Cidade do Vaticano (RV) – Nos últimos tempos
presenciamos cada vez mais na mídia, informações que nos relatam sobre perseguições
de cristãos e fiéis vítimas do “odium fidei”, ódio da fé; ou seja morrer por causa
da fé que se professa. Notícias de todas as partes do mundo; da Ásia à África, da
Europa à América. São muitas as realidades cristãs em dificuldades nos quatro cantos
do nosso planeta. Muitas são Igrejas jovens, que frequentemente trabalham num clima
de dificuldade, de discriminação, e também de perseguição. No último mês de maio,
recebendo em audiência os participantes na Assembleia Geral das Pontifícias Obras
Missionárias, o Papa Francisco sublinhou que muitos povos ainda não conheceram nem
encontraram Cristo, é preciso levar a eles o Evangelho.
Nesta semana foi divulgado
nas redes sociais o martírio de um sacerdote católico eremita na Síria, Padre François,
onde as imagens apresentam a inexplicável ação de pessoas que tiram sua vida com a
euforia de fazer a vontade de Deus. Mas de qual Deus? A sua única culpa, ser cristão.
A questão da perseguição religiosa e do martírio não é um fato do passado,
dos primórdios do cristianismo mas é uma realidade de hoje que desafia e incomoda
o “Povo de Deus” deste século, chamado sempre mais, a testemunhar a verdade em uma
sociedade muitas vezes hostil e carente de Deus. Assim como no início da Igreja, também
hoje muitos são os perseguidos e mártires que testemunham com a sua vida, diante de
sociedades opressoras, a sua fé. Temos ainda muitos exemplos da atualidade como Dom
Romero em El Salvador e não distante da nossa realidade a Irmã Dorothy Stang, que
deu sua vida pelos últimos do Pará.
Tertuliano já dizia que “o sangue dos mártires
é semente de novos cristãos”: essa afirmação ressoa ainda mais forte nos dias de hoje
em que a Igreja, presente em todo o mundo, vê muitos de seus filhos padecerem por
sua fé e adesão a Cristo. Sabemos que na história o martírio é uma dimensão que pertence
à própria natureza do testemunho cristão; aliás martírio significa testemunho. É curioso
que muitos, quando se fala de martírio, perseguição pela fé, pensem a algo que pertence
ao passado, às origens do cristianismo. Certamente é assim! Mas seria também bom que
não somente os cristãos, envolvidos diretamente, mas todos soubessem que, de um ponto
de vista histórico, a época das perseguições e martírios é a nossa.
Segundo
um estudo do maior especialista de estatística religiosa moderna, David Barret, os
mártires cristãos desde a morte de Jesus Cristo, até os dias de hoje, são cerca de
70 milhões, 45 milhões desses, mais da metade, estão concentrados no século XX e nos
ínicios do século XXI. Já o Beato João Paulo II afirmava que o século dos mártires
foi o século XX.
No mundo ocidental, quando falamos de situações de alarme
no que diz respeito a perseguições e martírio por causa da fé, certamente vem em mente
por primeiro o fundamentalismo islâmico. Basta recordar a lei sobre a blasfêmia no
Paquistão, que tanto os cristãos no país combatem e padecem, e agora as chacinas na
Síria. Mas para além das violências públicas, há também muitas violências privadas,
atentados em muitos países onde os cristãos são minoria. Há também territórios, como
na África e Ásia, onde os cristãos são considerados um corpo estanho, quase traidores
da cultura local, apesar da sua presença ser muito antiga.
Mas não devemos
esquecer também daquilo que ocorre no Ocidente, na Europa, certamente não na dimensão
da violência que se verifica em certas áreas da África e Ásia, todavia há uma sutil,
e nem sempre sutil, tentativa de discriminar, de marginalizar, de colocar à parte
o cristianismo, de negar a identidade cristã e as raízes cristãs, de agredir de vários
modos a Igreja e até o Santo Padre. Basta pensar nos símbolos religiosos retirados
dos lugares públicos, vistos por muitos como um ofensa ao laicismo do Estado.
De
todas as partes nos chegam notícias de perseguições e mortes de pessoas, que, por
causa de sua fé cristã, são vistas como traidoras e proseletistas. O Papa Francisco
nos últimos tempos não se cansa de pedir aos fiéis, aos cristãos que sejam verdadeiras
testemunhas do amor de Deus, verdadeiros seguidores de Cristo.
Esse é o momento
de olhar para aqueles nossos irmãos que sofrem a dor da perseguição e do martírio
por causa do seguimento de Cristo. É o momento de ajudarmos com a oração e não somente
com ela, os cristãos expulsos de suas casas e obrigados a viver longe de suas terras.
É o momento de sermos verdadeiramente cristãos, seguidores de Cristo, de demonstrarmos
a força da nossa fé. “Jesus quer cristãos livres como ele”. “O tempo dos mártires
ainda não terminou”. (Silvonei José)