Dom Brito escreve carta aos presbíteros brasileiros
Brasília (RV) - A Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada
da CNBB enviou uma mensagem aos presbíteros do Brasil por ocasião da Jornada de Santificação
Sacerdotal que será celebrada nesta sexta-feira, dia 7, na solenidade do Sagrado Coração
de Jesus. A Mensagem é assinada por Dom Pedro Brito Guimarães, Arcebispo Metropolitano
de Palmas e Presidente da Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada.
Eis
a íntegra do texto:
Meus queridos presbíteros do Brasil, Tenho Sede! “Vinde
a mim, todos vós que estais cansados e carregados de fardos, e eu vos darei descanso.
Tomai sobre vós o meu jugo e sede discípulos meus, porque sou manso e humilde de coração,
e encontrareis descanso para vós” (Mt 11,28-29). Caros irmãos, a Comissão para
os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada sente-se no dever de saudá-los, cordial
e fraternalmente, por ocasião do Dia Mundial de Oração pela Santificação dos Sacerdotes,
anualmente celebrado na solenidade do Sagrado Coração de Jesus. A Igreja realiza este
Dia Mundial de Oração com a finalidade de ajudar os presbíteros a aprofundar a união
com Jesus Cristo e com os irmãos e as irmãs, na fidelidade aos compromissos assumidos
na ordenação presbiteral. “A vocação sacerdotal é um dom de Deus, que constitui certamente
um grande bem para aquele que é o seu primeiro destinatário. Mas é também um dom para
a Igreja inteira, um bem para a sua vida e missão (CNBB, Doc. 93, nº 104). Por isto,
neste dia, as comunidades, a quem servimos pastoralmente, são convocadas a rezar conosco
e por nós para a nossa santificação. Estamos em plena vigência da mudança de época.
Tudo muda rapidamente, até mesmo na vida e no ministério presbiteral. No entanto,
uma coisa permanece para sempre: a nossa configuração com Jesus Cristo (Cf. PDV 5).
O sacramento da ordem nos configura e nos incorpora a Jesus Cristo, santo, misericordioso,
manso e humilde de coração. Quem é ordenado entra numa ordem, a ordem presbiteral.
Esta configuração e esta incorporação nos candidatam à santidade, enquanto presbíteros.
“Do ser configurado com Cristo decorre um agir conforme ao de Cristo” (CNBB, Doc.
93, nº 50). A nossa missão, irmãos, enquanto ministros ordenados têm seus segredos,
seus encantos e suas paixões. O segredo da vocação presbiteral está no encantamento
por Jesus, por sua Igreja e pelo seu povo. Ninguém segue fielmente, por muito tempo,
a alguém por quem não tenha encantamento. O segredo da fidelidade presbiteral radical
está no encantamento por Jesus, por sua pessoa e por seu projeto de vida. O segredo
do seguimento missionário está no encantamento pelo estilo e pelo modelo de vida missionária
de Jesus. O segredo da vida missionária está na capacidade de se encantar ou se reencantar
cada dia, de começar sempre de novo, sem olhar para trás. Quem assim não vive, a chama
da vocação se apaga, a vida perde o sentido, vira rotina e dificilmente se mantém,
por muito tempo, na missão. Como os apóstolos, tornamo-nos discípulos missionários
de Jesus, deixando barcos, redes, pátria, família e projetos pessoais. Às vezes, após
um tempo de caminhada, a vida de fé é invadida por uma crescente insensibilidade;
os valores evangélicos vão perdendo sentido; a oração vai se tornando árida e fatigante;
os compromissos apostólicos ou sociais vão perdendo a novidade; experimentam-se desilusões
e fracassos; e o pior, a escuridão que nos leva para longe do Senhor. A oração,
no entanto, constante e bem feita faz milagre. Jesus diz que há alguns demônios que
só podem ser expulsos pela oração (Mc 9,29). Vejamos o exemplo do sacerdote Zacarias
que, em meio à crise que o levou à mudez, decorrente do não acreditar na promessa
de gerar um filho, mesmo na velhice, compôs este cântico que rezamos todas as manhãs,
nas laudes da Liturgia das Horas: “...de conceder-nos que, libertos do inimigo, a
ele nós sirvamos sem temor, em santidade e justiça diante dele, enquanto perdurarem
nossos dias” (Lc 1,72-74). A oração o salvou da mudez e da esterilidade. A busca
da santidade deve ser uma constante em nossa vida. Renovar cada dia o compromisso
com Jesus, optando pelo radicalismo do evangelho de forma mais lúcida e madura, leva-nos
à santidade. Esta não deve ser buscada por motivos emocionais e psicológicos e sim
pela configuração a Jesus Cristo, Homem de oração. É a santidade que nos conduz à
pobreza e ao compromisso solidário com os pobres e excluídos da sociedade. Para se
viver esta santidade, é necessário que a cada dia aconteça em nós a conversão pessoal
e pastoral. Somos santos, à medida que nos deixarmos conduzir pelo Senhor na fé, na
cruz e na esperança. O cuidado da vida espiritual, o qual nos afasta da tibieza,
deve ser um dever que infunde fé, esperança e alegria. Os fiéis têm sede de presbíteros,
homens de Deus, conselheiros, mediadores de paz, amigos fiéis e prudentes, guias seguros
em quem confiar nos momentos duros da vida para encontrar conforto e segurança. O
Documento de Aparecida lembra que "o povo de Deus sente a necessidade de presbíteros
discípulos: que tenham profunda experiência de Deus, configurados com o coração do
Bom Pastor, dóceis às orientações do Espírito, que se nutram da Palavra de Deus, da
Eucaristia e da oração; de presbíteros missionários: movidos pela caridade pastoral
que os leve a cuidar do rebanho a eles confiado e a procurar os mais afastados pregando
a Palavra de Deus, sempre em profunda comunhão com seu Bispo, com os presbíteros,
diáconos, religiosos, religiosas e leigos; de presbíteros servidores da vida: que
estejam atentos às necessidades dos mais pobres, comprometidos na defesa dos direitos
dos mais fracos, e promotores da cultura da solidariedade. Também de presbíteros cheios
de misericórdia, disponíveis para administrar o sacramento da reconciliação” (DAp
199). Na homilia da missa crismal, na quinta feira-santa, o papa Francisco disse
que “as pessoas agradecem-nos porque sentem que rezamos a partir das realidades da
sua vida de todos os dias, as suas penas e alegrias, as suas angústias e esperanças.
E, quando sentem que, através de nós, lhes chega o perfume do Ungido, de Cristo, animam-se
a confiar-nos tudo o que elas querem que chegue ao Senhor: ‘Reze por mim, padre, porque
tenho este problema’, ‘abençoe-me, padre’, ‘reze para mim’… Estas confidências são
o sinal de que a unção chegou à orla do manto, porque é transformada em súplica -
súplica do povo de Deus. Quando estamos nesta relação com Deus e com o seu povo e
a graça passa através de nós, então somos sacerdotes, mediadores entre Deus e os homens”. Temos,
portanto, três campos ou três espaços para o nosso trabalho que nos fazem homens de
três lugares: o púlpito e o altar, de onde distribuímos o pão da palavra e o pão da
Eucaristia; o confessionário, de onde exercemos o ministério do perdão; e a estrada,
onde gastamos nossa vida em busca das ovelhas perdidas. Caríssimos, o nosso querido
papa Francisco nos quer “pastores com cheiro das ovelhas”. Ele também diz preferir
uma “Igreja acidentada por sair de si, do que uma doente por fechar-se em si mesma”. Que
Deus Pai renove em nós, presbíteros, o Espírito de santidade, com o qual fomos ungidos,
e renove também nossas mentes e nossos corações para que o povo sinta que somos discípulos
missionários de Jesus Cristo, comprometidos com o evangelho da vida e da santidade. Unamo-nos,
rezemos uns pelos outros e contemos também com a oração do povo para permanecermos
firmes na fé, na oração e na missão para sermos pastores segundo o Coração de Jesus. Palmas,
19 de maio de 2013 Festa de Pentecostes
Dom Pedro Brito Guimarães Arcebispo
metropolitano de Palmas e Presidente da Comissão para os Ministérios Ordenados
e a Vida Consagrada