Rabino Skorka fala sobre sua amizade com o Papa Francisco
Cidade do Vaticano (RV) - Na Audiência Geral desta quarta-feira, com o Papa
Francisco, estava presente um grupo de judeus e cristãos que nesses dias participa,
em Castel Gandolfo, de um encontro para o aprofundamento da dimensão espiritual do
diálogo, promovido pelo Movimento dos Focolares.
Dentre os membros do grupo
estava o responsável pelo Seminário Rabínico Latino-americano de Buenos Aires, Rabino
Abraham Skorka, que entrevistado pela nossa emissora falou sobre sua amizade com o
Papa Francisco, uma amizade que nasceu quando o Cardeal Bergoglio era arcebispo da
capital argentina.
Rabino Skorka:"Trata-se de uma amizade muito
forte. Uma amizade muito sincera em que oferecemos uma mensagem para a comunidade
de Buenos Aires e para toda a humanidade. Uma mensagem de diálogo, de busca de conhecimento,
de elevação espiritual pelo fato de caminharmos juntos. Não foi por acaso que escrevemos
juntos um livro sobre diálogo e também não foi por acaso que gravamos 30 programas
para o canal do Arcebispado. Isto é a conseqüência da aproximação de um em relação
ao outro. Foi o resultado do compromisso profundo que temos para com os valores bíblicos,
as palavras de nossos profetas, e digo nossos: os profetas judeus, os profetas comuns.
Tudo isso, tendo em mente, que os sentimentos perdem o significado se permanecem apenas
nas palavras e intenções, porque a coisa mais importante é transformá-los em ação,
mostrar que se está comprometido com o outro e com o próximo, ou seja, com todos aqueles
que nos circundam. Quando nos reuníamos e conversávamos sobre coisas pessoais, imediatamente
surgia a pergunta: "Bem, qual é o nosso próximo projeto? O que podemos fazer para
deixar uma marca na vida? Essas marcas que não se cancelam chamadas de 'marcas indeléveis,
uma marca no espírito, no espírito das pessoas. É como se tudo o que ele diz, no âmbito
dos valores, em suas pregações, discursos e homilias fossem aulas para dar forma a
este desejo. Este é o caminho que fazemos juntos. Eu o convidei duas vezes ao templo
da minha comunidade, à sinagoga, para que nos desse a sua mensagem antes do Ano Novo
Judaico. Ele me convidou para ensinar no seminário que forma os futuros sacerdotes,
e para muitas outras coisas."
O que o Papa Francisco representa para
o senhor em relação ao diálogo judaico-cristão?
Rabino Skorka: "Para
mim, a pessoa de Bergoglio, meu caro amigo, porque me demonstrou constantemente sua
amizade leal, é um desafio. O desafio de tentar compreender mais profundamente o momento
histórico do Povo de Israel em que, de um lado emerge o judaísmo rabínico, e de outro,
a primeira comunidade cristã. Ao analisar as fontes talmúdicas nas quais aparecem
as histórias e as circunstâncias do diálogo entre os sábios do Talmude e os líderes
da primeira comunidade cristã, podemos ver um diálogo muito, muito especial. De alguma
forma deve, e eu sinto, recriar-se com ele esse tipo de diálogo. Este é o nosso desafio
e isso pode responder ao enorme momento de crise espiritual que a humanidade está
vivendo hoje." (MJ)