Uberaba (RV) - A convulsão social que se aninhou em nossa pátria, nas últimas
semanas, é coisa nunca vista em país tropical. Aparentemente é resultado de um inconsciente
coletivo, protagonizado pela classe média, com objetivos que se foram clarificando
com o correr do tempo. A multidão nem sempre sabia para onde ir. Em alguns momentos
chegou a lembrar a tomada da Bastilha, da revolução francesa. Vamos partir do princípio
de que o movimento, nas suas intenções, é válido. Os manifestantes quiseram dizer:
agora chega; vocês são uns aproveitadores; as lideranças não tem interesse pelo
povo; vocês são uns podres. É claro que os anarquistas (que não foram tão poucos),
encontraram ambiente para expressar o tipo de governo impossível que desejam. Jesus,
nosso eterno modelo, amou a sua pátria, como narra o evangelista: “chegando
e vendo a cidade de Jerusalém, chorou sobre ela” (Lc 19, 31). Nós não chegamos
ao ponto de prever uma catástrofe nacional. Mas estamos prevendo que muita gente vai
“matar a bola no peito”. Explico-me.
Todos os dirigentes públicos, de qualquer
nação, precisam fechar as atenções em cima de um “projeto de nação”. São os
planos de desenvolver objetivos de bem comum, referentes à saúde pública, à educação
da nova geração, de fortalecimento da moeda, da produção industrial e agrícola, de
segurança na liberdade de ir e vir, de proteger a livre iniciativa dos cidadãos, de
combater a corrupção. O que se vê, muitas vezes, é uma ardorosa retórica em cima desses
pontos. Mas só válidos enquanto estiverem a serviço do segundo projeto, esse sim,
o dinamizador de todas as atividades. Trata-se do “projeto de poder”. Tudo
é feito para seqüestrar as atenções da população, e garantir a próxima eleição. As
ações devem produzir impactos eleitoreiros. Qual é o real perigo a que estamos expostos?
É que as lideranças entenderam muito bem o que o povo deseja pelas suas manifestações.
Querem uma seriedade total no projeto de nação. Querem dirigentes de nação
que sejam estadistas. Mas os espertos vão torcer a vontade popular, modificando rapidamente
o seu projeto de poder, fazendo de conta que o levante popular não é com eles.
Dom
Aloísio Roque Oppermann scj – Arcebispo Emérito de Uberaba, MG. Endereço
eletrônico: domroqueopp@terra.com.br