Cidade do Vaticano (RV) - Não ser somente um
símbolo mas um sinal que indica uma estrada a ser percorrida. O Papa Francisco na
última segunda-feira, visitando Lampedusa – ilha situada no extremo-sul da Itália
– sacudiu mais uma vez a consciência de todos aqueles que ainda viram o rosto para
o outro lado diante das dificuldades do irmão necessitado. Francisco fez um veemente
e forte apelo para acabar com a indiferença diante de tantos irmãos que sofrem.
Lampedusa,
para melhor nos situarmos, é conhecida como a ilha da esperança para milhares de imigrados
africanos que atravessam o Mediterrâneo em busca de um futuro melhor. A chegada desses
homens, mulheres e crianças à ilha, à ilha do sonho, do paraíso, da porta de entrada
da Europa é precedida por uma viagem longa, desumana, terrível, durante a qual muitos
perdem suas vidas: no olhar perdido dos que sobrevivem a essa odisséia sem fim, a
recordação da morte de tantos parentes e amigos que não conseguiram atravessar o mar.
Em seus corações, a dor por aquilo que deixaram para trás e a esperança por aquilo
que virá.
Foi a esses homens, mulheres e crianças vindos da outra margem do
Mediterrâneo que o Papa Francisco quis homenagear. Para rezar com eles e por eles.
A idéia de visitar a ilha de Lampedusa nasceu por causa dos contínuos desembarques
e naufrágios de migrantes, sobretudo provenientes da África. Tocado por esta série
de tragédias, o Santo Padre, decidiu fazer essa visita à comunidade de Lampedusa e
aos imigrantes sobreviventes, para com eles rezar e dar-lhes coragem a superar com
dignidade a dramática situação.
Para o Papa era importante que se entendesse
o significado desta sua visita: um gesto importante e significativo, como disse na
sua homilia de “chorar por aqueles que morreram no caminho rumo a uma condição melhor
de vida”; mas também gesto de solidariedade para com todos aqueles que sofrem neste
mesmo caminho e de solidariedade e encorajamento para com todos aqueles que se empenham
efetivamente em acolhê-los e a permitir-lhes que prossigam rumo a uma vida melhor.
As
palavras do Papa foram duras críticas ao que ele chamou de “globalização da indiferença”
provocada por uma “cultura do bem estar” que leva as pessoas a viverem em “bolhas”
na ilusão “do fútil, do provisório”.
Mas agora Lampedusa, a viagem do Papa
e o encontro com os últimos e com a população local não deve ser só um símbolo, mas
sim a indicação de que é possível mudar as coisas. Os refletores da mídia, que se
acenderam no último dia 8 de julho quando o Papa tocou a terra de Lampedusa, já se
apagaram, mas os desembarques daqueles que sonham uma vida melhor, continuam. E esses
filhos de Deus continuam, de modo desesperado a desafiar a morte perseguindo o sonho
da liberdade.
O Papa foi rezar por aqueles que perderam a vida, mas também
foi a Lampedusa para sacudir a consciência de todos, a nossa, do valor da vida, de
que não se pode ficar indiferente diante da situação de milhões de pessoas que padecem
as necessidades mais básicas para a sobrevivência.
Os votos são de que a viagem
do Papa a Lampedusa, um lugar talvez desconhecido para milhões de pessoas, seja o
início da construção de uma ponte que ligue a opulenta e fechada Europa à África,
ao mundo dos excluídos; uma ponte que una, num só abraço pessoas de todas as partes
do mundo, que lutam para ter uma vida digna.
O Papa Francisco nas palavras
proferidas em Lampedusa tocou os corações das pessoas e chamou a atenção dos meios
de comunicação, principalmente quando usou a expressão “globalização da indiferença”
e pediu perdão pelas mortes absurdas de pessoas que buscavam uma vida melhor. Se chegamos
à globalização da indiferença, e ao fato de que o outro é somente um problema, é porque
não vivemos corretamente o nosso cristianismo.
Ainda durante a sua homilia,
na celebração da Santa Missa, o Santo Padre não esqueceu dos muçulmanos presentes,
dirigindo um pensamento pelo início do jejum do Ramadã, o mês sagrado para os muçulmanos
e concluíndo; “a Igreja está ao seu lado na busca de uma vida mais digna, para vocês
e suas famílias. A vocês “O’sciá!”.
Papa Francisco mais uma vez toca o coração
das pessoas e faz um forte chamado à consciência de todos, para sairmos de nossas
posições conformistas. Ele com o seu gesto nos ensina a contrastar a indiferença e
a superar com gestos concretos o egoísmo da nossa comodidade. (Silvonei José)