Dom Paglia: Papa Francisco defende o vínculo entre as gerações para evitar o esfacelamento
da sociedade
Cidade do Vaticano (RV) - "Não podemos dormir tranquilos enquanto houver crianças
que morrem de fome e idosos que não têm assistência médica". Com este tweet de 17
de agosto, o Papa Francisco voltou a falar de um binômio que lhe é muito caro: crianças
e idosos. A Rádio Vaticano entrevistou o Presidente do Pontifício Conselho para a
Família, o Arcebispo Vincenzo Paglia, sobre a importância que o Papa Francisco atribui
ao vínculo entre as diversas gerações:
R: “Eu acredito que o Papa, com grande
intuição pastoral, continua a colocar em estreita relação as crianças e os idosos,
para falar sobre a família e a vida em geral, justamente porque entre estes dois extremos
se desenvolvem todas as etapas da vida da sociedade, como também da Igreja. Neste
sentido, poderíamos dizer que não é negociável eliminar a infância ou eliminar a vida
dos idosos, não fazendo nascer os pequenos ou eliminando os idosos com a eutanásia”.
RV:
O Papa critica esta cultura do descartável, onde quem não é produtivo de alguma maneira,
como as crianças e os idosos, é excluído:
R: “Neste sentido, de fato, alguém
poderia caracterizar esta declaração superficialmente como bonacheirice, mas na realidade
o Papa toca num dos pilares da ignorância contemporânea, isto é, daquela cultura da
indiferença e do descarte que está tornando amarga a vida de todos, de todos. Pensemos
também ao discurso que ele fez em Lampedusa. Eis porque uma das missões fundamentais
da Igreja e dos cristãos no início deste novo milênio é, se me permitem, a de restaurar
o ícone da família, que inclui as crianças, os jovens, os adultos, os idosos, os saudáveis
e os doentes. Neste sentido, uma vida que excluísse as crianças e os idosos seria
como aquela de uma árvore que excluiria as raízes, os frutos e as folhas. Seria um
tronco”.
RV: Existe também outro aspecto que chama a atenção, especialmente
no Ocidente. Falamos muito sobre o conflito entre gerações. O Papa enfatiza, ao contrário,
que não pode haver nenhum futuro sem um pacto entre as gerações...
R. – “Exatamente.
Isto, para mim, é outro ponto importante. Com esta admoestação, o Papa denuncia aquele
abismo que está sendo colocado entre as gerações. É como se cada idade fosse abandonada
a sua própria sorte, sem o vínculo que poderíamos chamar, precisamente, entre as gerações,
que é a história, que é a cultura, que é a vida de um povo. Na realidade, corremos
o risco de um esfacelamento da sociedade: cada um por si. Mas uma cultura que valoriza
o ‘eu’ e que condena o ‘nós’ é terrível, porque cria não somente a indiferença, mas
também a crueldade. Eis por que o vínculo entre as gerações é a condição para o desenvolvimento,
para o encontro, para uma vida que seja mais pacífica e serena. Este tweet, na realidade,
é uma janela escancarada sobre a sociedade, que nos pede para olharmos com atenção
todas as etapas da vida, que nós todos somos chamados a viver na serenidade, na paz
e também com esforço”. (JE)