O Card. Turkson em Hiroshima. Padre Czerny: uma viagem para dizer não a todas as guerras
Ouça aqui...
Nunca mais
a guerra, nunca mais a destruição da bomba atómica. Com esta mensagem, o Cardeal Peter
Turkson encontra-se desde segunda-feira 5 de Agosto em Hiroshima, onde celebrou de
manhã a Missa na Catedral da cidade. Até ao dia 9 de Agosto, o presidente do Conselho
Pontifício para a Justiça e Paz estará, pois, no Japão para comemorar as vítimas dos
bombardeamentos atómicos que ocorreram em Hiroshima e Nagasaki, a 6 e 9 de Agosto
de 1945.
"Quando Jesus aparece aos discípulos - disse o Cardeal Turskon – dissipa
os seus temores com a saudação de paz; não vai, pois, lembrar-lhes a sua traição,
muito pelo contrário: Ele lhes dá a paz que os reconcilia com o Senhor ". E é mesmo
graças a esta saudação de paz, continuou o cardeal, que os discípulos são enviados
"para pregar, como ministros do perdão e da reconciliação". Além disso, ao aparecer
diante dos seus discípulos, o Ressuscitado "mostra-lhes as mãos e o lado", como prova
do facto que o seu corpo ressuscitado é idêntico ao crucificado. “O corpo que sofreu
a crueldade humana e a violência - disse ainda o Cardeal - é o mesmo que ressuscitou
e foi glorificado. E assim, em Jesus ressuscitado, a violência humana se transforma
e traz alegria aos discípulos". Daí, o desejo do Cardeal para que também os fiéis,
reunidos para celebrar a Eucaristia na Catedral de Hiroshima, saibam "caminhar à
luz do ensinamento do Senhor" e se tornem "ministros da reconciliação e da paz ".
A
Viagem do Cardeal Turkson ao Japão insere-se, como já anunciámos, na iniciativa “Dez
dias para a Paz” promovida pela Conferência Episcopal Japonesa, entre 6 e 15 de Agosto,
em memória das vítimas das bombas atómicas. Sobre esta viagem de paz e oração,
eis as palavras do Padre Michael Czerny, colaborador do Cardeal Turkson, numa entrevista
de Alessandro Gisotti:
R. –Devo dizer que a iniciativa é da Igreja Católica
japonesa, a Igreja que todos os anos organiza estes 10 dias para a paz. O Cardeal
Turkson foi convidado para acompanhar a peregrinação este ano.
Naturalmente
há também um outro acontecimento importante: decorrem os 50 anos da "Pacem in Terris",
a Encíclica de João XXIII precisamente sobre a paz ...
R. –É muito
importante, precisamente porque João XXIII não fez uma denúncia da guerra, mas dedicou
toda a Encíclica para a construção da paz. Estes 10 dias dedicados à paz, portanto,
representam uma recordação, que quer construir a paz e não apenas lamentar a catástrofe.
Em 1981 houve a histórica viagem de João Paulo II, que visitou Hiroshima
e disse: "que a guerra nunca mais seja tolerada." Este apelo premente de João Paulo
II é retomado e relançado pelo Cardeal Turkson ...
R. –Exactamente!
O Beato João Paulo II quis insistir no facto que a guerra é nossa responsabilidade
humana, não é um castigo de Deus, não é uma catástrofe natural: é o produto dos nossos
pecados, e por isso nós somos responsáveis. Esta responsabilidade é exactamente
aquilo que o Cardeal Turkson quer sublinhar.
Nestes dias em que o Cardeal
Turkson está no Japão, haverá também momentos de oração e recolhimento religioso ...
R.
– A primeira coisa a destacar é que a religião nunca é a causa das guerras, as guerras
são feitas por outros motivos. A religião é usada, instrumentalizada. Isto é importante,
assim como também é importante que a construção da paz seja responsabilidade de toda
a família humana, juntamente com todas as religiões. Nós estamos lá, é claro, como
peregrinos - irmãos e irmãs - que querem reconhecer a Deus, cada qual à sua maneira,
e juntos construir a paz.
Para além de recordar aqueles dias terríveis,
o Cardeal Turkson estará próximo também das pessoas que, depois de tantas décadas,
trazem ainda as feridas daquele bombardeamento atómico, como se quisesse dizer que,
infelizmente, a guerra não termina com o fim da guerra ...
R. – Não,
não termina nem sequer com aqueles que estiveram lá, naqueles dias terríveis, mas
continua nos seus familiares e naqueles que sofrem os efeitos das radiações, os efeitos
genéticos das doenças, transmitidas de geração em geração. E assim, o pecado dura
por muito tempo e a nossa luta é de evangelizar esta situação. A nossa tarefa em Hiroshima
e Nagasaki, é também a mesma tarefa na Síria, na Colômbia, no Médio Oriente, em todo
lado, onde devemos reconstruir a família humana, após a loucura da guerra.