Pe. Pepe: "Papa Francisco nos ensina que o pobre tem muito a nos dizer sobre Deus"
Cidade do Vaticano (RV) - “Papa Francisco: com a Lumen Fidei às periferias
da existência”, é o título de uma mesa redonda realizada na manhã desta quarta-feira,
no Encontro de Rímini, Itália. Entre os participantes estava o Padre José Maria di
Paola, conhecido como ‘Padre Pepe’, pessoa muito próxima a Jorge Mario Bergoglio.
O sacerdote argentino que vive em uma ‘vila miseria’, uma favela de Buenos Aires,
contou sua experiência à Rádio Vaticano:
R: “Nós vivemos nas periferias,
nas favelas. Vivemos próximos às pessoas e as acompanhamos nas suas vidas e no seu
trabalho. É um trabalho quer espiritual quer social, as duas coisas caminham juntas.
É uma forma de viver o sacerdócio, diria também um carisma, que muitos de nós sacerdotes
de Buenos Aires temos vivido, de maneira especial nestes anos. Há mais de 40 anos
existe o grupo de ‘sacerdotes operários’. Além disto, as próprias pessoas das favelas
pediram aos sacerdotes que fossem viver nas favelas e que fosse um sacerdote como
em todos os outros bairros”.
RV: A sua experiência, Padre Pepe, privilegia
uma igreja simples…
R: “Certamente, acredito que a nossa missão, próxima
a este bairro, a esta favela, faça sim que nós conheçamos muito bem as pessoas com
as quais vivemos. Nós nos detemos diante da realidade do pobre, não somente diante
de alguém que devemos ajudar, mas diante de alguém de quem devemos aprender. Isto
está escrito na Bíblia e faz parte da nossa fé, da pregação de Cristo, do Antigo Testamento.
O pobre tem muito a nos dizer sobre Deus e por isto a religiosidade das pessoas é
muito simples e não devemos complicá-la”.
RV: Existe o problema da droga
dentro destas vilas...
R: “Sim, um dos problemas que temos é o da droga.
O narcotráfico procura sempre esconder-se nos locais mais favoráveis. Os narcotraficantes
não pertencem à favela, que é um local que talvez pudesse primordialmente ser definido
como a primeira vítima da droga. Por isto nós, na “Favela 21”, fazemos um trabalho
de prevenção e recuperação, com um certo espírito de Dom Bosco, do Oratório de Dom
Bosco e que agora foi ampliado para outras favelas, e iniciamos um caminho que quer
aproximar-se deles, de forma que, se vemos alguém que oferece drogas ou uma arma a
um jovem, nós possamos oferecer a ele um caminho saudável, que possa ajudá-lo a recuperar-se.”
RV:
Quem é o Papa Francisco? Como se pode explicar o Papa Francisco a um cidadão europeu,
ocidental?
R: “Primeiro que a nós não surpreende o modo de comportar-se
do Papa Francisco, porque continua a ser Bergoglio. As ações que ele fazia em Buenos
Aires, agora vemos com alegria que as realiza para a Igreja no mundo. Nós, quando
o elegemos, pensávamos em quando ele tinha estado ao nosso lado, nos momentos bons
e nos momentos difíceis – diante das ameaças dos narcotraficantes, nas reuniões na
favela. Ele estava presente em todos os momentos e acredito que esta experiência que
tivemos em Buenos Aires, hoje é vivida no mundo. Nos alegramos pois pensamos que o
sacerdote, a religiosa, o leigo, que trabalham em realidade semelhantes à nossa, verdadeiramente
tem um Papa que os compreende, que os guia. Os aspectos principais da Igreja estarão
na Missa de todos os dias”. (JE)