Libertado assassino da missionária estadunidense Dorothy Stang
Cidade do Vaticano (RV) - Rayfran das Neves Sales, assassino confesso da missionária
estadunidense Dorothy Stang, condenado a 27 anos de prisão, foi libertado no último
dia 2, depois de passar somente 8 anos na cadeia. Ele estava na unidade prisional
no Centro de Progressão Penitenciária de Belém (CPPB).
A religiosa foi assassinada
em 12 de fevereiro de 2005 na área do Projeto de Desenvolvimento Sustentável Esperança,
em Anapu (PA), oeste paraense. Ela estava indo com um colaborador ao assentamento
rural 'Esperança' onde desde 1999 trabalhava num projeto de desenvolvimento sustentável
para permitir a 400 famílias de índios agricultores, mestiços e imigrantes viverem
numa área de 1.400 quilômetros quadrados em harmonia com a natureza, graças à agricultura
de baixa intensidade e produtos da floresta.
Por determinação do juiz Cláudio
Henrique Lopes Rendeiro, da 1ª Vara de Execuções Penais, Rayfran recebeu progressão
do regime semi-aberto para prisão domiciliar. Ele foi beneficiado com a medida por
apresentar bom comportamento, ter trabalhado e estudado durante o cumprimento da pena.
"O
nosso advogado esta verificando se existem realmente as condições para conceder esse
privilégio. Se assim não for, recorreremos", destacam alguns missionários ligados
à Comissão Pastoral da Terra (CPT).
"Como em outros países a legislação brasileira
concede o direito a esses benefícios em caso de bom comportamento na prisão", explicam
as fontes da CPT, organismo ligado à Igreja Católica.
"Em 2010, ressaltam
os missionários, Rayfran obteve alguns privilégios. Agora, de acordo com o juiz, ele
tem o direito de continuar a cumprir a pena em sua residência, embora com algumas
restrições: deverá encontrar um trabalho dentro de 60 dias e terá de voltar para casa
antes 22h e apresentar-se regularmente a cada mês a um juiz. Além disso, não poderá
freqüentar locais públicos. Mas quem terá interesse de controlar que tais regras sejam
respeitadas? Ninguém terá interesse ainda mais que Rayfran em Belém pode contar com
muitos amigos. Basta olhar para o que aconteceu com Clodoaldo Batista, cúmplice de
Rayfran, condenado a 17 anos. Três anos atrás, ele teve direito a uma permissão, saiu
da prisão e nunca mais voltou. Ninguém o procurou. Também deve-se notar que em 15
de maio passado, o Supremo Tribunal anulou a sentença de 30 anos para latifundiário
Vitalmiro Bastos de Moura, um dos mandantes do assassinato de Irmã Dorothy", disseram
os missionários à Agência Misna.
"Esta não é uma história do passado, acontece
continuamente hoje. Quem defende os pequenos e seus direitos sobre a terra, se posiciona
contra os interesses das elites poderosas e coloca sua vida em perigo. A reforma agrária
manteve-se num ângulo, dominada pela prioridade representada pelo agronegócio. O Brasil
continua sendo um país que caminha com duas velocidades", concluem as fontes. (MJ)