2013-08-02 16:21:23

Comentário do Card. Jean-Louis Tauran à mensagem do Papa aos muçulmanos



Apesar de todos os esforços feitos até agora, devemos aprender a respeitar uns aos outros, a respeitar as nossas crenças, os nossos ritos, os nossos lugares de culto, e nisto os líderes religiosos têm grande responsabilidade na formação dos seus fiéis, assim afirma o Cardeal Jean-Louis Tauran, presidente do Conselho para o Diálogo Inter-religioso, numa entrevista Hélène Destombes a propósito da mensagem do Papa aos muçulmanos


Cardeal Tauran : Trata-se de uma iniciativa muito pessoal. Ele quis com isso mostrar, penso eu, o grande respeito que ele tem para com os crentes do Islão. Lembro-me em particular que ele enviou há alguns anos atrás um sacerdote da Arquidiocese de Buenos Aires para estudar o árabe no Cairo para ter alguém formado para o diálogo com o Islão em particular. E portanto, neste primeiro ano de pontificado e no contexto actual, ele quis indicar pessoalmente que o diálogo inter-religioso, especialmente com o Islão, é uma das prioridades do seu pontificado.
O tema deste ano é a promoção do respeito mútuo através da educação. O Papa Francisco sublinha a importância de evitar críticas injustificadas ou difamatórias e também enfatiza a importância de reservar um respeito particular aos líderes religiosos e aos lugares de culto. Devemos ver nisto uma referência directa a situações específicas?



Cardeal Tauran : Sem dúvida alguma. Eu creio que o Papa, aliás como todos nós, tem plena consciência de que não nos conhecemos o suficiente. Apesar de todos os esforços que fizemos, devemos aprender a respeitar uns aos outros, respeitar as nossas crenças, os nossos ritos, os nossos lugares de culto, e nisto os líderes religiosos têm, evidentemente, uma grande responsabilidade na formação dos seus fiéis. E eu creio que o Papa insiste muito neste aspecto do respeito mútuo. Infelizmente, eu acho que aquilo que é um pouco decepcionante neste diálogo muçulmano-cristão é que nós temos feito grandes esforços nos últimos anos, e obtivemos magros resultados e estes nunca passaram ao nível da lei ou dos regulamentos administrativos. Portanto, devemos fazer ainda um grande esforço para melhor nos conhecermos, melhor nos apreciarmos e não nos considerarmos como concorrentes, mas todos à procura de Deus.
Desde a última mensagem quase um ano atrás, passaram-se muitas coisas: de um lado os católicos têm um novo papa, e doo outro as tensões se agravaram em muitos países de maioria muçulmana (o Egipto, a Tunísia, a Síria). Em alguns destes países vivem comunidades cristãs significativas que têm medo, e por vezes mesmo muito medo. Será que estes dois factores se reflectem nesta mensagem ou no trabalho do Conselho Pontifício que dirige?

Cardeal Tauran : Sim, em ambos os casos. Acho que muitas vezes se confunde, na Europa, islamismo e o Islão, e não se pode negar que o fundamentalismo é um inimigo comum. Portanto, há um esforço que se deve fazer ao nível da inteligência, cultura, e isso só se pode fazer na medida em que os líderes religiosos estiverem conscientes da gravidade da situação e tiverem juntos a vontade de melhorar. Mas isto passa pela escola, a universidade, pela confiança mútua e pela amizade. Caso contrário, se ficará sempre um pouco como potenciais inimigos, e quanto mais a situação for difícil, tanto mais necessário é o diálogo.

Esta mensagem é excepcional na medida em que leva a assinatura do Papa. Quanto ao mérito, podemos ver algumas mudanças e "pata" do Papa Francisco?

Cardeal Tauran : Eu penso que o Papa Francisco está em linha com o Papa Bento XVI. Não devemos esquecer que o Papa Francisco sucede a um Papa que, acho eu, neste século, mais falou sobre o Islão. Um Papa que visitou três mesquitas. Portanto, creio que Francisco está determinado a continuar nesta linha de colaboração mútua, do desejo de se conhecer ainda mais, apesar das dificuldades. Quanto mais difícil for mais precisamos de dialogar: creio que é uma constante e firme convicção deste Papa, como aliás do seu predecessor.
Continuidade no fundo e portanto é, na forma que pode haver a mudança, na abordagem do Papa Francisco?

Cardeal Tauran : No primeiro dia do seu pontificado, quando ele falou com uma delegação de muçulmanos, ele foi extremamente cordial. No outro dia recebemos uma outra delegação, e ele foi de novo extremamente cordial. Todos ficaram impressionados com a sua simplicidade. Mas ele não é ingénuo, sabe perfeitamente quais as dificuldades, portanto através da bondade, existe certamente também a preocupação de não esquecer os cristãos que sofrem nalguns países de maioria muçulmana, não esquecendo também os muçulmanos que por vezes são discriminados noutros países. Acho que este é um homem que é ao mesmo tempo muito suave, muito simples, mas também muito consciente das dificuldades, não é um ingénuo.
Para além das declarações de boas intenções e das relações positivas que se podem observar em vários níveis, a realidade no terreno é por vezes difícil. Como fazer para educar ao respeito e aliviar as tensões?

Cardeal Tauran : Creio que antes de tudo é preciso ajudar os jornalistas porque, penso, os media têm uma grande importância. É preciso ajudar os jornalistas a informar bem e a estar bem informados. Em seguida, é preciso, através do ensino da religião nas escolas e universidades, quebrar os preconceitos. Praticamente a maioria dos problemas nascem da ignorância. Eu sempre digo que nós conseguimos evitar o choque de culturas, procuremos agora evitar o choque das ignorâncias.
Vê-se que o Islão político e o fundamentalismo estão longe de ser unânimes, incluindo e especialmente nos próprios Países muçulmanos. Está preocupado com o futuro destes Países e o dos países vizinhos, como o Líbano ou a Jordânia?


Cardeal Tauran : Sem dúvida porque, como sabe, o mal é contagioso ... O bem também, e então seria necessário tentar fazer prevalecer o bem sobre o mal! Mas não há dúvida de que a evolução que vemos no terreno político só pode suscitar preocupação, porque todos esses conflitos, obviamente, não são causados ​​pela religião ou religiões, mas a sua solução pressupõe uma dimensão religiosa.








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