Repub. Centro Africana - Sacerdote negoceia com milícia pelo bem-estar da população
A agência Ecclesia publica no seu site a história do padre Aurelio Gazzera carmelita
e diretor da Cáritas diocesana de Bouar que tem estado a negociar com os rebeldes
na República Centro Africana. Numa entrevista à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre,
o religioso explicou que o aparecimento de “muçulmanos radicais” e consequentes “pilhagens,
ataques contra igrejas e contra os cristãos” podia originar uma revolta generalizada,
“sem distinção” contra todos os muçulmanos. O missionário é um dos sacerdotes encarregados
de negociar com os rebeldes mas Aurelio Gazzera assinala que já negoceia com eles
“desde o início”, sempre com a preocupação de defender a população. Recentemente esteve
presente numa reunião em que estiveram presentes representantes de diversas religiões
e a milícia islâmica Séléka. Este encontro decorreu em Bangui, capital da República
Centro Africana, promovido pelo arcebispo D. Dieudonné Nzapalainga. “Por vezes,
os rebeldes têm necessidades, como no tratamento às cáries tratadas no nosso consultório
dentário, em Bozoum, e, às vezes, somos nós que vamos ter com eles para conseguir
libertar alguém, para os convencer a parar com os tiros, as pilhagens, ou ainda para
garantir o funcionamento dos serviços básicos como as escolas ou os hospitais”, explica
o sacerdote. Aurelio Gazzera acrescenta, ainda, que nestas negociações a milícia
tem de perceber, sempre, que ele está ali pelo bem-estar e pelas necessidades da população:
“implica que vá com coragem e firmeza porque não estou lá por causa de mim mas dos
meus irmãos e irmãs”. Segundo o padre italiano, as reações normalmente são “muito
boas” e, como cristão que se apresenta sem armas mas com “a oração e a presença de
Deus”, é uma oportunidade para eles refletirem e fazerem “algo de bom”. Neste momento,
não está “otimista” com o futuro porque passado quatro meses do golpe de Estado, a
“ violência e as pilhagens não param” e há cada vez mais rebeldes armados sem um “programa
de desenvolvimento nem de melhoria das condições de vida da população”. Confia
que aos poucos tudo na República Centro Africana “pode renascer” e essa esperança
vem, por exemplo, das escolas-públicas que reabriram e já contam com mais de 1600
alunos.