2013-07-11 17:51:06

Mensagem para Jornada Mundial do Turismo 2013
(27 de Setembro) - “Turismo e água: proteger o nosso futuro comum”


Texto integral da Mensagem do Conselho Pontifício para a pastoral dos migrantes e itinerantes:

Em 27 de Setembro celebramos o Dia Mundial do Turismo, de acordo com o tema que a Organização Mundial do Turismo propôs para este ano: "Turismo e água: proteger o nosso futuro comum". Este tema está de acordo com o "Ano Internacional da Cooperação para a Água", que no contexto da Década Internacional para a Acção "A água, fonte de vida" (2005-2015), foi proclamado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, com a finalidade de destacar "que a água é fundamental para o desenvolvimento sustentável, em particular para a integridade ambiental e a erradicação da pobreza e da fome, é indispensável para a saúde e o bem-estar do homem, e é fundamental para alcançar os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio".
Também a Santa Sé deseja unir-se a esta comemoração, trazendo a sua contribuição do âmbito que lhe é próprio, consciente da importância que o fenómeno do turismo tem no momento actual e dos desafios e possibilidades que oferece à nossa acção evangelizadora. Este é um dos sectores económicos com o maior e mais rápido crescimento a nível mundial. Não devemos esquecer que durante o ano passado foi superada a marca de um bilhão de turistas internacionais, aos quais se devem adicionar os números ainda mais elevados do turismo local.
Para o sector turístico, a água é de crucial importância, um bem e um recurso. É um bem enquanto as pessoas se sentem naturalmente atraídas por ela e são milhões os turistas que procuram desfrutar este elemento da natureza durante os seus dias de repouso, escolhendo como destino alguns ecossistemas em que a água é o elemento mais característico (zonas húmidas, praias, rios, lagos, cataratas, ilhas, glaciares ou neve, só para citar alguns), ou procurando aproveitar os seus numerosos benefícios (particularmente balneários e centros termais). Ao mesmo tempo, a água é também um recurso para o sector turístico e é indispensável, entre outras coisas, para os hotéis, restaurantes e actividades de lazer.
Com um olhar no futuro, o turismo será um verdadeiro benefício na medida em que for capaz de gerir os recursos segundo os critérios de uma "green economy", uma economia cujo impacto ambiental se mantenha dentro de limites aceitáveis​​. Somos, portanto, chamados a promover um turismo ecológico, respeitoso e sustentável, que certamente pode favorecer a criação de postos de trabalho, apoiar a economia local e reduzir a pobreza.
Não há dúvida de que o turismo desempenha um papel fundamental na conservação do meio ambiente, podendo ser un grande aliado, mas também um inimigo feroz. Se, por exemplo, à procura de um benefício económico rápido e fácil, se consente que a indústria turística contamine um lugar, este deixará de ser um destino preferido pelos turistas.
Sabemos que a água, chave do desenvolvimento sustentável, é um elemento essencial para a vida. Sem água não há vida. "No entanto, ano após ano, aumenta a pressão sobre este recurso. Uma em cada três pessoas vive num País com escassez de água de moderada a alta, e é possível que em 2030 a escassez afecte a quase metade da população mundial, já que a demanda poderia superar a oferta em 40%". Segundo dados das Nações Unidas, cerca de um bilhão de pessoas não têm acesso à água potável. E os desafios relacionados com este tema aumentarão significativamente nos próximos anos, sobretudo porque está mal distribuída, contaminada, desperdiçada, ou se priorizam alguns usos de modo incorrecto ou injusto, ao que se acrescentarão as consequências das alterações climáticas. Também o turismo compete muitas vezes com outros sectores para a sua utilização e, não raro constata-se que, a água é abundante e se desperdiça nas estruturas turísticas, enquanto as populações circundantes carecem dela.
A gestão sustentável deste recurso natural é um desafio de ordem social, económica e ambiental, mas sobretudo de natureza ética, a partir do princípio do destino universal dos bens da terra, que é um direito natural, originário, ao qual se deve subordinar todo o ordenamento jurídico relativo a tais bens. A Doutrina Social da Igreja insiste na validade e na aplicação deste princípio, com referências explícitas à água.
Certamente, o nosso compromisso em favor do respeito pela criação nasce do facto de a reconhecermos como um dom de Deus para toda a família humana, e da escuta ao Criador que nos convida a guardá-la, conscientes de que somos administradores, e não proprietários, do dom que nos faz.
A atenção pelo meio ambiente é um tema importante para o Papa Francisco, ao qual fez numerosas alusões. Já na celebração eucarística do início do seu ministério petrino nos convidava a ser "guardiões da criação, do desígnio de Deus inscrito na natureza, guardiões do outro, do meio ambiente; não deixemos - dizia - que os sinais de destruição e morte acompanhem o caminho deste nosso mundo", recordando que "tudo está confiado à custódia do homem, e é uma responsabilidade que nos afecta a todos".
Aprofundando este convite, o Santo Padre afirmava durante uma Audiência: "Cultivar e guardar a criação é uma indicação de Deus dada não só no início da história, mas a cada um de nós; é parte do seu projecto; quer dizer fazer crescer o mundo com responsabilidade, transformá-lo para que se torne um jardim, um lugar habitável para todos [...]. Mas nós, pelo contrário, somos muitas vezes guiados pela soberba do dominar, do possuir, manipular, explorar; não a "guardamos", não a respeitamos, não a consideramos como um dom gratuito de que se deve cuidar. Estamos perdendo a atitude da maravilha, da contemplação, da escuta da criação".
Se cultivarmos esta atitude de escuta, poderemos descobrir como a água nos fala também do seu Criador e nos recorda a sua história de amor para com a humanidade. É eloquente a este propósito a oração de bênção da água que a liturgia romana usa tanto na Vigília Pascal como no ritual do baptismo, na qual se recorda que o Senhor se serviu deste dom como sinal e memória da sua bondade: a Criação, o dilúvio que põe fim ao pecado, a passagem do Mar Vermelho que liberta da escravidão, o baptismo de Jesus no Jordão, o lava-pés que se transforma em preceito de amor, a água que emana do lado do Crucificado, o mandato do Senhor Ressuscitado para fazer discípulos e batizá-los ... são marcos fundamentais da história da salvação, nos quais a água assume um elevado valor simbólico.
A água nos fala de vida, de purificação, de regeneração e de transcendência. Na liturgia, a água manifesta a vida de Deus que nos é comunicada em Cristo. O mesmo Jesus se apresenta como aquele que sacia a sede, de cujo seio brotarão rios de água viva (cf. Jo 7, 38), e no seu diálogo com a Samaritana afirma: "quem beber da água que eu lhe der jamais terá sede" (Jo 4, 14). A sede evoca os anseios mais profundos do coração humano, os seus fracassos e a sua busca por uma autêntica felicidade mais para lá de si mesmo. E Cristo é aquele que oferece a água que sacia a sede interior, é a fonte do renascimento, é o banho que purifica. Ele é a fonte de água viva.
Por isso, é importante reiterar que todos os que estão envolvidos no fenómeno do turismo têm uma forte responsabilidade na gestão da água, de modo que este sector seja efetivamente fonte de riqueza a nível social, ecológico, cultural e económico. Enquanto se deve trabalhar para reparar os danos causados, deve-se também incentivar o seu uso racional e minimizar o impacto, promovendo políticas adequadas e implementando equipamentos eficientes, que ajudem a proteger o nosso futuro comum. A nossa atitude para com a natureza e a má gestão que podemos fazer dos seus recursos não podem gravar nem sobre os outros, e nem menos ainda sobre as futuras gerações.
E’ necessária, portanto, uma maior determinação por parte dos políticos e empresários, pois apesar de estarmos conscientes dos desafios que o problema da água nos coloca, temos consciência que isto ainda deve concretizar-se em compromissos vinculantes, precisos e verificáveis.
Esta situação exige acima de tudo uma mudança de mentalidade que leve a adoptar um estilo de vida diverso, caracterizado pela sobriedade e a autodisciplina. Deve-se garantir que o turista seja consciente e reflita sobre as suas responsabilidades e sobre o impacto da sua viagem. Ele deve ser capaz de chegar à convicção de que nem tudo é permitido, mesmo que pessoalmente ele possa assumir o custo económica. Devemos educar e incentivar os pequenos gestos que nos permitem não desperdiçar ou contaminar a água e, ao mesmo tempo, nos ajudam a apreciar ainda mais a sua importância.
Fazemos nosso o desejo do Santo Padre de tomarmos "todos o sério compromisso de respeitar e guardar a criação, de estar atentos a cada pessoa, de combater a cultura do desperdício e do descarte, para promover uma cultura da solidariedade e do encontro".
Com São Francisco, o "poverello" de Assis, elevamos o nosso louvor a Deus, abençoando-o pelas suas criaturas: "Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã Água, a qual é muito útil e humilde e preciosa e casta".

Cidade do Vaticano, 24 de Junho de 2013




Antonio Maria Card. Vegliò
Presidente



X Joseph Kalathiparambil
Secretário








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