2013-08-03 09:57:13

Card. Tauran: mensagem do Papa é sinal de grande respeito pelos fiéis do Islã


Cidade do Vaticano (RV) - A Mensagem do Papa Francisco aos muçulmanos por ocasião do Ramadã representa uma iniciativa de grande relevância para o diálogo com o Islã: é o que ressalta o presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, Cardeal Jean-Louis Tauran. Entrevistado pela Rádio Vaticano, o purpurado francês evidencia o grande respeito que Jorge Mario Bergoglio sempre teve pelos fiéis muçulmanos:

Cardeal Jean-Louis Tauran:- "É uma iniciativa totalmente sua, pessoal. Creio que com ela ele tenha querido manifestar o grande respeito que tem pelos fiéis do Islã. Recordo-me, por exemplo, que alguns anos atrás ele enviara um sacerdote da Arquidiocese de Buenos Aires ao Cairo para estudar a língua árabe, porque queria uma pessoa que fosse capaz, que fosse bem formada em particular para o diálogo com o Islã. Assim, neste seu primeiro ano de Pontificado e no contexto atual, quis indicar claramente que o diálogo inter-religioso, e em particular o diálogo com o Islã, representa uma das prioridades de seu ministério."

RV: O tema da Mensagem deste ano é "A promoção do respeito recíproco mediante a educação". O Santo Padre ressalta a importância de evitar a crítica injustificada ou difamatória e, ao mesmo tempo, a importância de reconhecer um respeito particular aos líderes religiosos e aos lugares de culto. Podem aí ser reconhecidas referências específicas a situações precisas?

Cardeal Jean-Louis Tauran:- "Sem dúvida alguma! Creio que o Papa – como, de resto, todos nós – tem consciência do fato que na realidade não nos conhecemos o suficiente. Apesar de todos os esforços feitos, devemos aprender a respeitar-nos, a respeitar os nossos credos, os nossos ritos e os nossos lugares de culto, e neste âmbito é evidente que os líderes religiosos têm uma grande responsabilidade na formação de seus fiéis. Parece-me que o Papa insista muito sobre este aspecto do respeito recíproco. Infelizmente, o que me parece um pouco decepcionante no diálogo entre cristãos e muçulmanos é que fizemos grandes esforços, nestes anos, e obtivemos pequenos resultados. Portanto, será necessário fazer um grande esforço ulterior para nos conhecermos melhor, termos maior apreço um pelo outro, para não considerar-nos rivais, mas pessoas em busca de Deus."

RV: Desde a última mensagem, um ano atrás, muitas coisas aconteceram. De um lado, os católicos têm um novo Papa, de outro, em muitos países de maioria muçulmana – como o Egito, a Tunísia e a Síria – as tensões se exasperaram. Em alguns destes países vivem comunidades cristãs importantes que têm medo, por vezes muito medo. Esses dois aspectos têm reflexo na mensagem ou no trabalho do dicastério do qual o senhor é presidente?

Cardeal Jean-Louis Tauran:- "Sim, em ambos os âmbitos. Creio que na Europa muitas vezes islamismo e Islã se confundam, e nem mesmo se pode negar que o fundamentalismo é um inimigo comum. Portanto, é necessário fazer um esforço de intelecto, de cultura, e isso não pode ser feito a não ser na medida em que os líderes religiosos tenham consciência da gravidade da situação e tenham a vontade comum de melhorá-la. E tudo isso passa pela escola, pela universidade, pela confiança recíproca, pela amizade; do contrário, permaneceremos sempre numa condição de potencial inimizade... Ao invés, quanto mais a situação é difícil, mais o diálogo se faz necessário."

RV: A excepcionalidade desta mensagem está no fato de ela trazer a assinatura do próprio Papa...

Cardeal Jean-Louis Tauran:- "Creio que o Papa Francisco se insira na esteira do Papa Bento XVI. De fato, não devemos esquecer que o Papa Francisco sucede a um Papa que creio tenha sido o Papa que, neste século, mais falou sobre o Islã; um Papa que visitou três mesquitas... Portanto, creio que Francisco esteja determinado a seguir esta linha de colaboração mútua, de desejo – apesar das dificuldades – de conhecer melhor. Quanto mais a situação é difícil, mais é necessário falar: creio que esta seja uma constante e uma convicção radicada neste Papa, como o era em seu predecessor." (RL)







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