Síria: sacerdote belga e mosteiro na mira de jihadistas
Damasco (RV) – O sacerdote belga, Padre Daniel Maes, de 74 anos, da congregação
dos "Cônegos Regulares Premonstratenses", está na mira de grupos jihadistas que pretendem
eliminá-lo e invadir o mosteiro de São Tiago mutilado, em Qara, 90 km ao norte de
Damasco. O mosteiro, pertencente à diocese greco-católica de Homs, e está localizado
em uma área que poderia ser ocupada para se tornar base logística dos rebeldes. Após
a morte do Padre François Murad, no último 23 de junho, a comunidade cristã na Síria
está preocupada. As linhas de comunicação com o mosteiro estão interrompidas. O alerta
foi dado por alguns líderes católicos sírios e pelas famílias dos monges que vivem
no mosteiro, pertencentes a nove nacionalidades diversas. Padre Maes ensinou teologia
moral na Bélgica por 20 anos e desde 2010 reside no mosteiro, onde è Diretor do Seminário.
O Convento de São Tiago em Qara é uma antiga estrutura que remonta ao século V e abriga
uma comunidade monástica feminina, guiada pela religiosa palestina Ir. Agnes Mariam
de La Croix. Ao longo dos anos passou a abrigar também uma comunidade religiosa masculina
e famílias de leigos cristãos, sunitas e alawitas. Nos últimos meses o convento
foi danificado por bombardeios do exército regular, que buscava destruir presumíveis
depósitos de armas nas fossas localizadas junto ao mosteiro, que na época bizantina
eram usadas para armazenar água. Desde o início da guerra civil síria, o mosteiro
acolhe famílias de refugiados, independente da pertença religiosa. Padre Daniel mantém
contatos estreitos com grupos de sírios na França, Bélgica e Holanda, através associações
de voluntariado que enviam ajuda humanitária para os deslocados. Recentemente o
sacerdote denunciou a ‘limpeza étnica’ realizada contra os cristãos em Qusair, quando
a cidade foi tomada por rebeldes e por grupos jihadistas. “As localidades cristãs
circundantes foram destruídas e todos fiéis que puderam ser capturados foram mortos,
movidos por ódio sectário”, denunciou. “Por decênios, cristãos e muçulmanos viveram
em paz na Síria. Se grupos criminosos podem dispersar e aterrorizar os civis, isto
não é contra as leis internacionais? Quem protegerá os inocentes e poderá garantir
o futuro deste país?”, questiona o sacerdote. Ao descrever a situação social vivida
na Síria, padre Maes diz que “os jovens estão desiludidos, porque são as potências
estrangeiras que ditam a sua agenda. Os muçulmanos moderados estão preocupados, porque
os salafitas e fundamentalistas querem impor uma ditadura totalitária de matiz religiosa.
Os cidadãos estão aterrorizados porque são vítimas inocentes de grupos armados”. Ao
concluir, o sacerdote afirma que “o regime sírio perdeu a credibilidade há muito tempo.
A urgência hoje é fazer o país sobreviver. O próprio povo sírio deve reformar o país,
segundo um processo de verdadeira democracia: um povo que, autonomamente, garanta
a igualdade de tratamento para todos”. (JE)