Reflexão sobre a liturgia deste XVIII Domingo do Tempo Comum
Cidade do
Vaticano (RV) - “Um homem que trabalhou com inteligência, competência e sucesso,
vê-se obrigado a deixar tudo em herança a outro que em nada colaborou. Também isso
é ilusão e grande desgraça,” nos diz Coélet, autor do Eclesiastes. E a solução, proposta
por ele é comer, divertir-se , enfim um moderado aproveitamento de tudo o que a vida
oferece.
A resposta que reponderá plenamente nossa inquietação virá de Jesus,
no Evangelho. Em Lucas, um homem rico ao ver que sua fazenda produz bastante, fica
muito feliz e planeja não uma redistribuição de sua produção com os seus empregados,
mas em encontrar lugar para armazenar mais. O fazendeiro é louco pois construiu sua
riqueza sobre o suór de seus empregados e agora deseja descansar sobre o trabalho
e o sofrimento de outros, sem nada partilhar. Jesus termina o relato desse caso dizendo
que tudo o que ele armazenou ficará para outros, já que sua vida será pedida naquela
noite.
Os bens tomaram conta da vida daquele homem e ocuparam o lugar de Deus,
da família e dele mesmo.
Por outro lado o que acumulou não pode ser chamado
de vida, pois a vida se destina a todos e ele acumulou só pensando em si mesmo.
O
pecado do homem rico não está em ser rico, mas está porque trabalhou exclusivamente
para si e não se enriqueceu aos olhos de Deus.
Jesus faz o alerta não apenas
aos ricos, mas a todos aqueles que só trabalham para si. Mesmo um estudante de um
curso supletivo, que estuda à noite com muito sacrifício e só pensa em desfrutar a
vida no futuro, é destinatário dessa parábola porque, apesar de ser pobre, tem um
coração de rico, deixou-se levar pelo egoísmo.
A segunda leitura nos dá a indicação
de como deve ser a vida daqueles que desejam trabalhar com sentido e quais deverão
ser seus valores. Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas
do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e
não às terrestres.” Mais adiante Paulo nos incentiva a fazer morrer em nós aquilo
que é terrestre: “imoralidade, impureza, paixão, maus desejos e a cobiça, que é idolatria.”
O
emprego de nossa vida, com seus dons, suas potencialidades deverá ser realizado com
um objetivo maior do que a simples satisfação mundana e a simples saciação de nossas
necessidades básicas. Tudo isso vai embora. O tempo, a doença, a traça, a morte dissolverá.
Nada ficará de lembrança. Até nosso nome, com o tempo, desaparecerá. De fato, tudo
ílusão!
Apenas o uso de nossas potencialidades, de nossa vida em favor do outro,
em favor da realização do Reino de Deus, dará sentido ao nosso esforço e transformará
tudo de material para imaterial, de imanente para transcendente, de meramente humano
para divino. A eternidade está na dimensão da partilha, do nós, do outro.
O
Homem busca a face de do Outro, de Deus, que é Trindade, Comunhão. O Homem busca a
face de Deus, a comunhão eterna com o Outro. Só isso o sacia, só isso lhe dará a
perenidade que é desejada na profundidade de seu ser. Abri-se ao outro é abrir-se
a Deus, é a brir-se à felicidade eterna.