2013-07-04 12:58:21

Jesus e as multidões


Jales (RV) - No contexto de tantas manifestações populares, é iluminador conferir a atitude de Jesus diante das multidões.

Uma primeira constatação não deixa dúvidas: Jesus sabia acolher as multidões, e entretê-las por um dia inteiro, atentas à sua palavra.

Mas ao mesmo tempo Jesus sabia “despedir” as multidões, de maneira prudente e apropriada.

São diversas as circunstâncias em que Jesus se viu às voltas com as multidões. Valha para a reflexão deste momento, a passagem de Mateus, no seu capítulo 14: “Quando as multidões o souberam, saíram das cidades, e o seguiram a pé. Ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão. Encheu-se de compaixão por eles”.(Mt 14,14)

Mateus insere neste contexto o episódio da multiplicação dos pães. Ao chegar à tarde, vendo aquela multidão, os discípulos acharam por bem sugerir ao Mestre que despedisse as multidões, “para que fossem aos povoados comprar comida”.

Os discípulos estavam apelando para a lei do mercado. Que cada um comprasse o seu alimento. A solução não viria do mercado, mas da solidariedade.

Jesus surpreendeu os discípulos, dizendo: “eles não precisam ir embora. Dai-lhes vós mesmos de comer”.

Com os poucos pães que tinham, certamente escondidos, se desencadeou uma surpreendente partilha, em que todos ficaram saciados. Resultou evidente o milagre. Seja o da “multiplicação” do pão, como o milagre mais difícil da partilha fraterna.

Mas o episódio não pára aí. Mateus prossegue, narrando que “logo em seguida, Jesus mandou que os discípulos entrassem no barco, e fossem adiante dele para a outra margem do lago, enquanto ele despediria as multidões. Depois de despedi-las, subiu à montanha, a sós, para orar.” (Mt 14,22-23)

Depois de atendidas, aí sim, Jesus despediu as multidões, de maneira firme e decidida. Não convinha que continuassem por lá, mesmo que a noite estivesse próxima.

Os dois gestos, tanto de acolhida como de despedida, eram fruto do amor e da compaixão que Jesus tinha para com as multidões. Elas precisam ser bem acolhidas, elas precisam também ser bem despedidas.

Qual das duas providências implicava uma responsabilidade maior? Pensando bem, e constatando as circunstancias, a despedida das multidões revela mais a responsabilidade que Jesus tinha com o povo. Mais do que com a acolhida. Pois a acolhida resultava da iniciativa das próprias multidões. Ao passo que a despedida era fruto da providência expressa de Jesus.

E por quê?

Porque as multidões sempre requerem responsabilidade em lidar com elas, para evitar situações que as coloquem em risco. E´ interessante que neste mesmo episódio, Mateus acaba revelando onde morava o perigo. Observa ele que “quando soube que Herodes tinha matado a João, Jesus partiu imediatamente de onde estava, e se dirigiu para o deserto.”

Jesus se precaveu. Diante da truculência de Herodes, precisava preservar sua vida. E a vida do povo também.

Naquele tempo era perigoso provocar aglomerações. Toda atenção era pouca.

Sempre será pouca! Para garantir uma boa acolhida. Mas também para garantir que as multidões possam voltar para casa saciadas, não só de pão, mas da vontade que expressam de participar nas decisões que implicam a segurança e a dignidade de suas vidas!

D. Demétrio Valentini







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