Cidade do Vaticano (RV) – Esta semana no Vaticano
foi uma semana vivida intensamente, principalmente pelo Papa Francisco que teve muitas
audiências particulares e a audiência geral da quarta-feira, momento de festa para
milhares de fiéis italianos e de outros países; na última quarta-feira, apesar do
forte calor, mais de 70 mil pessoas lotaram a Praça São Pedro para ver e ouvir Francisco.
Também nesta semana o Santo Padre voltou a sacudir as consciências com suas afirmações
e interrogações. Duas delas ecoam ainda nos nossos ouvidos: “é um escândalo que fere
toda a humanidade saber que há seres humanos que perambulam pelo mundo, arrancados
– pela guerra, pela violência, pela perseguição, pela catástrofe, pela lei – da sua
terra natal, do seu país, da sua família, da sua vida. O Papa se referia aos refugiados
cujo dia foi comemorado pelas Nações Unidas na quinta-feira, dia 20. Outro tema foi
o da fome, outro escândalo, morrer de fome em um mundo que produz o suficiente para
todos os seres humanos. Desta vez o discurso do Papa foi para os participantes da
38ª Conferência da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura,
FAO, que se realizou nesta semana aqui em Roma.
Dois temas que se tocam e dizem
respeito à dignidade do ser humano; o refugiado escapa muitas vezes de situações desumanas,
onde a fome e a violência estão na ordem do dia. Então, para essas pessoas vislumbrar
em outras terras um futuro melhor para si e para a família, se torna um imperativo
de sobrevivência. Os refugiados entram no universo de pessoas que passam fome em nosso
planeta; são cerca de 45 milhões os refugiados que perambulam pelas estradas do mundo,
metade dos quais procedentes de somente cinco países: Afeganistão, Somália, Iraque,
Síria e Sudão. Os famintos e desnutridos são quase 1 bilhão, ou seja um em cada 6
habitantes do planeta passa fome.
As soluções possíveis para combater a fome
são muitas, e não se limitam ao aumento da produção de alimentos. O Papa Francisco,
na audiência geral de quarta-feira, recordou que se sabe que a produção de alimentos
é suficiente e mesmo assim existem milhões de pessoas que sofrem e morrem de fome:
isto – reafirmou - constitui um verdadeiro escândalo. É necessário encontrar modos
para que todos se possam beneficiar dos frutos da terra, não só para evitar que aumente
o abismo entre quem tem mais e quem deve se contentar com as migalhas, mas, sobretudo
por uma exigência de justiça e de equidade e de respeito por cada ser humano. Justiça
e equidade que tanto pede e espera o Papa Francisco. Justiça e equidade também para
aquelas famílias de refugiados, muitas vezes obrigadas a deixarem apressadamente a
sua casa e a sua pátria e a perder todos os bens e segurança para evitar violências,
perseguições, ou graves discriminações devido à religião professada, à pertença a
um grupo étnico, às suas ideias políticas. Somam-se a tudo isso os perigos da viagem
em busca de uma terra de paz e de futuro; vemos isso no Mar Mediterrâneo, que banha
a Europa, África e Oriente Médio, onde pobres deserdados acabam perecendo na tentativa
de cruzar o mar para chegar às terras européias. E quando chegam conhecem ainda muitas
vezes a insensibilidade e a incompreensão daqueles que deveriam ajudá-los e acolhê-los.
Os
temas da fome e dos refugiados caminham juntos, e nos chamam a atenção para situações
de que o ser humano muitas vezes é visto somente como número, como estatística, como
“descarte” de uma sociedade opulenta que vira o rosto para outro lado. O homem deve
voltar a ser o centro da atenção de qualquer atitude, seja ela do governo, da sociedade,
do indivíduo; as explorações e especulações, principalmente financeiras, que condicionam,
por exemplo, o preço dos alimentos, tratam o homem como qualquer outra mercadoria,
esquecendo o seu valor primário.
O Papa Francisco nos propõe para superar
esta situação que a pessoa e a dignidade humana sejam consideradas pilares sobre os
quais constituir regras e estruturas, combatendo interesses econômicos míopes, corrupção
e lógicas de poder que desagregam a sociedade. Vivemos não somente uma crise financeira,
mas também uma crise de convicções e de valores. Eis que brota então o convite aos
homens de boa vontade para que não sejam insensíveis em relação a quem sofre, passa
fome, é refugiado, porque “neles está impresso o rosto de Cristo”. Um convite a sermos
verdadeiramente cristãos. (Silvonei José)