Cidade
do Vaticano (RV) - A Carta aos Hebreus, segunda leitura deste domingo, apresenta
dois modelos de vigilantes: Abraão e Sara. Apesar de uma vida dura e difícil, eles
optaram por crer e confiar em Deus.
As promessas divinas eram muito generosas:
multidão de filhos, habitar na terra prometida, mas nada se concretizou desse modo.
Só tiveram um filho – Isaac – e moraram sempre em territórios estrangeiros. Abraão
e Sara viveram apenas um pequenino sinal do que havia sido prometido, mas jamais duvidaram
da palavra do Senhor.
Também nós, em meio aos nossos afazeres e sorte de todo
tipo, boas sortes e más, continuamos crendo em Deus, em seu amor por nós, contra tudo
que possa nos dizer o contrário, mas confiamos n'Ele e n'Ele está nossa esperança.
Lembro-me de um vídeo com Dom Helder Câmara onde ele conta que estando um vez fazendo
visita pastoral a uma capela muito pobre o povo cantava: “O Senhor é meu Pastor, nada
me falta!” e ele olhava ao redor e estava faltando tudo!
A fé sustenta nossa
perseverança e esta dá expressão à fé.
No Livro da Sabedoria, vemos Deus se
colocar ao lado dos oprimidos e nossos antepassados creram nessa opção de Deus. Por
isso, todos participaram dos mesmos bens e dos mesmos perigos. Foram solidários uns
com os outros, ajudando-se reciprocamente! Não se deixaram levar pelas atitudes opressoras
e situações aparentemente sem saída, mas creram no poder de Deus!
Por fim,
o Evangelho fala-nos em não temer e vigiar. Certamente Jesus está nos preparando para
as vicissitudes desta vida.
Ao mesmo tempo, Lucas nos propõe um salto qualitativo
ao desviar nossos olhares e preocupações para com o nosso próprio umbigo e nos colocar
como centro de nossas atenções, algo que nos ultrapassa e permanecerá eternamente:
o Reino de Deus!
Lucas dá ao verbo vigiar uma atitude escatológica: vigiar
para que o Reino de Deus aconteça, vigiar porque poderá ser a qualquer momento de
nossa existência.
Como vimos nas duas leituras anteriores, vigiar é estar preparado
para tudo que possa acontecer, confiando unicamente em Deus e só contando com Ele,
como sustento nos momentos bons e nos momentos difíceis.
Mas vigiar é fazer
de tudo para que o Reino de Deus seja instaurado através de nossos atos fraternos
e solidários.
Devemos tomar decisões, atitudes frente o anúncio do Evangelho.
Não deixar para depois, para a última hora. Estar vigilante é não perder ocasião de
fazer o bem, de praticar a justiça. Como escreveu o Profeta Miquéias: “Vou mostrar-te,
ó homem, o que é bom e o que é que o Senhor pede de ti: que apenas pratique a justiça
que ames o amor e a bondade e que diante de Deus sejas humilde.” E o Salmo 36 (37)
acrescenta: “Confia no Senhor e faze o bem e sobre a terra habitarás em segurança.”
Neste
domingo, em que também comemoramos o Dia dos Pais, peçamos a Deus que presenteie nossos
papais com uma fé inquebrantável. Que mesmo na carência e na austeridade suprema,
a fé na Providência seja permanente e maior que as limitações que o nosso sistema
econômico impõe. Que a solidariedade, a fraternidade jamais permita as lágrimas de
um pai que vê seu filho pedir comida e nada ter para saciar a fome; em ver seu filho
doente e nada poder fazer para que um médico e um medicamento diminuam o sofrimento.
Ao
rezarmos o Pai-Nosso, tenhamos consciência de que temos feito o que podemos pelos
nossos irmãos! Vigiai! ”Porque onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso
coração!” “A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito
mais será exigido!”