Rio de Janeiro (RV) -Estamos exatamente a um mês do início da JMJ aqui no Rio
de Janeiro. O nosso país vê a juventude tomar as ruas e procurar ser protagonistas
de um mundo novo, como rezamos na Oração Oficial da JMJ. É um momento histórico, em
que somos chamados a participar com nossa vida e nossas convicções para que a construção
de uma nova sociedade conte com a participação de todos. Neste XII Domingo do Tempo
Comum, o Evangelho nos mostra as razões que alimentam nossa vida e nossa esperança,
e nos dão conteúdo para nossa missão e serviço. Apresenta-nos um momento significativo
do caminho de Jesus, quando Ele pergunta aos discípulos o que as pessoas pensam dele
e como eles mesmos O julgam. São Pedro responde em nome dos Doze, com uma profissão
de fé que se diferencia de modo substancial da opinião que as pessoas têm sobre Jesus;
com efeito, ele afirma: “Tu és o Messias de Deus”! (cf. Lc 9, 20). Muitos de nós,
nesse mundo secularizado em que vivemos, poderia perguntar: De onde nasce este ato
de fé? Se formos ao início deste trecho evangélico, constataremos que a confissão
de Pedro está ligada a um momento de oração: "Jesus rezava num lugar afastado. Os
discípulos encontravam-se com Ele", diz São Lucas (cf. 9, 18). Ou seja, os discípulos
são envolvidos no ser e no falar absolutamente únicos de Jesus com o Pai. E deste
modo eles são convidados a ver o Mestre no íntimo da sua condição de Filho, é-lhes
concedido ver aquilo que os outros não conseguem ver. Mas sabemos também que é ação
do Espírito Santo na vida de Pedro que o faz professar que Cristo é o Salvador do
mundo. Os discípulos, de fato, "estão com Ele". "Permanecer com Ele" em oração
deriva em um conhecimento que vai além das opiniões das pessoas para chegar à profunda
identidade de Jesus – à verdade. A primeira pergunta denota as diversas interpretações
de ontem e de hoje sobre Jesus. Que diz o povo que eu sou? A liturgia desta semana
nos oferece uma indicação bem específica para a vida e a missão de todo fiel batizado:
na oração, ele é chamado a redescobrir o rosto sempre novo do seu Senhor e o conteúdo
mais autêntico da sua missão. Só quem mantém uma relação íntima com o Senhor é conquistado
por Ele, que se deixa conduzir pelo Espírito Santo, pode levá-Lo aos outros, pode
ser enviado. Trata-se de um "permanecer com Ele", que deve acompanhar sempre o nosso
itinerário de fé. Depois da confissão de Pedro, Jesus anuncia a sua paixão e ressurreição,
fazendo seguir-se a esse anúncio um ensinamento relativo ao caminho dos discípulos,
que consiste em segui-Lo, em seguir o Crucificado, em segui-Lo ao longo do caminho
da cruz. E depois acrescenta – com uma expressão paradoxal – que o ser discípulos
significa "perder-se a si mesmo", mas para voltar a encontrar-se plenamente a si mesmo"
(cf. Lc 9, 22-24). Que significa para o cristão perder-se a si mesmo? O sinal distintivo
do poder de nosso Senhor Jesus Cristo é a cruz que Ele carregou nas costas. Com efeito,
a todos Jesus dizia: "Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua
cruz, dia após dia, e siga-me" (Lc 9, 23). Tomar a cruz significa comprometer-ser
para derrotar o pecado que impede o caminho rumo a Deus, aceitar diariamente a vontade
do Senhor, aumentar a fé, sobretudo diante dos problemas, das dificuldades e dos sofrimentos.
Na época hodierna, muitos são os cristãos no mundo que, animados pelo amor a Deus,
tomam todos os dias a cruz, tanto a das provações quotidianas como a provocada pela
barbárie humana, que às vezes exige a coragem do sacrifício extremo. No kit da JMJ,
os jovens terão uma cruz para que coloquem em seu peito. Nestes dias, um dos símbolos
da JMJ, a cruz, percorre o nosso Estado e no início do próximo mês estará aqui na
capital. O Senhor conceda que cada um de nós deposite sempre a nossa esperança sólida
em Cristo, persuadidos de que, seguindo-O e carregando a nossa cruz, chegaremos juntamente
com Ele à luz da Ressurreição. A cruz e a morte estão intimamente ligadas ao messianismo
de Jesus. A concepção triunfalista cai por terra. O cristão deve saber que o seguimento
de Jesus sempre terá cruzes, porém, cruz gloriosa, pois nela Cristo venceu a morte.
A escolha de Jesus é o caminho do “servo sofredor”, inspirado no livro Segundo Isaías
(Is 40-55). Decorre daí que o seguimento de Jesus se concretiza por meio de rupturas
e opções. Rupturas com toda forma de egoísmo e poder; com toda preocupação de buscar
o brilho próprio dos que dominam, dos que são obcecados em pregar a si mesmo e não
a Cristo, daqueles que fazem de tudo para destruir o outro e não entendem que Deus
acolhe os mais humildes e os sofredores. Opções pelo serviço humilde e abnegado em
vista de uma sociedade de amor, de justiça e de paz. De fato, Jesus não anuncia a
sua morte como fato definitivo. A ressurreição é o destino dos que dão a vida pelo
Reino. O êxodo pelo qual Jesus tem de passar, incluindo a própria morte, vai possibilitar
a entrada na terra da liberdade e da vida plena, onde já não haverá egoísmo nem dominação
de espécie alguma. Pela adesão em Jesus Cristo nos tornamos semelhantes a Ele.
Pelo batismo nos revestimos de Jesus, mergulhamos na sua própria vida. Agora nos tornamos
uma unidade na diversidade. Portanto, “não há mais diferença entre judeu e grego,
entre escravo e livre, entre homem e mulher”. Ficam assim eliminadas as barreiras
que nos separavam, sejam de raça, de gênero ou de classe social. Somos chamados a
construir uma civilização nova, do amor, em que Justiça e Paz se abraçarão!A JMJ daqui
a um mês será um belo momento de manifestarmos esses ideais ao mundo! † Orani
João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio
de Janeiro, RJ