A atual crise não pode ser álibi para descuidar o respeito da pessoa e da sua dignidade:
Papa Francisco à Conferência da FAO
“A pessoa e a
dignidade humana não podem continuar a ser tratadas como uma abstracção”; urge contrastar
“os interesses económicos míopes e a lógica de poder de uns poucos, que excluem a
maioria da população mundial”: advertiu o Papa Francisco, recebendo nesta quinta-feira,
no Vaticano, os participantes na trigésima oitava sessão anual da FAO – o organismo
das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, que tem a sua sede em Roma.
Falando em espanhol, o Santo Padre considerou que “não se pode continuar a invocar
como álibi a actual crise global, da qual aliás não se poderá sair enquanto não se
tomarem em consideração as situações e condições de vida à luz da dimensão da pessoa
humana e da sua dignidade”. Ora, sublinhou o Papa , “a pessoa e a dignidade humana
correm o risco de se converterem numa abstracção, perante questões como o uso da força,
a guerra, a desnutrição, a marginalização, a violação das liberdades fundamentais
ou a especulação financeira, que neste momento condiciona o preço dos alimentos, tratando-os
como uma mercadoria qualquer e esquecendo o seu destino primário”. “No actual
contexto internacional, há que propor a pessoa humana e a dignidade humana… como os
pilares sobre os quais construir regras partilhadas e estruturas que, superando o
pragmatismo e o mero dado técnico, sejam capazes de eliminar as divisões e colmatar
as diferenças existentes.” Qualquer reforma autêntica corresponde a uma “tomada
de consciência da responsabilidade de cada um, reconhecendo que o próprio destino
está ligado ao dos outros”. A todos se pede “uma abertura do coração”, para “superar
o desinteresse” e “prestar atenção, com urgência, às necessidades imediatas, confiando
ao mesmo tempo que amadureçam no futuro os resultados da acção de hoje”. Neste
Dia Mundial do Refugiado, o Papa aludiu também à situação da “erradicação do seu próprio
ambiente de pessoas, famílias e comunidades” em razão das graves crises alimentares,
para além das que são causadas por desastres naturais ou por conflitos sangrentos”.
“É uma dolorosa separação que não se limita à terra natal, mas que se estende
também ao âmbito existencial e espiritual, ameaçando e por vezes destruindo as poucas
certezas que tinham. Este processo, que já se tornou global, requer que as relações
internacionais restabeleçam esta referência aos princípios éticos que as regulam e
redescubram o autêntico espírito de solidariedade”.