Provincial dos Jesuítas na Itália comenta a homilia do Papa Francisco, na Missa celebrada
no dia de Santo Inácio
Cidade do Vaticano (RV) - “Ser homens arraigados e alicerçados na Igreja: assim
Jesus nos quer”. Esta é uma das passagens fortes da homilia que Papa Francisco pronunciou
aos jesuítas ontem, na Festa de Santo Inácio de Loyola, na Igreja de Jesus, em Roma.
Uma celebração de grande significado, sendo o Papa Bergoglio o primeiro Pontífice
da Companhia de Jesus. A Rádio Vaticano conversou com o Provincial dos Jesuítas na
Itália, Padre Carlo Casalone:
R: “Tem-se a impressão de grande familiaridade
e de grande proximidade do Papa Francisco, que conhece o seu caminho, a sua formação
dentro da Companhia e – como sublinhou o Padre Geral Adolfo Nicolás – se sente jesuíta,
pensa como jesuíta”.
RV: Papa Francisco alertou sobre ‘o construir caminhos
paralelos’ no seio da Igreja, dizendo, no entanto, que quanto à criatividade não existe
nenhum problema.
R: “Sobre isto devo dizer que o Papa Francisco retoma as
palavras que também Bento XVI disse à Congregação Geral dos Jesuítas em 2008: “Ir
às fronteiras”. Ir às fronteiras quer dizer ir àqueles lugares, que ele chama periferias,
onde se está menos presente: são periferias não somente geográficas, mas também culturais
e existenciais de pobreza, de marginalidade, de fragilidade, às quais o Evangelho
em particular se dirige. Ou seja, trata-se de encontrar novas modalidades na lógica
da nova evangelização, que não mudem o Evangelho, mas mudem o modo de levá-lo, de
testemunhá-lo, que renova àqueles que evangeliza ou a comunidade que evangeliza, de
modo que possa fazê-lo com renovada intensidade e numa modalidade que seja efetivamente
receptível para aqueles às quais se dirige”.
RV: Uma palavra ressoa com
urgência na homilia do Santo Padre, que é aquela da “vergonha”. Gostaria que nos ajudasse
a entender melhor em que sentido devemos falar de ‘vergonha...
R: “Papa
Francisco se reconhece profundamente radicado na espiritualidade da Companhia e esta
palavra que ele utilizou vem dos exercícios espirituais onde – na fase inicial do
percurso dos exercícios –, Inácio de Loyola fala da meditação sobre o pecado. Papa
Francisco diz que nós demoramos em sentir vergonha pelo mal no qual estamos envolvidos.
É certo, por outro lado, que nós reconhecemos o nosso limite e que procuramos honestamente
reconhecer estas zonas obscuras, aquele lado obscuro da nossa experiência humana,
que tem a ver com a vergonha e a culpa”.
RV: Poder-se-ia deduzir que daqui
nasce o motivo de renovação da Igreja?
R: “Penso que este seja um bom ponto
de partida, que inicia na conversão pessoas de cada fiel, a partir do Papa. Na viagem
de retorno da JMJ do Rio, o Papa falou: eu verdadeiramente não sei como será organizado
o IOR ou a cúria, porém sei que devemos trabalhar nisto, que devemos trabalhar nisto
juntos, que devemos confrontar-nos, que devemos reconhecer as coisas que não estão
bem e a partir Dalí, partir, honestamente e na simplicidade, para construir modalidades
melhores”.
RV: O Papa, quase ao final da homilia, inseriu duas evocações
iconográficas, que tem a ver com a imagem do crepúsculo, e fez referência aos dois
pilares da Companhia de Jesus: São Francisco Saverio e o Padre Pedro Arrupe...
R:
“Sim, definiu dois ícones dos jesuítas que deram sua vida até o fim, isto é, até
o crespúsculo, mas também até o fim existencialmente, isto é, que se doaram totalmente
à missão. Francisco Saverio, após a missão no Oriente, procurando ir até a China sem
conseguir, voltou então seu olhar a um novo horizonte missionário; e Padre Arrupe
que, no final do seu compromisso como Prepósito Geral da Companhia de Jesus, dedicou-se
até o fim na linha da oferta da própria vida ao serviço do Evangelho na Igreja”.
(JE)