Um escritor judeu, com o diálogo, trabalha para aproximar religiões
Roma (RV) – ‘Encontrar o inimigo, dialogar com ele’. Esta é a filosofia do
escritor judeu, Marek Halter, nascido no Gueto de Varsóvia em 1936. Com a bênção de
Golda Meir – Primeira-ministra de Israel entre 1969 e 1974 -, ele encontrou o líder
palestino Yasser Arafar em 1969, quando este era o inimigo público numero 1. Marek
será recebido pelo Papa Francisco proximamente, junto a uma delegação de Imames independentes.
Na
noite desta quinta-feira, o escritor polonês subirá ao palco na Basílica de Massenzio,
em Roma, durante o Festival de Literatura dedicado ao tema “Na mesa com o inimigo”.
Ele estará acompanhado pelo poeta coreano Ko Un – candidato ao Prêmio Nobel diversas
vezes – e do escritor italiano Andrea Bajani, acompanhados pela música da Orquestra
Bim.
Marek anuncia que “levará uma delegação de Imames independentes numa
Audiência com o Papa Francisco. É uma 'peripécia' muito divertida e pode ser um primeiro
passo para um diálogo inter-religioso. Eu escrevi ao Papa – que havia conhecido em
Buenos Aires quando era Cardeal em Buenos Aires – e a sua secretaria me respondeu
que seremos recebidos durante uma grande conferência inter-religiosa, que espero seja
agendada para antes do Ramadã de 15 de julho próximo”.
O escritor judeu
alerta para o fato de que hoje “não existe mais o império comunista, mas estamos criando
um novo perigo, o Islã: um bilhão de pessoas, entre as quais existem seguramente alguns
muito violentos, mas não são os únicos. Se acabarmos cristalizando este ódio contra
os muçulmanos, existirá a pior guerra que se possa imaginar, a guerra de religiões”,
alertou.
“A janta com o inimigo que eu gostaria de fazer hoje – explica
– seria com o Ayatolá Khamenei que quer destruir Israel, nega a Shoah e diz que o
povo judeu não existe. Gostaria de estar diante dele para dizer-lhe que existo e para
recordar-lhe que os seus antepassados, os persas, ajudaram os judeus a reconstruir
o templo de Jerusalém depois que os babilônios o destruíram”.
O autor de
Abraão, O cabalista de Praga e Protocolo Kremlim, viveu na Rússia antes de transferir-se
para a França nos anos 50. Ele foi o artífice dos primeiros encontros entre israelenses
e palestinos. Para ele, “a palavra é uma chave que abre o paraíso, porém é necessário
aprender a falar. Digo isto a todos os Ministros do Interior de Paris – afirma - que,
ao invés de mandarem a polícia às periferias, deveriam falar com as pessoas e assim
não existiriam mais incêndios de automóveis. Eu compreendi que a violência inicia
onde acabam as palavras. A maior critica que faço ao governo israelense é a de não
ensinar árabe nas escolas”.
Atualmente, Marek Halter está escrevendo uma
trilogia sobre as mulheres que fizeram o Islã: a primeira e a última mulher de Maomé
e a filha Fátima. “Os muçulmanos não conhecem a sua história. Talvez este livro os
fará refletir sobre sua relação com as mulheres”, afirmou. (JE)