Belo Horizonte (RV) - As palavras do Papa Francisco no Brasil, pronunciadas
durante a Jornada Mundial da Juventude, com simplicidade e de forma direta, entrelaçaram
conceitos. Apresentam a importância de um comprometimento de todos na busca de uma
cultura do encontro e da solidariedade. O discurso do Papa convida cada um a seguir
na contramão de uma globalização da indiferença, risco terrível do contexto contemporâneo.
Os pobres são os mais sacrificados. Suas urgências são desprezadas e continua aberta
a ferida do desrespeito à dignidade humana. O convite à cultura da solidariedade e
do encontro é um grito profético na suavidade da voz de quem não se deixa levar por
pretensões e poderes, mas pauta sua vida na simplicidade do Evangelho e no respeito
pelo outro.
Tornam-se ainda mais interpeladoras as palavras do Papa Francisco
graças aos seus gestos, a serenidade do seu sorriso, a atenção para com todos. Uma
autenticidade própria de quem não faz de si o centro, mesmo com a importância e singularidade
de sua pessoa e de sua missão de sucessor do apóstolo Pedro. Já no voo de vinda ao
Rio de Janeiro, conversando com os jornalistas, o Papa sublinha um horizonte imprescindível
para a cultura do encontro e da solidariedade, quando se refere ao jovem, que não
pode ser isolado da sociedade, compreendendo-o como o verdadeiro futuro de um povo.
A
essa compreensão, sem demora, também faz referência aos idosos. Ensina que um povo
tem futuro se caminha com a força dos jovens, impulsionando adiante as dinâmicas e
projetos, e com a sabedoria insubstituível carregada no coração e na experiência de
vida dos mais velhos. Esses aspectos da mensagem do Papa Francisco iluminam muitas
sombras da sociedade brasileira, agora mais despertada para a preciosidade do jovem,
mas ainda muito indolente nas suas estruturas e funcionamentos quanto à valorização
e respeito aos idosos.
Ao afirmar que a juventude é a janela pela qual o futuro
entra no mundo, o Papa Francisco desafia os brasileiros, particularmente governantes
e dirigentes, a não relativizar, com análises inadequadas e, sobretudo, com um esfriamento
proposital, o sentido positivo das manifestações populares alavancadas pelos jovens
nas ruas do Brasil. A juventude merece mais contundência nas respostas. Obviamente,
elas não podem reduzir-se à diminuição de tarifas de ônibus ou às propostas apressadas
que caem rapidamente no descaso e na inviabilidade.
A cultura da solidariedade
é o único caminho que não permitirá apagar essa chama que já sinalizou a necessidade
de mudanças mais profundas e de respostas mais urgentes. Por isso o Papa Francisco
deixou uma bela advertência, exatamente durante a cerimônia de boas-vindas, ante uma
plateia de dirigentes governamentais, ao dizer que “a nossa geração se demonstrará
à altura da promessa contida em cada jovem, quando souber abrir-lhe espaço; tutelar
as condições materiais e imateriais para o seu pleno desenvolvimento; oferecer a ele
fundamentos sólidos sobre os quais construir a vida; garantir-lhe segurança e educação
para que se torne aquilo que ele pode ser; transmitir-lhe valores duradouros pelos
quais a vida mereça ser vivida; assegurar-lhe um horizonte transcendente que responda
à sede de felicidade autêntica, suscitando nele a criatividade do bem”.
Essas
palavras do Papa Francisco mostram que é urgente revisar as dinâmicas institucionais
da nossa sociedade. É preciso uma transformação profunda que inclui governos, escolas
e universidades, criando círculos de solidariedade pela singularidade educativa do
encontro entre amigos e irmãos. A riqueza e densidade das palavras do Papa Francisco,
em vista da superação da globalização da indiferença e cultivo da cultura do encontro
e da solidariedade, encontra um momento significativo nas indicações dadas na homilia
da Missa no Santuário da Mãe Aparecida: conservar a esperança; deixar-se surpreender
por Deus; viver na alegria. Importa a ousadia de ter uma visão positiva da realidade,
tornando-se cada um, indica o Papa, luzeiro de esperança, deixando-se conduzir por
Deus. Assim brota a condição de viver na alegria. A confiança em Deus, a esperança
e a alegria por tantos dons impulsionam a sociedade na conquista e vivência da cultura
do encontro e da solidariedade.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo Arcebispo
Metropolitano de Belo Horizonte