Cidade do Vaticano (RV) - “Fraternidade, fundamento e caminho para a paz”:
este é o tema do 47º Dia Mundial para a Paz, que será celebrado em 1º de janeiro de
2014, o primeiro do Papa Francisco. De acordo com um comunicado do Pontifício Conselho
da Justiça e da Paz, divulgado dias atrás, o Pontífice escolheu a fraternidade como
tema já que “desde o início do seu ministério como Bispo de Roma, destacou a importância
de superar a ‘cultura do descartável” e de promover a ‘cultura do encontro’, para
caminhar rumo à realização de um mundo mais justo e pacífico”.
A Rádio Vaticano
pediu a Dom Giovanni Giudici, Bispo de Pavia, norte da Itália e Presidente de Pax
Christi uma reflexão a partir da família, onde experimentamos a primeira forma de
fraternidade.
R. – Abrange um aspecto comum a todos nós: todos nós temos
a experiência de fraternidade, no sentido de que todos crescemos em uma família e
assim sabemos o que é um irmão ou uma irmã. Isto nos ajuda, então, certamente, a aplicar
essa experiência à complexidade de nossas vidas.
P. – Muitas vezes esquecemos
disso...
R. - Sim, podemos dizer que há aspectos que não conseguimos traduzir
na realidade de nossas vidas. Às vezes damos por evidente essa fraternidade e então
a tornamos algo que exigimos dos outros ao invés de algo que damos aos outros. Certamente
tudo isso tem a ver com a paz, porque uma fraternidade que constrói a paz é uma fraternidade
que dever ser fundada na experiência da nossa fragilidade, na experiência da riqueza
que cada encontro com alguém diferente de nós, irmão ou irmã, pode nos ajudar a viver,
e depois certamente deve ser aprofundada e purificada, tentando traduzir em ação a
igualdade que a fraternidade nos dá.
P. – Podemos dizer que a cultura do
bem-estar faz perder esse sentido de responsabilidade e da relação fraterna?
R.
– Certamente. Possuir bens faz com que nos preocupemos em mantê-los e talvez nos
faz sentir uma espécie de antagonismo para com os outros, ou porque eles têm mais
ou porque têm coisas diferente de nós, ou ainda porque parece que levam embora os
nossos bens. Eu ainda acho que o bem-estar nos coloca em um estado de indiferença
para com os outros. Uma pessoa que está bem não vê que também ela é frágil: não percebe,
não vê que vive no sofrimento ou na carestia. E depois, em certo sentido, tudo isso
se torna também um sentimento, muitas vezes, infelizmente, social, de medo do estrangeiro,
de quem é diferente, de quem tem costumes diferentes dos nossos. O possuir as coisas,
e não ter necessidade dos outros nos torna incapazes de ver, quem sabe, que o outro
que chega no nosso país precisa de algo.
P. – Como se pode então globalizar
a fraternidade e não a indiferença, como várias vezes disse Papa Francisco?
R.
– Globalizamos a fraternidade quando nos educamos a pensar que, precisamente porque
somos todos irmãos, filhos de Deus, os bens que recebemos nesta terra são de todos.
Neste sentido, portanto, a experiência religiosa, em particular a cristã, mas toda
experiência religiosa, ajuda a globalizar a fraternidade. Ajuda também, certa maturidade
humana, que podemos obter olhando ao nosso redor e olhando também um pouco mais longe
– sobretudo nós europeus, nós italianos – do nosso viver social, da nossa realidade.
Em terceiro lugar, também buscar e expressar, através de estruturas políticas e sociais,
esse tipo de comportamento. Um país é capaz de praticar a fraternidade quando também
aqueles que são eleitos pelos cidadãos, são capazes de viver esse tema com decisão.
(SP)