acontecer. Temos muito a agradecer e a pedir, pois ainda um
longo caminho nos resta para concluirmos a JMJ Rio 2013.
Neste domingo, 22º
do Tempo Comum, a Igreja nos convida a refletir acerca do Banquete do Reino.
Num
mundo em que a ambição, a luta pelo poder, pelo reconhecimento público e pela efemeridade
da fama midiática se impõe, infelizmente, pela superioridade, relembremos quem são
os convidados para participar do Reino de Deus.
A condição fundamental para
tomar parte do banquete do Reino de Deus é a Humildade. Cultivar a humildade nos coloca
em profunda intimidade com Jesus. O mundo, hoje, é de profunda competição.
O Evangelho deste domingo deixa claro acerca da primazia dominante dos primeiros lugares.
Diz o Evangelista que: "Jesus notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares.
Então, contou-lhes uma parábola: 'Quando tu fores convidado para uma festa de casamento,
não ocupes o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante
do que tu, e o dono da casa, que convidou os dois, venha te dizer: 'Dá o lugar a ele'.
Então tu ficarás envergonhado e irás ocupar o último lugar. Mas, quando tu fores convidado,
vai sentar-te no último lugar. Assim, quando chegar quem te convidou, te dirá: 'Amigo,
vem mais para cima'. E isto vai ser uma honra para ti diante de todos os convidados.
Porque quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado".
Na
nossa sociedade, agressiva e competitiva, o valor da pessoa se mede pela sua capacidade
de se impor, de ter êxito, de triunfar, de ser o melhor, o maior. Quem não dá lucro
não tem valor para a sociedade descartável em que vivemos, em que o prazer sobrepõe
ao eterno. Vale a pena gastar a vida assim? Estes podem ser os objetivos supremos
que dão sentido verdadeiro à vida do homem?
Todo aquele que se exalta será
humilhado, e o que se humilha será exaltado (Lc 14, 11). Esta parábola, num significado
mais profundo, faz pensar também na posição do homem em relação a Deus. O último lugar
pode representar, de fato, a condição da humanidade degradada pelo pecado, condição
da qual só a encarnação do Filho Unigênito a pode elevar. Por isso, o próprio Cristo
ocupou o lugar dos malfeitores — a cruz — e, precisamente com esta humildade radical,
nos redimiu e nos ajuda sem cessar.
O Papa Francisco, ao insistir que devemos
pregar o Evangelho e levar a Boa Notícia de Jesus às periferias, atualiza o Evangelho
deste domingo, quando ele nos ensina que os convidados para o Banquete do Reino devem
ser os pobres, os necessitados, os famintos, os excluídos, os desabrigados, os que
não têm habitação, aqueles que vivem à margem da sociedade e, sobretudo, os que necessitam
ouvir a voz de Deus.
O Catecismo da Igreja Católica, que todos nós devemos
ter sempre presente, principalmente neste Ano da Fé, relendo, estudando, ensinando
aos outros, nos ensina que: "Bem-aventurados os pobres em espírito" (Mt 5,3). As bem-aventuranças
revelam uma ordem de felicidade e de graça, de beleza e de paz. Jesus celebra a alegria
dos pobres, a quem já pertence o Reino: O Verbo chama "pobreza em espírito" à humildade
voluntária de um espírito humano e sua renúncia; o Apóstolo nos dá como exemplo a
pobreza de Deus, quando diz: "Ele se fez pobre por nós" (2 Cor 8,9)"(cf. CIC 2546).
A
segunda parte do Evangelho nos convida à gratuidade: aqueles que fazem a experiência
de Deus em suas vidas também agirão na gratuidade com os irmãos e irmãs. Fará o bem
às pessoas como consequência de sua própria vida com Deus. Já recebemos a graça de
Deus e, por isso, com generosidade vamos ao encontro do outro com alegria e disponibilidade.
Aliás, essa tem sido a experiência dos cristãos através dos tempos. Tantos trabalhos
missionários, participações, obras sociais, artísticas e culturais que até hoje marcam
a Igreja demonstram isso. Quem se encontrou com Cristo passa a anunciá-Lo com entusiasmo.
Isso
aparece com muita clareza nestes tempos de tantos interesses, egocentrismo, materialismo.
A generosidade é consequência de uma vida com experiência com Deus. Vemos isto com
tantas pessoas que, pessoalmente, ou em nome de sua instituição, abrem seus corações
para se comprometer com a causa do Reino de Deus. Isso os faz “nadar contra a corrente”
deste mundo, que só pensa em acúmulos e interesses, para viverem a liberdade dos filhos
de Deus!
Rezemos para que o Senhor nos conceda o dom de responder com alegria
ao seu convite e sempre nos colocarmos no último lugar e partilharmos, com generosidade,
o que for possível. Que um dia possamos também escutar: “tu receberás a recompensa
na ressurreição dos justos”, porque “tu serás feliz”.
Portanto, neste domingo
somos convidados a olhar para Cristo como modelo de humildade e de gratuidade: do
Cristo Redentor aprendemos a paciência nas tentações, a mansidão nas ofensas, a obediência
a Deus nos padecimentos, na expectativa de que Aquele que nos enviou nos diga: sobe
mais para cima (Lc 14, 10); de fato, o verdadeiro bem é estar próximo d'Ele.
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Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio
de Janeiro, RJ