Visita de Francisco à comunidade de Varginha: vocês não estão sozinhos, a Igreja e
o Papa estão com vocês
Rio de Janeiro (RV) - O Santo Padre realizou no final da manhã desta quinta-feira
um de seus compromissos mais aguardados desta sua primeira viagem apostólica internacional:
a visita, em Manguinhos, à comunidade de Varginha, uma favela hoje pacificada.
A
visita deu-se logo após o primeiro compromisso público do Santo Padre neste seu quarto
dia em terras brasileiras, ou seja, o recebimento das "Chaves da Cidade" do Rio de
Janeiro e a bênção das bandeiras dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016. O ato,
dividido em dois momentos, foi realizado no Palácio da Cidade, sede da prefeitura.
Ao
chegar à comunidade de Varginha, Francisco recebeu mais uma calorosa demonstração
de carinho e afeto do povo que, entusiasta, acolheu o ilustre visitante.
Acolhido
pelo pároco da comunidade, pelo vigário episcopal e pela Superiora das Irmãs da Caridade,
o Papa dirigiu-se à pequena igreja dedicada a São Jerônimo Emiliani – fruto da missão
dos Padres Somascos e das Irmãs Missionárias da Caridade –, onde se encontravam alguns
membros da comunidade paroquial. Após um momento de oração, Francisco abençoou um
novo altar e ofereceu um cálice de presente à paróquia.
Depois deste primeiro
momento, o Santo Padre seguiu a pé até o campo de futebol onde a comunidade se encontrava
reunida. No caminho pôde parar algumas vezes para saudar os presentes, abençoar a
todos, sobretudo, as crianças, fazer-lhes uma carícia, um gesto de carinho.
Antes
de chegar ao campo teve lugar um momento particularmente significativo. O Papa entrou
na residência de uma família: numa casa pequena encontravam-se presentes mais de 20
pessoas, entre crianças e anciãos. O Papa deteve-se com cada um deles, tomou uma criança
nos braços, abençoou-a e posou para uma foto-recordação com cada um. No final, todos
juntos, rezaram o Pai-Nosso e a Ave-Maria.
Somente depois chegou então ao campo
de futebol sendo acolhido com visível comoção e entusiasmo pela multidão. Ali um casal
dirigiu-lhe uma breve saudação de boas-vindas, chamando-o de Pai Francisco:
Inicialmente
afirmando que muitos se perguntavam sobre o motivo da escolha da visita àquela comunidade,
sendo uma comunidade igual a tantas outras, concluíram dizendo ter encontrado a resposta:
"Talvez somente
agora, Pai, é possível encontrar a resposta porque esta comunidade está recebendo
a sua visita. Porque somos pequenos, pobres, esquecidos, e mesmo diante dos aplausos
e holofotes, permanecemos fiéis a Deus, simples, humildes e unidos. Esta comunidade,
como todas as demais comunidades do Rio de Janeiro e, ousamos dizer, do mundo, hoje
se sente visitada e recordada por aquele que é o “Doce Cristo na Terra”. Todas as
periferias olham e se identificam com o ministério que o senhor, Pai Francisco, continua
a exercer indo ao encontro daqueles que são “invisíveis” a sociedade. Obrigado, pelo
testemunho e amor!"
O Papa iniciou o seu discurso com uma exclamação:
"Que
bom poder estar com vocês aqui! Desde o início, quando planejava a minha visita ao
Brasil, o meu desejo era poder visitar todos os bairros deste País. Queria bater em
cada porta, dizer “bom dia”, pedir um copo de água fresca, beber um "cafezinho", não
um copo de cachaça, falar como a amigos de casa, ouvir o coração de cada um, dos pais,
dos filhos, dos avós... Mas o Brasil é tão grande! Não é possível bater em todas as
portas! Então escolhi vir aqui, visitar a Comunidade de vocês que hoje representa
todos os bairros do Brasil."
Após frisar como é bom ser bem acolhido, com amor,
generosidade, alegria, e por isso agradecer a todos, ressaltou a generosidade da qual
os pobres são particularmente prodigiosos, lançando em seguida um apelo:
"E povo brasileiro,
sobretudo as pessoas mais simples, pode dar para o mundo uma grande lição de solidariedade,
que é uma palavra frequentemente esquecida ou silenciada, porque é incômoda. Queria
lançar um apelo a todos os que possuem mais recursos, às autoridades públicas e a
todas as pessoas de boa vontade comprometidas com a justiça social: Não se cansem
de trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário! Ninguém pode permanecer insensível
às desigualdades que ainda existem no mundo! Cada um, na medida das próprias possibilidades
e responsabilidades, saiba dar a sua contribuição para acabar com tantas injustiças
sociais! Não é a cultura do egoísmo, do individualismo, que frequentemente regula
a nossa sociedade, aquela que constrói e conduz a um mundo mais habitável, mas sim
a cultura da solidariedade; ver no outro não um concorrente ou um número, mas um irmão."
Além
disso, o Santo Padre lembrou que a "medida da grandeza de uma sociedade é dada pelo
modo como esta trata os mais necessitados, quem não tem outra coisa senão a sua pobreza".
Afirmando
que a Igreja, advogada da justiça e defensora dos pobres diante das intoleráveis desigualdades
sociais e econômicas, deseja oferecer a sua colaboração em todas as iniciativas "que
signifiquem um autêntico desenvolvimento do homem todo e de todo o homem", o Papa
disse:
"Queridos
amigos, certamente é necessário dar o pão a quem tem fome; é um ato de justiça. Mas
existe também uma fome mais profunda, a fome de uma felicidade que só Deus pode saciar.
Não existe verdadeira promoção do bem-comum, nem verdadeiro desenvolvimento do homem,
quando se ignoram os pilares fundamentais que sustentam uma nação, os seus bens imateriais:
a vida, que é dom de Deus, um valor que deve ser sempre tutelado e promovido; a família,
fundamento da convivência e remédio contra a desagregação social; a educação integral,
que não se reduz a uma simples transmissão de informações com o fim de gerar lucro;
a saúde, que deve buscar o bem-estar integral da pessoa, incluindo a dimensão espiritual,
que é essencial para o equilíbrio humano e uma convivência saudável; a segurança,
na convicção de que a violência só pode ser vencida a partir da mudança do coração
humano."
Ademais, antes de concluir Francisco quis deixar mais uma veemente
exortação:
"Também para
vocês e para todas as pessoas repito: nunca desanimem, não percam a confiança, não
deixem que se apague a esperança. A realidade pode mudar, o homem pode mudar. Procurem
ser vocês os primeiros a praticar o bem, a não se acostumarem ao mal, mas a vencê-lo.
A Igreja está ao lado de vocês, trazendo-lhes o bem precioso da fé, de Jesus Cristo,
que veio «para que todos tenham vida, e vida em abundância» (Jo 10,10)."
O
Pontífice concluiu reiterando que eles não estão sozinhos, que a Igreja está com eles,
o Papa está com eles, afirmando levar cada um em seu coração, confiando-os todos à
intercessão de Nossa Senhora Aparecida, Mãe de todos os pobres do Brasil, e com carinho
concedeu-lhes a sua Bênção. (RL)